10/09/2010

Maior atividade pode prevenir demência em idosos

Júlio Bernardes - Agência USP
Maior atividade pode prevenir demência em idosos
A pesquisa mostrou que idosos que realizavam mais atividades cognitivas na inclusão do estudo tiveram menor declínio cognitivo.
[Imagem: Ag.USP]

Saúde do idoso

Pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) traçaram um perfil da prevalência e incidência de demência entre idosos de uma região pobre de São Paulo.

Os resultados mostram que a baixa escolaridade e renda estão entre os principais fatores de risco que podem levar a doença.

Ao mesmo tempo, verificou-se que a realização de atividades cognitivas simples, como trabalhos manuais, pode diminuir o risco de demência nos idosos.

Os estudos fazem parte de um programa de investigação sobre saúde do idoso, com ênfase na saúde mental, o São Paulo Ageing & Health Study (SPAH), coordenado pelos professores Marcia Scazufca e Paulo Rossi Menezes, da FMUSP, e envolveram idosos com 65 anos ou mais, na região Oeste da cidade de São Paulo.

Por meio de questionários padronizados para estudar população com pouca escolaridade e baixa renda, 2.072 idosos passaram por avaliação cognitiva, do estado mental e de diversos fatores de risco para demência, como características sociodemográficas e saúde.

Escolaridade e demência

Na primeira fase do estudo foram identificados 105 casos de demência, o que equivale a uma prevalência de demência de 5,1%.

"É uma prevalência alta, semelhante à registrada na Europa", destaca a pesquisadora Marcia Scazufca. "A maior parte dos idosos entrevistados tinha menos de 75 anos, enquanto nos países europeus eles se situam em faixas etárias mais elevadas (75 anos ou mais), sendo que a idade é o principal fator de risco conhecido para a demência".

A partir das informações levantadas, foi investigada a associação entre indicadores de desvantagem socioeconômica ao longo da vida e prevalência de demência.

"Na literatura científica, vários estudos apontam uma relação entre menor escolaridade e maior risco de demência", diz Marcia. Entre os idosos pesquisados, 38% não tem escolaridade (analfabetos), 52% tem um a três anos de estudo e 9% possuem quatro anos ou mais. Dois terços nasceram em zonas rurais, o que dificultou o acesso à escola. Metade teve ocupações braçais ao longo da vida. Esses fatores levaram cerca de um terço da população estudada a ter renda mensal de menos de um salário mínimo. "Entre os idosos que tiveram mais desvantagens socioeconômicas ao longo da vida, o riso de demência foi cerca de sete vezes maior do que os idosos que não expostos a estes fatores de risco".

Prevenção da demência

Em uma terceira investigação, avaliou-se o possível papel da alfabetização, ocupação e renda na prevenção da demência. "A partir da fração atribuída na população estimou-se que 22% dos casos de demência seriam evitados caso todos os idosos pesquisados fossem alfabetizados, número que subiria para 29% se tivessem renda mensal maior do que um salário mínimo na época do estudo, e para 38% se tivessem realizado ocupações com algum grau de especialização", afirma a pesquisadora. "Se nenhum idoso fosse exposto a esses três fatores de risco, cerca de 50% dos casos de demência teriam sido evitados", acrescenta.

Dois anos após a primeira avaliação os idosos foram entrevistados novamente. Os pesquisadores verificaram se a participação em 42 atividades, divididas entre atividades sociais, cotidianas, cognitivas, físicas, assistir TV e ouvir rádio, estava associada com o desempenho cognitivo e o surgimento de novos casos de demência dois anos após a primeira avaliação (incidência de demência). "Entre os 1.243 idosos reavaliados, 99% praticavam algum tipo de atividade social, 95% faziam alguma atividade cotidiana, 63% realizavam atividades cognitivas e 49% atividades físicas", aponta a pesquisadora.

Atividades cognitivas e físicas

"Verificou-se que os idosos que realizavam mais atividades tiveram menor declínio no funcionamento cognitivo dois anos após a inclusão deles no estudo. A maior participação em atividades também esteve associada a um menor risco de desenvolver demência neste período", acrescenta Marcia.

Quanto ao tipo específico de atividade desenvolvida, a pesquisa também mostrou que idosos que realizavam mais atividades cognitivas na inclusão do estudo tiveram menor declínio cognitivo no seguimento, o que incluía trabalhos manuais, em madeira e metal, costuras (tricô, crochê), frequentar aulas, utilizar o computador, cantar, tocar música e jogar sozinhos, ler e escrever.

A pesquisadora recomenda que políticas públicas estimulem a participação dos idosos em todas as atividades, particularmente nas cognitivas. "Embora parte da população idosa brasileira não seja alfabetizada e não possa ler e escrever, há outras atividades simples que podem estimular e preservar as funções cognitivas e com isso possivelmente prevenir ou retardar o aparecimento da demência, como os trabalhos manuais", ressalta. "Os resultados da pesquisa complementam as conclusões de outros estudos com idosos que têm acesso a atividades sofisticadas e que requerem alto poder aquisitivo, pois mostram que não apenas as atividades cognitivas sofisticadas, como ir ao teatro ou ler um romance, podem prevenir ou retardar o aparecimento da demência".

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