06/01/2012

Metodologia auxilia na determinação de cirurgia para cardiopatias congênitas

Com informações da Agência Fapesp

Sofrimento desnecessário

Uma nova metodologia desenvolvida por pesquisadores do Instituto do Coração (InCor) ligado à USP, permite avaliar crianças e adolescentes portadores de cardiopatia congênita e identificar aqueles que têm mais risco de morrer ou de sofrer complicações graves se submetidos à cirurgia corretiva.

Além de evitar um sofrimento desnecessário para esses jovens e seus familiares, o objetivo do trabalho é otimizar os recursos da instituição, reduzindo custos e a fila de espera.

Atualmente, há cerca de 560 pacientes com cardiopatias congênitas aguardando tratamento cirúrgico no InCor.

O tempo de espera depende da gravidade do paciente, mas pode chegar a mais de dois anos, de acordo com a fisioterapeuta Emilia Nozawa, coordenadora da pesquisa, realizada por Angela Sachiko Inoue.

Teste de caminhada

As pesquisadoras idealizaram um conjunto de testes para medir, entre outros indicadores, a capacidade cardíaca submetida ao esforço e à função pulmonar.

Em seguida, identificaram algumas variáveis que podem interferir positiva ou negativamente no resultado do procedimento cirúrgico.

Participaram da pesquisa 81 jovens com idade entre 7 e 18 anos, avaliados em três momentos: antes da cirurgia, no dia da alta hospitalar e 90 dias depois de deixar o hospital.

Cinquenta pacientes completaram as três fases do estudo. Cinco morreram e quatro ficaram internados no hospital por um tempo maior que os 30 dias previstos. Os outros 22 não retornaram para a terceira avaliação.

Todos eles fizeram o teste de caminhada de 6 minutos (TC6M), que avalia quantos metros o paciente consegue andar durante esse tempo. Foi medida a saturação de oxigênio no organismo antes e após o esforço e o grau de cansaço.

Os pacientes também foram submetidos à espirometria, para avaliar a função pulmonar, e a um exame que mede a pressão inspiratória (PImax) e a pressão expiratória (PEmax), ou seja, a força muscular do sistema respiratório para contrair e relaxar.

Foi medida também a variação da frequência cardíaca e da pressão arterial. A coleta de dados começou em janeiro de 2009 e foi concluída em junho de 2011.

"Os pacientes que andavam menos que 422 metros no pré-operatório, tinham pequena variação do batimento cardíaco e saturação de oxigênio menor que 95% foram os que morreram ou ficaram muito tempo internados na UTI por causa das complicações", disse Nozawa.

"São pacientes de alto risco que necessitam de mais atenção no momento da decisão cirúrgica. Nesses casos, a proposta cirúrgica deveria ser repensada pelos médicos e familiares", disse.

Outro indicador que se mostrou importante durante a pesquisa foi o índice de massa corporal (IMC). Em média, os jovens tinham IMC de 17,9 - considerado normal acima de 18,5. "Os pacientes com IMC mais baixo foram os que mais apresentaram complicações infecciosas no pós-operatório", disse a pesquisadora.

Cuidados paliativos

Na opinião de Nozawa, a melhor indicação para os casos de alto risco são os cuidados paliativos. "O longo tempo de internação desestrutura as famílias, onera muito o hospital e não permite a rotatividade de pacientes. Além disso, essas crianças sofrem demais e, no final, acabam morrendo", afirmou.

Segundo ela, é um problema que tende a se tornar cada vez mais frequente. Com a evolução da medicina, mais recém-nascidos com cardiopatia congênita chegam à adolescência e à idade adulta.

"É muito comum nesses casos fazer apenas uma cirurgia paliativa quando a criança nasce. Os médicos então esperam a criança ganhar peso e ficar mais forte para fazer a cirurgia definitiva. Mas algumas pessoas passam por duas e até três operações e nunca ficam curadas", contou.

Nozawa ressalta que a avaliação da gravidade de um conjunto de alterações tão diversificada é muito difícil, mas necessária e com implicações terapêuticas importantes.

"Os médicos do InCor já estão adotando essa metodologia para planejar o tratamento dos pacientes e isso já começou a mudar a rotina por lá. A ideia pode ser expandida também para outros hospitais", disse Nozawa.

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