29/08/2013

Pesquisador controla movimento de colega através do pensamento

Redação do Diário da Saúde

Usando uma interface neural, Rajesh Rao enviou um sinal cerebral que fez com que o dedo de Andrea Stocco se movesse sozinho.

Os dois são pesquisadores da Universidade de Washington (EUA), onde foi realizado o experimento pioneiro e histórico.

Eles estavam em laboratórios diferentes, e o sinal neural foi enviado por meio de uma conexão da internet.

Telepatia artificial

Este é o primeiro experimento demonstrando a viabilidade daquilo que os pesquisadores chamam de "telepatia artificial", a comunicação mente a mente usando a tecnologia como meio de transmissão.

Há alguns meses, a equipe do brasileiro Miguel Nicolelis fez história ao usar uma interface neural para interligar o cérebro de animais.

Agora, o mesmo foi feito com sucesso entre dois seres humanos.

"A internet foi uma maneira de conectar computadores e, agora, ela pode se tornar uma maneira de conectar cérebros," disse Stocco. "Queremos pegar o conhecimento de um cérebro e transmiti-lo diretamente de cérebro a cérebro."

Na verdade, essa pretensão de transmitir conhecimento está longe de se tornar realidade - o que os pesquisadores fizeram foi transmitir registros motores, intenções de movimento, e não ideias ou memórias.

Pesquisador controla movimento de colega através do pensamento
Rajesh Rao, à esquerda, joga mentalmente um videogame, enquanto Andrea Stocco, à direita, recebe o sinal dos movimentos mentais de Rao - mas seu dedo move-se de forma real.
[Imagem: University of Washington]

Conexão cérebro a cérebro

No experimento, um dos pesquisadores (Rao) usou um capacete com sensores ligados a um equipamento de eletroencefalografia, que lê a atividade elétrica do cérebro.

O outro pesquisador (Stocco), localizado em outro laboratório na mesma universidade, usava um capacete de natação onde estavam marcados os pontos equivalentes à posição dos sensores no capacete de Rao.

Esses pontos eram alvos para uma bobina de estimulação magnética transcraniana, que ativa áreas específicas do cérebro - neste caso, o córtex motor, que controla o movimento das mãos.

A equipe usou uma conexão Skype para coordenar as ações entre os dois laboratórios, embora nem Rao e nem Stocco pudessem ver as telas dos computadores - o que poderia fazê-los imitar os movimentos um do outro.

Rao olhou para a tela do computador e jogou mentalmente um jogo simples. Quando ele deveria disparar um canhão em um alvo, ele imaginou mover a mão direita para clicar no botão de disparo, tomando cuidado para não mover realmente sua mão.

Quase instantaneamente, Stocco, que usava fones de ouvido com cancelamento de ruído e não olhava para a tela de computador, involuntariamente moveu seu dedo indicador direito para empurrar a barra de espaço no teclado à sua frente dele, como se estivesse disparando o canhão.

Stocco comparou a sensação de mover seu dedo involuntariamente com a de um tique nervoso.

Pesquisador controla movimento de colega através do pensamento
Este é o esquema lógico da experiência. Sinais do cérebro do "remetente" são gravados. Quando o computador detecta movimentos imaginados da mão - a mão não se move de fato - um comando de "fogo" é transmitido pela internet para a máquina TMS, o que provoca um movimento da mão direita do "receptor".
[Imagem: University of Washington]

Emocionante e assustador

"Foi ao mesmo tempo emocionante e assustador ver uma ação imaginária do meu cérebro ser traduzida em uma ação efetiva por um outro cérebro," disse Rao.

"Este foi basicamente um fluxo unidirecional de informações do meu cérebro para o dele. O próximo passo é ter uma conversação mais equitativa, nos dois sentidos, diretamente entre os dois cérebros," completou.

Mas o pesquisador alerta esta tecnologia só lê certos tipos simples de sinais cerebrais, não os pensamentos de uma pessoa. E não dá a ninguém a capacidade de controlar suas ações contra a sua vontade.

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