20/03/2009

Obesidade epidêmica e IMC estão sendo exagerados, diz cientista

Kelli Ferrell
Obesidade epidêmica e IMC estão sendo exagerados, diz cientista
Samantha Kwan afirma que a obesidade está sendo exagerada em benefício das indústrias de alimentos e de medicamentos.
[Imagem: University of Houston]

Outra perspectiva sobre a obesidade

Embora admita que esteja havendo uma mudança no peso corporal ao longo dos anos, a professora Samantha Kwan olha a obesidade a partir de uma perspectiva diferente.

As manchetes nos dizem que a população está cada vez mais gorda e que a obesidade tornou-se uma epidemia. Mas esta não é toda a história, de acordo com a socióloga da Universidade de Houston.

O termo obesidade foi construído pela comunidade médica, afirma Kwan. E a utilização do Índice de Massa Corporal, que mede a obesidade e é considerado o principal fator para definir se uma pessoa é obesa ou não, tem resultado em uma sobrevalorização da obesidade pela mídia.

Epidemia construída

"Esta epidemia tem sido construída para beneficiar a indústria de medicamentos que tem, em parte, 'medicalizado' o tratamento da obesidade ao longo dos anos ", afirma Kwan. "Embora tenha havido um aumento na 'obesidade', o IMC nem sempre é preciso. Alguns pesquisadores descrevem esta epidemia mais como um pânico moral. Embora possam existir algumas verdades no aumento da sua incidência, elas estão sendo exageradas."

Kwan, que vem estudando a questão do gênero e da imagem corporal desde 2001, analisa como as mensagens culturais de beleza sobre a gordura interagem com outras mensagens culturais sobre gordura, tais como os discursos sobre a saúde. Os resultados estão resumidos em seu artigo "Enquadrando o Corpo Obeso: Significados Incoerentes entre Governo, Ativistas e Indústria ", publicado na revista Sociological Inquiry.

"Estou tentando fazer os estudantes e o público compreenderem que existem significados culturais diferentes para a gordura corporal," afirma Kwan. "A gordura não significa, em si mesma, algo pouco saudável e pouco atraente. Estas são construções culturais. Nós, como sociedade, dizemos o que significa ser gordo, e hoje os discursos culturais afirmam que é feio e não é saudável ser gordo. ... É também pressuposto que o corpo é um reflexo da psique, incluindo os valores morais da pessoa."

Autoestima das mulheres

Kwan verificou que a autoestima das mulheres está mais estreitamente ligada ao peso do que a autoestima dos homens.

"As mulheres se preocupam com seu peso e sua aparência, e não quero dizer que elas estão sendo cooptadas por mensagens culturais ", afirma Kwan." Elas não são necessariamente ingênuas culturais com falsa consciência. Elas querem perder peso, ter uma aparência boa, magra e bonita, e se adequar às mensagens sobre o corpo porque há recompensas a serem ganhas e sanções a ser evitadas quando alguém é magro, ou parece ser magro."

Em um outro artigo (Beleza no Trabalho: Prêmios Individuais e Institucionais), publicado na revista Sociology Compass, Kwan e sua colega Mary Nell Trautner, abordam como a atração física está associada com uma série de resultados positivos, incluindo benefícios no trabalho, como contratação, benefícios, salários e promoções, e está correlacionada com recompensas sociais e pessoais, tais como satisfação no trabalho, percepção positiva dos outros e maior autoestima.

"Sentir-se como se fossem pouco atraentes é um grande problema com que as mulheres se defrontam, e muito disso tem a ver com ideais de beleza", afirma Kwan. "Sim, há uma cultura lá fora que diz que as mulheres devem ter um determinado visual. Pesquisas mostram que as promoções e os salários são baseados em parte na aparência da mulher, incluindo o seu peso. As mulheres estão preocupadas com a perda de peso: conformar-se às normas pode trazer benefícios para além de ser saudável. Você pode evitar muito do estigma, e nós sabemos que as mulheres são estigmatizados por terem 'sobrepeso'."

Estratégia da indústria para enganar os consumidores

Novamente, enquanto Kwan afirma que ela acredita que a epidemia da obesidade é exagerada e que precisamos compreender como a gordura corporal e que esta "epidemia" é socialmente construída, ela atribui muitos fatores para o aumento de peso, incluindo a disponibilidade de alimentos rápidos e baratos e a falta de formas viáveis de se exercitar.

"Há muita confusão em relação à informação nutricional e os consumidores muitas vezes recebem mensagens conflitantes sobre dieta e atividade física", diz ela. "Há alguma evidência que a indústria de alimentos algumas vezes usa as mesmas estratégias da indústria do tabaco para enganar os consumidores."

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