11/05/2020

Butantan usa biotecnologia em busca de vacina contra covid-19

Com informações da Agência Fapesp
Butantan usa biotecnologia em busca de vacina contra covid-19
Pesquisadores do Butantan combinam técnicas de biotecnologia para formular vacina contra covid-19, acoplando os antígenos do SARS-CoV-2 com uma membrana de bactéria para criar defesa contra o vírus.
[Imagem: Gerd Altmann/Pixabay]

Biotecnologia contra covid-19

Pesquisadores do Instituto Butantan vão combinar técnicas inovadoras de biotecnologia para formular uma nova vacina contra covid-19. O objetivo é induzir no organismo, de modo mais efetivo, diferentes tipos de resposta imunológico contra o novo coronavírus SARS-CoV-2.

A nova estratégia é inspirada em um mecanismo usado por algumas bactérias para "despistar" nosso sistema imune: elas liberam pequenas esferas, chamadas vesículas ou membranas, feitas com o material de suas membranas como iscas para desviar a defesa do organismo.

Essas membranas têm a propriedade de ativar intensamente o sistema imunológico e, por isso, atraem células e moléculas da defesa do organismo.

Os pesquisadores vão aproveitar esse artifício das vesículas de membrana e acoplar a elas proteínas encontradas na superfície do novo coronavírus.

Criadas em laboratório, essas vesículas atrairiam a defesa imune contra as proteínas de superfície do SARS-CoV-2, induzindo uma memória a ser mobilizada no caso de uma eventual infecção. A formulação estimularia não só a produção de anticorpos, mas também de outras células ligadas ao sistema imune, como macrófagos e glóbulos brancos.

"Para essa abordagem, juntamos duas estratégias diferentes que já vínhamos utilizando no desenvolvimento de vacinas contra outras doenças. A nova técnica permite que as formulações contenham uma grande quantidade de um ou mais antígenos do vírus em uma plataforma fortemente adjuvante, induzindo uma resposta imune mais pronunciada," explicou Luciana Cezar Cerqueira Leite, do Instituto Butantan.

Vacina acelular

O estudo explora uma plataforma já usada no desenvolvimento de vacinas para coqueluche, pneumonia, tuberculose e esquistossomose, com base em técnicas desenvolvidas para a BCG recombinante, usada para prevenir formas graves de tuberculose em crianças.

"No mundo todo, e aqui no Brasil também, estão sendo testadas diferentes técnicas. Muitas delas têm como base o que já estava sendo desenvolvido para outros vírus, como o que causou o surto de SARS em 2001. Esperamos que funcionem, mas o fato é que ninguém sabe se vão realmente proteger. Neste momento de pandemia, não é demais tentar estratégias diferentes. A nossa abordagem vai demorar mais para sair, mas, se aquelas que estão sendo testadas não funcionarem, já temos os planos B, C ou D," disse a pesquisadora.

Muitas vacinas consistem em soluções com o patógeno morto ou atenuado. São as chamadas vacinas celulares que, ao serem injetadas no indivíduo, têm por objetivo desenvolver a resposta imune contra o microrganismo, como anticorpos específicos e outras células de defesa de modo seguro, sem sofrer as consequências da doença. Dessa forma o indivíduo fica imunizado, tendo uma "memória de combate" do próprio sistema imune contra um determinado patógeno.

Diferentemente dessas abordagens, o grupo do Butantan propõe o desenvolvimento de uma vacina acelular, que conta apenas com fragmentos moleculares do patógeno: as proteínas recombinantes de antígenos da superfície do coronavírus, que têm o papel de deflagrar a produção de anticorpos específicos contra o SARS-CoV-2, e as vesículas de membrana externa, que servem como suporte para que a partícula mimetize o vírus.

"As vacinas celulares são formas simples, e com frequência eficazes, de se obter um imunizante, porém, essas abordagens nem sempre funcionam, principalmente para patógenos com grande variabilidade antigênica ou organismos mais complexos, com mecanismos de evasão do sistema imune mais sofisticados," diz a pesquisadora.

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