15/09/2012

Estudo científico dá luz verde para sistema de cotas raciais na universidade

Com informações da Universidade Emory

Empenho nos estudos

O sistema de cotas raciais aumentou a proporção de estudantes negros de baixa renda em uma das principais universidades do país, sem que esses estudantes diminuíssem seus esforços para serem bem-sucedidos no vestibular e em sua formação.

O estudo, que analisou o sistema de cotas raciais na Universidade de Brasília, foi realizado por Maria Tannuri-Pianto em conjunto com cientistas da Universidade de Emory (Estados Unidos).

"Os críticos de políticas de ação afirmativa frequentemente argumentam que tornar mais fácil para as pessoas entrarem na faculdade reduziria o incentivo para que elas dessem duro academicamente. Esse argumento não resiste aos nossos dados," disse Andrew Francis, coautor do estudo.

Ação afirmativa

A ação afirmativa está em vigor há décadas nos Estados Unidos, mas permanece controversa, especialmente no que diz respeito ao ensino superior.

Alguns estados norte-americanos têm tomado medidas para enfraquecer a política, que não inclui cotas raciais.

Segundo os pesquisadores, o Brasil oferece um "ambiente diverso e vibrante" para estudar como os incentivos afetam a educação e a situação socioeconômica quando a população é segmentada por raça.

O Brasil recebeu muito mais africanos durante a escravidão do que a América do Norte - daí o interesse dos cientistas norte-americanos em nosso sistema de cotas raciais, uma vez que, mesmo em menor número, os negros norte-americanos continuam em desvantagem socioeconômica e educacional em relação às outras raças.

"Por muito tempo, o Brasil foi conhecido como uma democracia racial com pouca discriminação, mas pesquisas em ciências sociais nas últimas décadas têm mostrado que essa visão estava incorreta," comentou Francis. "Geralmente, quanto mais escura for sua pele no Brasil, menos educação e dinheiro que você tem. O Brasil é um país de contrastes absolutos."

Sistema de cotas raciais

O Brasil está apenas começando a adotar ações afirmativas de inclusão.

Em 2004, a Universidade de Brasília tornou-se a primeira universidade federal a ter um sistema de cotas raciais.

A fim de realizar uma análise comparativa, os pesquisadores examinaram dois vestibulares antes do sistema de cotas ser promulgado, e três vestibulares seguintes à implementação.

A universidade colaborou com os pesquisadores, dando-lhes acesso à pontuação de admissão, notas e outras informações pertinentes.

Como o sistema de cotas é atribuído por autodeclaração - o candidato deve dizer-se negro - os cientistas idealizaram um sistema de aferição em que as fotos dos candidatos foram mostradas a um painel que avaliou a raça de cada um deles, atribuindo cada um a uma escala de sete tons de pele.

Os resultados mostraram que a política racial impulsionou os números de estudantes de pele mais escura em geral, de 5,6% para 9%.

Os candidatos aprovados tinham piores condições socioeconômicas do que os candidatos que perderam a vaga - aqueles que ficaram abaixo da nota de corte, mas que tinham nota mais elevada do que os estudantes negros admitidos.

Análise do empenho nos estudos

Para analisar o empenho nos estudos dos beneficiados pelas cotas raciais, os pesquisadores analisaram se os estudantes fizeram cursinho, quantas vezes eles fizeram vestibular e se tentaram cursos de maior concorrência, como medicina e direito.

"Com base em nossas análises desses fatores, não há qualquer evidência de que os estudantes tenham reduzido seus esforços devido às cotas raciais," disse Francis.

Os pesquisadores também fizeram uma análise comparativa das notas.

"A política [de cotas raciais] não impactou as notas dos estudantes negros," disse Francis. "Há algumas disparidades raciais antes e depois, com os estudantes negros em média tendo menores notas do que os estudantes brancos, mas a política não exacerbou essa diferença."

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