14/03/2018

Ineficácia da vacina contra gripe pode ser questão imunológica

Com informações do Centro Médico da Universidade de Chicago
Ineficácia da vacina contra gripe pode ser questão imunológica
A eficácia da vacina contra a gripe pode ser ainda pior se ela for tomada de mau humor.
[Imagem: CC0 Public Domain/Pixabay]

Vacina contra a gripe e imunidade

Uma nova pesquisa sobre por que a vacina contra a gripe está-se mostrando apenas modestamente eficaz nos últimos anos mostrou que o histórico imunológico com a gripe influencia a resposta de uma pessoa à vacina.

Algumas vezes, as cepas de gripe escolhidas para a vacina não representam adequadamente as cepas que acabam circulando entre o público, o que acontece especialmente nos anos em que a cepa H3N2 predomina.

Mas a culpa pela baixa eficácia da vacina contra a gripe é mais frequentemente atribuída a problemas na forma como a vacina foi projetada e é produzida. A maioria das vacinas contra a gripe administradas em todo o mundo é cultivada em ovos, o que pode fazer com que o vírus sofra mutações e se diferencie das cepas circulantes.

Mas, em um estudo que acaba de ser publicado na revista Clinical Infectious Diseases, pesquisadores das universidade de Chicago e Harvard (EUA) demonstraram que são as respostas imunes muito fracas - e não as adaptações dos vírus aos ovos - que podem explicar a baixa eficácia da vacina deste ano.

"As adaptações aos ovos têm efeitos variáveis," explicou a Dra Sarah Cobey. "Às vezes elas têm importância e às vezes não, mas o que parece fazer a maior diferença é o histórico imunológico [do paciente]".

Pecado original antigênico

O que está em jogo parece ser um fenômeno que os cientistas chamam de "pecado original antigênico".

As vacinas contra a gripe são projetadas para fazer o sistema imunológico produzir anticorpos que reconheçam as cepas específicas dos vírus com os quais a pessoa poderá entrar em contato em um determinado ano. Esses anticorpos visam pontos específicos do vírus, e grudam neles para desativar o vírus. Uma vez que o sistema imunológico já possua anticorpos para atingir um determinado ponto no vírus, ele preferencialmente reativa as mesmas células imunes na próxima vez que encontrar o mesmo patógeno.

Isso é eficiente para o sistema imunológico, mas o problema é que o vírus sempre muda de ano para ano apenas ligeiramente. O ponto que os anticorpos reconhecem ainda pode estar lá, mas ele pode não ser mais crucial para neutralizar o vírus. Os anticorpos produzidos devido ao nosso primeiro encontro com a gripe - seja de vacinas ou de infecções com o próprio vírus - tendem a prevalecer sobre os anticorpos gerados por inoculações posteriores. Assim, mesmo quando a vacina tem uma boa equivalência para um determinado ano, se alguém tiver um histórico com a gripe, a resposta imune a uma nova vacina pode ser menos protetora.

Essa história pode ser complicada por um fator adicional, que ainda está por ser totalmente explicado: A vacina pode estar induzindo uma resposta imune fraca em muitos que a recebem.

"Nós vimos tanto pessoas vacinadas quanto não vacinadas que foram infectadas com vírus da gripe similares, e a vacina não provocou uma forte resposta imune na maioria das pessoas em nosso estudo," acrescentou Yonatan Grad, coautor do trabalho.

Alternativa? Vacinas diferentes

Isso não quer dizer que as adaptações aos ovos nos quais as vacinas são produzidas são sejam importantes sempre. Em um estudo separado, uma equipe liderada por pesquisadores da Universidade da Pensilvânia descobriu que as adaptações aos ovos causaram desajustes na vacina mais comum aplicada na estação 2016-17, outra estação dominada pelo H3N2.

As adaptações aos ovos poderão ser um fator importante também durante a temporada de gripe deste ano, que está batendo recordes no hemisfério norte. O H3N2 é novamente a cepa predominante, deixando as pessoas doentes com mais gravidade, e a vacina mais comum é a mesma do ano passado, com suas adaptações aos ovos potencialmente problemáticas.

Assim, de acordo com a equipe, é preciso buscar alternativas se as autoridades de saúde pretendem gastar dinheiro público em vacinas realmente eficazes.

Uma dessas alternativas são novas vacinas produzidas sem ovos, quer em células de insetos ou em células de rim de cães, que são muito menos propensas a desenvolver mutações que podem torná-las menos protetoras contra a gripe - ainda que a equipe ressalte que as mutações induzidas pelos ovos sejam apenas uma pequena parte do problema.

Além disso, essas vacinas são mais caras, mas os pesquisadores esperam que novas pesquisas e melhoramentos ajudem a mudar essa situação.

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