26/08/2010

Identificado fator genético para doença de Stephen Hawking

Agência Fapesp
Identificado fator genético para esclerose lateral amiotrófica
Cientistas descobrem que mutações em um gene chamado ataxina-2 podem contribuir para o desenvolvimento da esclerose lateral amiotrófica, doença neurodegenerativa incurável.
[Imagem: Nature]

Síndrome complexa

Um novo fator genético de risco para o desenvolvimento da esclerose lateral amiotrófica acaba de ser identificado por um estudo internacional liderado por cientistas da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos.

A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma doença degenerativa progressiva e fatal, de causas ainda pouco conhecidas. Trata-se de uma síndrome complexa caracterizada pela degeneração dos neurônios motores.

Os autores do estudo utilizaram levedura e moscas-das-frutas como modelos, relacionando os resultados com os obtidos no sequenciamento do DNA humano, e encontraram evidência de que mutações no gene ataxina 2 representam um fator que contribui para a manifestação da doença.

Risco genético

Mais especificamente, a pesquisa mostrou que expansões do aminoácido glutamina no gene ataxina-2 estão associadas com um aumento no risco para a ELA.

O gene contém um trato poliglutamínico, uma porção da proteína na qual o aminoácido é repetido muitas vezes. Ao analisarem o DNA de 915 pessoas com ELA, os pesquisadores observaram que, em alguns deles, uma mutação no ataxina-2 fez com que a poliglutamina se esticasse.

Expansões de tamanho intermediário (com entre 27 e 33 glutaminas) foram associadas de forma significativa com a esclerose lateral amiotrófica, respondendo por 4,7% dos casos da doença. Parece pouco, mas, com isso, essa mutação específica se torna o marcador de risco genético mais comum para a doença de que se tem notícia.

Não há, atualmente, cura para a doença. A identificação de interações patológicas entre ataxina-2 e TDP-43, outra proteína associada à ELA, juntamente com a forte ligação genética das expansões do ataxina-2 com a síndrome, poderão ajudar no desenvolvimento de biomarcadores e, eventualmente, de novas terapias, apontam os autores.

Análises feitas em modelos de levedura e mosca-das-frutas, bem como em células humanas, confirmaram que a ataxina-2 é um poderoso modificador da TDP-43. O estudo mostrou que as duas proteínas se interagem em modelos animais e celulares, promovendo a patogênese.

Neurônios motores

Os resultados indicaram uma ligação entre os genes e a doença. Quando os pesquisadores direcionaram a expressão da TDP-43 para o olho das moscas, observaram o início de um processo degenerativo e progressivo ligado à idade.

Quando a expressão foi direcionada para os neurônios motores, os insetos experimentaram uma perda progressiva de mobilidade. Quanto mais elevados os níveis de ataxina-2, mais alta era a toxicidade da TDP-43, resultando em uma degeneração mais severa.

"Como a redução dos níveis de ataxina-2, tanto em levedura como em moscas, foi capaz de prevenir alguns dos efeitos tóxicos da TDP-43, achamos que isso poderá ser investigado como um novo alvo terapêutico para a ELA", disse Aaron Gitler, da Universidade da Pensilvânia, um dos coordenadores da pesquisa.

Doença de Stephen Hawking

A esclerose lateral amiotrófica também é conhecida como doença do neurônio motor, doença de Charcot (Jean-Martin Charcot, neurologista francês que a descreveu em 1869) ou doença de Lou Gehrig, jogador de beisebol do início do século passado cuja carreira foi encerrada precocemente por causa da síndrome.

O ator inglês David Niven (1910-1983), o músico norte-americano Charles Mingus (1922-1979) e o físico Stephen Hawking são outros conhecidos portadores de ELA.

No Brasil, o atacante Washington César Santos, que jogou no Atlético Paranaense, Fluminense (tendo sido campeão brasileiro em 1984) e na Seleção Brasileira, é portador da doença.

Os resultados da pesquisa foram publicados na edição desta semana da revista Nature.

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