14/09/2010

Nanotecnologia brasileira reduz efeitos colaterais da quimioterapia

Luiza Caires - Agência USP
Nanotecnologia brasileira reduz efeitos colaterais da quimioterapia
Na iontoforese, a corrente elétrica é fornecida por uma bateria e distribuída através da solução que contém a droga com o auxílio de um eletrodo positivo e um negativo.
[Imagem: Ag.USP]

Seis vezes melhor

Uma linha de pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP estuda o uso de novos métodos para aplicação de medicamentos pela pele, em particular na quimioterapia contra o câncer de pele.

Os pesquisadores, liderados pela professora Renata Fonseca Vianna Lopez, encapsularam a droga quimioterápica doxorrubicina em pequenas partículas de gordura (chamadas nanopartículas lipídicas sólidas).

A seguir eles testaram a iontoforese, técnica que envolve a aplicação, próxima à pele, de uma corrente elétrica de baixa intensidade para aumentar a entrada da droga.

Os resultados, segundo Renata, foram animadores, já que a droga chegou em doses seis vezes maiores até as camadas profundas.

Em estudos em cultura de células cancerosas, os pesquisadores observaram ainda que a associação iontoforese nanopartícula aumentou não só a entrada da droga na pele, mas também sua entrada dentro das células tumorais, matando assim mais células doentes.

Maior órgão do corpo humano

A pele é o nosso órgão mais extenso, cobrindo em média dois metros quadrados de superfície. Uma das funções de sua camada externa, chamada de estrato córneo, é justamente limitar a absorção de substâncias tóxicas do ambiente, além de manter estáveis a temperatura e a quantidade de água no organismo.

Mas esta barreira pouco penetrável transforma-se em um problema quando a intenção é fazer dela uma via para aplicação de medicamentos.

Coordenadora dos estudos, a professora Renata Fonseca Vianna Lopez explica que a administração por via endovenosa da droga doxorrubicina, por exemplo, tem que ser feita em altas doses para que o tumor seja atingido, o que provoca muitos efeitos adversos, principalmente no sistema cardíaco do paciente.

O tratamento tópico, por sua vez, levaria o fármaco diretamente ao carcinoma, e deste modo seriam necessárias doses menores.

Iontoforese

Assim, a professora Renata e sua equipe - que inclui alunos de pós-graduação da FCFRP - utilizaram em laboratório a iontoforese, técnica já conhecida, utilizada no tratamento da hiperidrose (suor excessivo), na administração de anestésicos locais, e na pesquisa de transdérmicos envolvendo substâncias diversas.

Na iontoforese, a corrente elétrica é fornecida por uma bateria e distribuída através da solução que contém a droga com o auxílio de um eletrodo positivo e um negativo.

A penetração da substância de interesse pode ocorrer de duas maneiras: por eletrorrepulsão e por eletrosmose. Na eletrorrepulsão os íons positivos da droga são repelidos no eletrodo positivo quando a corrente elétrica é aplicada e, por conseguinte, são empurrados para dentro da pele. Já a eletrosmose é o fluxo de líquido que ocorre durante a iontoforese, que auxilia na penetração de substâncias neutras (sem carga) e de alta massa molecular.

Porém, no caso da doxorrubicina, mesmo com a aplicação da corrente, o medicamento ainda ficava interagindo no estrato córneo, e não ia completamente para as camadas mais profundas da pele, onde se localizam as células cancerosas. Foi então que os pesquisadores tiveram a ideia de encapsular a droga em pequenas partículas de gordura. Dispositivo iontofóretico modelo "E-Trans", da marca Alza

Nanopartículas

A explicação para o bom resultado com as nanopartículas ainda está sendo investigada em outros estudos, dentro da mesma linha de pesquisa. Uma das razões cogitadas é o fato de elas protegerem o fármaco do contato direto com o estrato córneo, diminuindo a interação da droga com essa camada da pele. E a iontoforese atuaria forçando a entrada dessas partículas para camadas mais profundas, carreando o medicamento para o local desejado.

Um outro método para aumentar a penetração de substâncias na pele estudado pela docente, em pós-doutorado realizado no Massaschussets Institute of Technology (MIT), envolve a aplicação simultânea de ultrassom e de um composto tensoativo (substância que influencia na superfície de contato entre dois líquidos) na pele.

Este pré-tratamento, feito antes da aplicação da droga, altera o estrato córneo e facilita a penetração de substâncias. A pesquisadora verificou, juntamente com o grupo dos professores Robert Langer e Daniel Blankschtein, ambos do MIT, que o método consegue fazer com que nanopartículas rígidas cheguem a camadas bem profundas da pele, podendo até atingir a circulação.

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