24/01/2018

Festas religiosas explicam porque mais bebês nascem em Setembro?

Redação do Diário da Saúde
Festas religiosas explicam porque mais bebês nascem em Setembro?
"Os nossos resultados sugerem que os ciclos de reprodução humana dependem do estado de espírito coletivo das sociedades."
[Imagem: CC0 Public Domain/Pixabay]

Ciclo de reprodução

Existe um estado de espírito específico associado a celebrações religiosas, e este "estado amoroso" pode influenciar a reprodução humana.

Essa é a conclusão de uma equipe de cientistas do Instituto Gulbenkian de Ciência (Portugal) e da Universidade de Indiana (EUA).

A equipe, liderada por Joana Gonçalves Sá e Luís Rocha, afirma que fatores culturais, e não biológicos, como se pensava anteriormente, estão por trás dos ciclos de reprodução.

Nos países ocidentais do hemisfério norte nascem mais bebês em setembro do que nos outros meses do ano. Isto significa que mais bebês são concebidos em dezembro e que a reprodução humana tem um padrão cíclico.

Até agora, os cientistas acreditavam que o pico nas concepções se devia a uma adaptação biológica aos dias curtos e frios de inverno, uma vez que nos países do norte o solstício de inverno ocorre em dezembro. Contudo, a inexistência de dados precisos de diferentes partes do mundo não permitia testar esta hipótese.

"É relativamente fácil encontrar registros de nascimento fiáveis em países ocidentais do hemisfério norte, mas isso não é necessariamente verdade no resto do mundo. Isto tem enviesado as análises feitas, limitando-as a uma região e cultura, e condicionando fortemente o nosso conhecimento do mundo. No entanto, hoje em dia todos usam a internet e as redes sociais, independentemente da sua localização ou cultura. Esta realidade está gerando dados muito úteis para investigação", explicou Joana Sá.

Tradições culturais

A equipe usou então dados do Google Trends e do Twitter, que lhes permitiram acompanhar ao longo de uma década os estados de espírito e os comportamentos online de pessoas de diferentes países, do hemisfério norte e do sul, e em diferentes tradições culturais, tanto cristãs como muçulmanas.

Os pesquisadores constataram que pesquisas online relacionadas com sexo seguem um padrão cíclico que se correlaciona com um estado de espírito específico, tendencialmente "amoroso", detectado independentemente no Twitter.

Estes padrões cíclicos são mais semelhantes entre países que partilham a mesma tradição cultural do que entre países com a mesma localização geográfica. Países como a Austrália ou o Brasil, por exemplo, têm padrões semelhantes quando comparados com países do hemisfério norte como Portugal, Alemanha ou EUA. Por outro lado, os padrões da Turquia ou do Egito diferem daqueles encontrados noutros países do hemisfério norte, mas têm um comportamento online semelhante à Indonésia, um país muçulmano do hemisfério sul.

Festas religiosas explicam porque mais bebês nascem em Setembro?
Não parece ser o inverno que explica o calor do amor que aumenta os nascimentos em Setembro.
[Imagem: UGR]

"Nós demonstramos que, em nível mundial, existem picos de interesse sexual que coincidem com certas celebrações religiosas, levando a um aumento nas taxas de nascimento 9 meses depois. Uma vez que estas celebrações acontecem na mesma data tanto no hemisfério norte como no sul, acreditamos que as tradições culturais, e não a geografia, são responsáveis por estes estados de espírito", disse Luís Rocha.

Disposição para amar

Nos países cristãos, essa "disposição para amar" é maior por volta do Natal, tal como as pesquisas online relacionadas com sexo, enquanto que, nos países muçulmanos, um comportamento semelhante surge durante as festividades religiosas do Eid-al-Fitr (celebração que marca o fim do jejum do Ramadã) e Eid-al-Adha (Grande Festa, que sucede a realização da peregrinação a Meca).

"Os nossos resultados sugerem que os ciclos de reprodução humana dependem do estado de espírito coletivo das sociedades. O Natal e o Eid-al-Fitr são feriados religiosos orientados para a família, que geram nas pessoas um estado de espírito mais feliz e calmo, o que provavelmente resulta num maior interesse por sexo," disse Joana Sá.

"Este é um caso onde as redes sociais e dados de pesquisa online nos ajudaram a resolver uma questão que tem estado em debate no meio científico há muitos anos. Este novos ‘macroscópios' online nos ajudam a olhar para a sociedade em grande escala, e isto vai mudar a forma como estudamos o comportamento humano," disse Luís Rocha.

Os resultados foram publicados na revista Nature Scientific Reports.

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