02/12/2019

Descoberto mecanismo de infecção do vírus Mayaro

Com informações da Agência Fapesp
Descoberto mecanismo de infecção do vírus Mayaro
A identificação da estratégia usada pelas células imunes para combater o vírus abre caminho para o desenvolvimento de fármacos contra o mayaro.
[Imagem: Peter Lane/Fiona McConnell/Wellcome Collection]

Inflamassoma

A febre do Mayaro é uma arbovirose (doença transmitida por mosquito) semelhante à causada pelo vírus chikungunya. Os sintomas incluem febre, manchas avermelhadas na pele, dor de cabeça e muscular. Os casos mais severos também apresentam artralgia (dor nas articulações que pode ou não ser acompanhada de edema).

Recentemente, o patógeno ultrapassou as fronteiras da floresta amazônica e passou a circular também na região Sudeste. Dois casos foram registrados em Niterói (RJ) e outros dois em São Carlos (SP).

Agora, uma equipe do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias, ligado à USP, descreveu pela primeira vez o mecanismo de infecção do vírus mayaro, abrindo caminho para o desenvolvimento de terapias específicas para tratar sua infecção.

O mecanismo envolve complexos proteicos existentes no interior das células de defesa, conhecidos como inflamassoma. Quando essa maquinaria celular é acionada, moléculas pró-inflamatórias passam a ser produzidas para avisar o sistema imune sobre a necessidade de enviar mais células de defesa ao local da infecção.

O inflamassoma também está envolvido em doenças autoimunes, neurodegenerativas, alguns tipos de câncer e outras doenças infecciosas, incluindo o zika e chikungunya.

Fármacos em teste

No caso do vírus mayaro, Luíza de Castro-Jorge e seus colegas descobriram que a maquinaria celular do inflamossoma é acionada por meio da ativação da proteína NLRP3, aumentando assim a produção da citocina inflamatória interleucina-1 beta (IL-1β, sinalizadora do sistema imune). A ativação do inflamassoma NLRP3 decorre do fato de o vírus induzir a produção de espécies reativas de oxigênio e a saída de potássio do interior das células para o meio extracelular.

Em experimentos com camundongos que não expressavam a proteína NLRP3, o grupo confirmou que essa molécula está envolvida com inchaço, inflamação e dor nas patas do animal infectado.

"Além dos experimentos em cultura celular e no modelo animal, também comparamos os resultados com o soro sanguíneo de pacientes infectados por mayaro no Mato Grosso. Eles apresentavam níveis elevados de Caspase-1 ativa, IL-1β e interleucina-18 em comparação com indivíduos saudáveis, o que indica a atuação do inflamassoma NLRP3 na resposta inflamatória durante a infecção pelo mayaro em humanos," detalhou o professor Dario Zamboni.

A boa notícia é que, entre vários tipos de inflamassoma, o NLRP3 é o mais estudado. "Já existem drogas sendo testadas para a inibição do gene NLRP3, o que futuramente poderia ser uma alternativa para tornar a doença menos grave em pacientes," disse Zamboni.

De acordo com Luíza, o mayaro é considerado um vírus emergente e, a qualquer momento, pode causar grandes surtos no Brasil.

O vírus é transmitido para humanos por meio de picadas do mosquito silvestre infectado do gênero Haemagogus, o mesmo da febre amarela silvestre.

Checagem com artigo científico:

Artigo: The NLRP3 inflammasome is involved with the pathogenesis of Mayaro virus
Autores: Luiza A. de Castro-Jorge, Renan V. H. de Carvalho, Taline M. Klein, Carlos H. Hiroki, Alexandre H. Lopes, Rafaela M. Guimarães, Marcílio Jorge Fumagalli, Vitor G. Floriano, Mayara R. Agostinho, Renata Dezengrini Slhessarenko, Fernando Silva Ramalho, Thiago M. Cunha, Fernando de Q. Cunha, Benedito A. L. da Fonseca, Dario S. Zamboni
Publicação: PLoS ONE
DOI: 10.1371/journal.ppat.1007934
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