29/09/2014

Herança epigenética é documentada ao longo de gerações

Redação do Diário da Saúde
Herança epigenética é documentada ao longo de gerações
As marcas epigenéticas podiam ser vistas ao microscópio, permitindo que os pesquisadores acompanhassem sua passagem de pais para filhos.
[Imagem: Laura J. Gaydos]

O "paradigma epigenético" avança cada vez mais sobre territórios antes exclusivos do "paradigma genético".

Hoje já se sabe que as experiências de vida dos pais deixam marcas nos filhos e que as alterações epigenéticas, e não apenas as genéticas, podem causar câncer.

As modificações epigenéticas não afetam a sequência dos genes no DNA, mas alteram o modo como o DNA é empacotado e como os genes são expressos.

Isto significa que pressões ambientais podem causar mudanças na expressão gênica que são transmitidas pelos pais para seus filhos.

Repressão dos genes

Agora, pesquisadores documentaram em detalhes como espermas e ovos transmitem uma memória genética para os embriões emergentes, demonstrando experimentalmente que a genética não é tudo.

O estudo, publicado na revista Science, centrou-se em uma modificação epigenética bem estudada - a metilação de uma proteína chamada histona H3, que é parte do envoltório do DNA. A metilação do aminoácido lisina 27 na histona H3 desliga, ou "reprime", os genes, e esta marca epigenética já foi encontrada em todos os animais multicelulares, dos humanos até os vermes C. elegans, os mais estudados nesta área.

"Há um debate ainda em curso sobre se a marca da metilação pode ser transmitida através das divisões celulares e através das gerações, e nós mostramos agora que ela é transmitida," disse Susan Strome, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz.

Herança epigenética transgeracional

A equipe de Strome criou C. elegans com uma mutação genética que desativa a enzima responsável por fazer a marca de metilação e, em seguida, cruzou-os com vermes normais.

Conforme os embriões se desenvolviam, as células replicavam seus cromossomos e se dividiam. Os pesquisadores constataram que, quando um cromossomo com a marca da metilação se replicava, os dois cromossomos filhos ficavam ambos marcados. Mas, sem a enzima necessária para a metilação das histonas, as marcas vão ficando progressivamente diluídas a cada divisão celular.

"O interessante é que, quando acompanhamos os cromossomos ao longo das divisões celulares, os cromossomos marcados permaneciam marcados porque a enzima restaurava a marca, mas os cromossomos sem marca ficavam sem marca, divisão após divisão", disse Strome. "Isso mostra que o padrão de marcas que foi herdado está sendo transmitido através de várias divisões celulares."

A pesquisadora ressalta que a "herança epigenética transgeracional" ainda não é um campo totalmente conhecido, e que somente novas pesquisas desvendarão esses mecanismos.

"Há dezenas de potenciais marcadores epigenéticos. Nos estudos que documentam a herança epigenética de pai para filho não está claro o que está sendo transmitido, e entender isso molecularmente é muito complicado. Temos agora um exemplo específico de memória epigenética que é transmitida, e podemos vê-la no microscópio. É uma peça do quebra-cabeças," disse ela.

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