29/10/2011

Médicos devem ter momento de silêncio e reflexão após morte de paciente

Pauline Chen - BBC
Médicos devem ter momento de silêncio e reflexão após morte de paciente
"Uma pausa de cinco minutos de silêncio nos permitiria dar atenção à nossa própria dor pela morte do paciente, e libertar-nos para nos empenhar completamente com aqueles que continuam conosco."
[Imagem: BBC]

Reflexão silenciosa

A cirurgiã Pauline Chen sugere que médicos e enfermeiros deveriam ser obrigados a fazer uma pausa para reflexão silenciosa quando morre alguém de quem eles estão tratando.

Isto seria bom para os próprios profissionais, segundo ela, e poderia torná-los melhores cuidadores.

Fugindo da dor

Nas enfermarias dos hospitais, nas salas de cirurgia, em clínicas e em unidades de terapia intensiva, deveria haver um silêncio obrigatório de cinco minutos quando um paciente morre.

Os médicos, enfermeiros, e todos os que cuidaram do paciente no final de sua vida, deveriam se reunir ao redor da cama por esses cinco minutos e refletir em silêncio sobre a vida e a morte daquele paciente.

Na minha experiência, há um momento logo depois que o paciente morre, quando a maioria dos cuidadores, particularmente médicos, dispersam rapidamente - se não em presença, ao menos mentalmente.

Nós imediatamente pensamos em ir ver o próximo paciente, em limpar a sala e deixar o corpo pronto para ir para o necrotério.

Qualquer coisa para evitar o confronto com a realidade diante de nós, porque, para aqueles de nós que trabalham nos países mais ricos, um paciente que morre representa nosso fracasso profissional.

Fechamento para os relacionamentos

Vários anos atrás, cuidei de uma jovem mulher que teve um transplante dez anos antes, mas que agora estava hospitalizada por causa de uma série de infecções.

Ela era magra e loira, e me lembro como ela adorava falar sobre os romances que tinha lido, e do jeito que ela levava a mão direita à testa, com a palma virada para fora, para ajeitar o cabelo.

Mas, na noite em que ela teve uma hemorragia que a levou à morte, por uma infecção que tinha corroído uma artéria importante, nenhum de nós parou para se lembrar das conversas animadas sobre literatura que tivéramos.

Em vez disso, logo que ela foi declarada morta, ficamos preocupados em ver o próximo paciente, removendo as manchas do sangue que tinha ido até o teto, e descartar agulhas e seringas usadas espalhadas em sua cama.

Nós não falamos sobre ela, sobre aquela mulher que tinha acabado de morrer no quarto.

Eu pensei muitas vezes no fato de que não parei para recordá-la ou reconhecer seu impacto sobre mim. Não houve um fechamento para o nosso relacionamento, nem um reconhecimento da sua vida ou da minha dor.

Se eu tivesse vivido aqueles momentos depois de sua morte de maneira diferente, talvez os detalhes de sua morte não estivessem congelados na minha mente como eles estão agora, repetindo-se insistentemente.

Talvez, se eu tivesse reconhecido sua morte, eu não tivesse ficado tão para baixo por tê-la perdido, mesmo que eu tenha continuado a cuidar de outros pacientes.

Silêncio obrigatório

Eu acredito que a instituição de uma pausa de cinco minutos de silêncio depois da morte de um paciente mudará a maneira como médicos, enfermeiros e cuidadores abordam a morte.

Primeiro, isto dará um encerramento, assim como respeito, à relação entre o paciente e seus cuidadores.

Segundo, a pausa consciente, o ato de dedicar um tempo, irá estabelecer um ritual. E rituais, consistentemente praticados, oferecem grande conforto nos momentos difíceis.

Finalmente, o silêncio de cinco minutos permitirá que os cuidadores reconheçam seus próprios sentimentos.

Atenção à própria dor

Eu estou convencida de que uma das razões pelas quais os médicos e outros profissionais de saúde não fazem um trabalho melhor cuidando dos pacientes terminais é que nós praticamente não nos damos o tempo para reconhecer nossas próprias reações em relação àqueles que morreram.

Nós negamos esses sentimentos somente para depois acabarmos constrangidos por eles.

Uma pausa de cinco minutos de silêncio nos permitiria dar atenção à nossa própria dor pela morte do paciente, e libertar-nos para nos empenhar completamente com aqueles que continuam conosco.

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