19/10/2012

Parto não é motivo para ir para o hospital

Redação do Diário da Saúde

Parto domiciliar

Todos os países deveriam considerar a criação de serviços adequados para dar suporte ao parto em casa.

As autoridades de saúde também devem fornecer às mulheres com gravidez de baixo risco informações que lhes permitam fazer uma escolha bem informada entre dar à luz em casa ou no hospital.

A conclusão não é de um estudo simples, mas de uma Revisão Cochrane, um levantamento que compara todas as pesquisas científicas já realizadas sobre um determinado assunto.

A revisão foi elaborada por Ole Olsen e Aaroe Jette Clausen, da Universidade de Copenhague, na Dinamarca.

Parto planejado

Em muitos países, Brasil inclusive, a imprensa e os especialistas selecionados para entrevistas defendem que a opção mais segura para todas as mulheres é dar à luz no hospital.

O próprio Conselho Federal de Medicina emitiu recentemente um parecer recomendando preferencialmente o parto em hospitais, apesar de admitir, na mesma nota, todos os elementos que dão suporte a uma preferência pelo parto humanizado.

Entretanto, estudos observacionais de qualidade cada vez melhor, e em diferentes contextos, sugerem que o parto domiciliar planejado pode ser tão seguro quanto um parto hospitalar planejado, além de apresentar menos intervenções e menos complicações.

"Como o parto domiciliar está se tornando uma opção atraente e segura para a maioria das mulheres grávidas, ele tem que ser uma parte integrada do sistema de saúde," disse Olsen. "Em várias regiões dinamarquesas o serviço de parto domiciliar tem sido muito bem organizado há vários anos."

Mas os pesquisadores reconhecem que este não é o caso em muitas partes do mundo, onde as condições sanitárias e econômicas impediriam a recomendação do parto em casa.

Intervenções desnecessárias durante o parto

A revisão Cochrane conclui que não há nenhuma evidência forte de estudos experimentais (ensaios clínicos randomizados) para favorecer seja o parto hospitalar planejado, seja o parto domiciliar planejado para mulheres com gravidez de baixo risco.

Isso é verdadeiro quando o parto domiciliar planejado é assistido por uma parteira experiente, com um suporte médico adequado no caso de ser necessária uma transferência para o hospital.

Rotinas e acesso fácil a intervenções médicas podem aumentar o risco de intervenções desnecessárias no nascimento, o que explica por que as mulheres que dão à luz em casa têm uma maior probabilidade de um trabalho de parto espontâneo.

Há de 20 a 60 por cento menos intervenções no parto domiciliar - por exemplo menos cesarianas e menos anestesias epidurais - e de 10 a 30 por cento menos complicações - por exemplo, hemorragia pós-parto e lacerações perineais graves.

Paciência no parto

Os pesquisadores detectaram também um aumento no número de mulheres que planejam um parto domiciliar.

"A paciência é importante se as mulheres querem evitar interferências e dar à luz de forma espontânea," disse Jette Aaroe Clausen. "Em casa, a tentação de fazer intervenções desnecessárias é reduzida. A mulher evita, por exemplo, a monitoração eletrônica de rotina que pode facilmente levar a novas intervenções no nascimento."

Jette Clausen acrescenta que as intervenções no parto são comuns em muitos países, mas também que há uma crescente preocupação internacional porque as intervenções podem levar a efeitos iatrogênicos.

Efeitos iatrogênicos, ou iatrogenia, são as consequências involuntárias de uma intervenção médica.

O monitoramento eletrônico de rotina pode, por exemplo, levar a mais mulheres com ruptura artificial de membranas, o que por sua vez pode levar a mais intervenções.

Direitos humanos

Enquanto as evidências científicas de estudos observacionais vêm crescendo, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos em Estrasburgo enunciou recentemente uma sentença que reforça o apoio ao parto domiciliar.

Na sentença, o tribunal afirmou que "o direito ao respeito pela vida privada inclui o direito de escolher as circunstâncias do nascimento".

Assim, as conclusões da avaliação são baseadas nos direitos humanos e na ética, bem como nos resultados dos melhores estudos científicos disponíveis.

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