30/04/2010

Genoma de rã é um salto na pesquisa de doenças humanas

Agência Fapesp
Genoma de rã é um salto na pesquisa de doenças humanas
O genoma da rã abre a possibilidade de estudar os efeitos dos disruptores hormonais nos níveis molecular e genômico. Elas já são utilizadas em testes de gravidez.
[Imagem: Science/AAAS]

Doenças em humanos

O primeiro sequenciamento do genoma de um anfíbio é o destaque da edição desta sexta-feira (30/4) da revista Science. O grupo internacional de cientistas responsável pelo trabalho publicou o resultado do sequenciamento do genoma de uma rã encontrada na África, a Xenopus tropicalis.

O anuro em questão, segundo os pesquisadores responsáveis pelo sequenciamento, é um importante modelo para o desenvolvimento dos vertebrados.

Genes ancestrais

A sequência apresentada contém mais de 20 mil genes codificadores de proteínas, incluindo genes semelhantes de pelo menos 1,7 mil causadores de doenças em humanos.

"Até o momento, foram sequenciados diversos animais com pelos, mas poucos outros vertebrados. Ter um catálogo completo dos genes de Xenopus, ao lado dos genes de humanos, ratos, camundongos e galinhas, nos ajudará a remontar o conjunto dos genes ancestrais dos vertebrados", disse Richard Harland, professor da Universidade da Califórnia em Berkeley e um dos autores da pesquisa.

Disruptores hormonais

"O genoma da Xenopus abre a possibilidade de estudar os efeitos dos disruptores endócrinos nos níveis molecular e genômico", disse Uffe Hellsten, do Joint Genome Institute em Walnut Creek, primeiro autor do artigo.

Disruptores endócrinos são substâncias químicas - a maior parte derivada da poluição - que imitam os hormônios dos anuros. Sua presença em corpos d'água pode, de acordo com os cientistas, ser parcialmente responsável pelo declínio das populações de sapos, rãs e pererecas em todo o mundo.

"Esperamos que o conhecimento dos efeitos desses disruptores hormonais possa ajudar a preservar a diversidade dos anuros. Como esses produtos químicos também afetam o homem, esse conhecimento poderá ter um efeito positivo na saúde humana", disse Hellsten.

Testes de gravidez

Xenopus, que significa "pé estranho", é um gênero de mais de 20 espécies de anuros nativas da África subsaariana. Quando os biólogos descobriram que tais anfíbios eram sensíveis à gonadotrofina coriônica humana (HCG), eles passaram a ser usados em testes de gravidez a partir da década de 1940.

Ao injetar urina de uma mulher em um exemplar de Xenopus, caso ela esteja grávida a rã ovulará e produzirá ovos em menos de 10 horas. Posteriormente, os cientistas verificaram também o importante valor desses pequenos anfíbios - que cabem na palma da mão - no próprio estudo do desenvolvimento embrionário.

Genoma completo

Quando o Joint Genome Institute decidiu sequenciar o genoma de um anuro, a comunidade internacional recomendou o X. tropicalis, e não o muito mais conhecido X. larvis, porque o genoma do primeiro tem a metade do tamanho do segundo e seu sequenciamento seria mais rápido e com menor custo.

Um esboço do genoma do X. tropicalis já estava disponível à comunidade científica, mas o novo artigo é a primeira análise do genoma completo.

Humanos, galinhas e sapos

De acordo com os autores do estudo, a comparação de regiões em torno de genes específicos do anfíbio com o do homem e da galinha mostrou que eles são muito semelhantes, o que indica um alto nível de conservação da organização ou da estrutura dos cromossomos.

"Quando olhamos para alguns segmentos do genoma da Xenopus, estamos literalmente observando estruturas com 360 milhões de anos e que foram partes do genoma do último ancestral comum de todas as aves, anfíbios, dinossauros e mamíferos que passaram pela Terra", disse Hellsten.

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