25/05/2018

Aplicar a teoria da evolução aos humanos é complicado

Redação do Diário da Saúde
Aplicar a teoria da evolução aos humanos é complicado
Será que podemos prever a evolução biológica da vida?
[Imagem: CC0 Creative Commons/Pixabay]

Evolução humana

Será que a teoria da evolução darwiniana consegue explicar as mudanças que estão ocorrendo com o ser humano?

Foi o que um grupo internacional de pesquisadores se propôs a responder - e a resposta não é tão simples ou direta quanto muitos gostariam.

A questão se justifica porque, ao longo dos últimos quatro séculos, a ecologia humana, os estilos de vida e as histórias de vida mudaram dramaticamente.

Essa transição para a modernidade também alterou as principais causas da morte humana. Por exemplo, as doenças infecciosas prevalentes na infância deram lugar a doenças crônicas associadas ao envelhecimento.

Naturalmente, como todos nós deveremos morrer, se algumas causas de morte diminuírem, outras devem aumentar proporcionalmente. No entanto, pela teoria darwiniana, as diferenças crescentes entre as circunstâncias para as quais nossos genes se adaptaram e nosso novo ambiente também deveriam desempenhar um papel importante. Era essa comprovação que os pesquisadores estavam procurando.

Genes que fazem tanto bem quanto mal

Uma das explicações para o envelhecimento é que, em parte, ele é causado pelo efeito combinado de muitos genes que são benéficos quando jovens, mas têm efeitos adversos em idades mais avançadas. Os genes podem influenciar uma variedade de características e também podem se expressar de maneira diferente à medida que envelhecemos, algo conhecido como pleiotropia. E "pleiotropia antagonista" descreve genes que podem ter efeitos benéficos e prejudiciais, dependendo da situação.

Embora sempre associemos a evolução biológica com "melhorias adaptativas", o que parece ter ocorrido é que a evolução por seleção natural fez com que a pleiotropia antagônica se espalhasse pela população porque os benefícios recebidos quando jovens podem superar as desvantagens evolutivas na velhice. Algumas variantes do gene BRCA1, por exemplo, são benéficas para a fertilidade, mas as mulheres portadoras de uma dessas variantes do BRCA1 terão mais chances de desenvolver câncer de mama por volta dos 90 anos de idade.

"É claro que algumas mutações que beneficiam a fertilidade têm sido favorecidas pela seleção natural, apesar dos altos custos na velhice. Parece provável que esses genes tenham contribuído para o aumento das doenças crônicas nas sociedades modernas, mas ainda é incerto se esses genes são a principal causa desse aumento ou apenas um pequeno fator contribuinte," pondera o professor Jacob Moorad, da Universidade de Edimburgo (Escócia).

Não espere pela evolução biológica

Se os genes só dão algumas pistas incertas, o impacto evolucionário da vida contemporânea na saúde humana é ainda mais difícil de estabelecer: a mudança evolutiva muitas vezes exige muitas gerações para deixar um traço inequívoco em nosso genoma.

De fato, ao levantar toda a pesquisa científica feita até agora sobre evolução e envelhecimento, a equipe encontrou indícios "sugestivos, mas ainda não esmagadores" de que a seleção natural, o motor da evolução, está mudando de rumo em nossos tempos modernos. Vários estudos em populações pré e pós-industriais apontam, por exemplo, para uma seleção em direção a um período prolongado de fertilidade das mulheres.

Aplicar a teoria da evolução aos humanos é complicado
Ver a evolução em andamento entre os seres humanos é mais difícil do que os cientistas gostariam.
[Imagem: Max Pixel/Duke University]

Mas a conexão está longe de ser direta.

"Temos que ser cautelosos aqui", ressalta o professor Stephen Stearns, da Universidade de Yale (EUA), que participou do estudo. "Mudanças na biologia humana são guiadas por dois processos não exclusivos. O ambiente impacta diretamente como nossos genes são expressos: A má nutrição na infância pode causar, por exemplo, uma atrofia do crescimento. Mas o ambiente também molda a seleção natural. A seleção natural pode fazer alguns genes mais - e outros menos - frequentes na população ao longo do tempo: A intolerância à lactose em adultos, por exemplo. É tentador apontar para a seleção natural quando observamos uma mudança particular; no entanto, especialmente quando as mudanças ocorreram recentemente, é mais provável que a expressão genética tenha mudado, em vez de os próprios genes terem se adaptarem a um novo ambiente."

"Estudos futuros e desenvolvimentos metodológicos poderão nos ajudar a esclarecer até que ponto a doença crônica e a expressão genética estão ligadas e se a seleção natural começa a neutralizar o aumento da carga de doenças crônicas. É absolutamente essencial estabelecer grandes estudos de coorte multigeracionais para criar evidências claras," concordou Stephen Corbett, do Centro de Saúde da População da Austrália.

Alexandre Courtiol, do Instituto Leibniz (Alemanha), também coautor do levantamento, acrescenta: "Esperar que a seleção natural se adapte [] ao nosso ambiente moderno é ineficiente. Também pode não funcionar, já que o ambiente moderno muda a um ritmo muito alto. A resposta mais racional ao aumento das doenças crônicas é mudar o nosso ambiente social e os nossos estilos de vida de uma forma que melhor nos atenda. Todos sabemos a receita: durma mais, coma menos porcarias, esteja regularmente ativo e polua menos. Verdade, isto é difícil de implementar, mas espero que não seja impossível."

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