23/02/2021

Proteína da gordura marrom pode facilitar a perda de peso

Com informações da Agência Fapesp
Proteína da gordura marrom pode facilitar a perda de peso
A cor vermelha indica maior captação da glicose no tecido adiposo marrom, o que significa aumento da termogênese, a queima da gordura branca.
[Imagem: Carlos Sponton/Unicamp]

Gordura marrom

Desde a descoberta da gordura marrom, ou gordura boa, há pouco mais de 10 anos, os cientistas têm tentado desvendar o mecanismo de ação dessa substância natural do corpo que protege contra inúmeras doenças.

Agora, pesquisadores brasileiros e norte-americanos identificaram uma proteína secretada pelo tecido adiposo marrom que se comunica com o fígado e, assim, favorece a perda de peso, além de melhorar o controle da glicose e dos lipídios em circulação.

Essa descoberta abre caminho para novos tratamentos contra doenças crônicas ligadas ao metabolismo corporal, como obesidade e diabetes tipo 2.

Termogênese

A gordura marrom, que é responsável pela produção do calor corporal nos recém-nascidos, também aumenta o gasto de energia, facilitando a perda de peso. Mais recentemente, estudos mostraram que, assim como a gordura branca, que libera hormônios, o tecido adiposo marrom também libera moléculas com papel regulatório no organismo, para além da produção de calor.

Essa interferência, que mostrou que a gordura marrom é um órgão endócrino que controla o metabolismo, é possível graças às batoquinas - fusão dos termos BAT (de brown adipose tissue) e citocinas.

"São moléculas secretadas pelo tecido adiposo marrom que têm uma ação semelhante à dos hormônios, comunicando-se com outros órgãos," explica o pesquisador Carlos Sponton, principal autor da nova descoberta.

Alterações metabólicas

O que Sponton mostrou é que uma proteína, conhecida como PLTP (sigla em inglês para proteína de transferência de fosfolipídios) também participa do metabolismo energético.

"As alterações metabólicas promovidas fazem com que parte dos lipídios que estão nos tecidos periféricos voltem ao fígado, o chamado transporte reverso", explica Sponton. "O órgão processa o excesso e, como resultado, secreta ácidos biliares."

A secreção de ácidos biliares não é novidade, sendo um processo fisiológico bem conhecido. O curioso é que os pesquisadores notaram que a secreção parece estimular o funcionamento do tecido adiposo marrom. "Ele passa a gerar mais calor e, portanto, captar mais glicose para ter energia para a termogênese," aponta Sponton.

Ativador da gordura marrom

Como o fato de estar mais ativo significa também que está secretando mais proteínas, entre elas a PLTP, o achado indica um círculo virtuoso. "Em suma, o alvo dessa molécula é o próprio tecido adiposo marrom," comenta o cientista.

A expectativa é que a PLTP possa tratar doenças onde o metabolismo lipídico, da glicose ou o peso estão alterados, como é o caso da síndrome metabólica, do diabetes tipo 2 ou da obesidade. "O estudo foi um primeiro passo, onde pudemos conhecer um pouco mais da função da proteína, agora vamos trazer para o contexto fisiológico, ou seja, discutir as possíveis aplicações em humanos," disse Sponton.

A ideia é aplicar a proteína já pronta para realizar suas funções. Assim, será possível controlar dose e quantidade. "A insulina, que também é uma proteína, se vale do mesmo raciocínio," aponta Sponton.

Checagem com artigo científico:

Artigo: The regulation of glucose and lipid homeostasis via PLTP as a mediator of BAT–liver communication
Autores: Carlos H. Sponton, Takashi Hosono, Junki Taura, Mark P. Jedrychowski, Takeshi Yoneshiro, Qiang Wang, Makoto Takahashi, Yumi Matsui, Kenji Ikeda, Yasuo Oguri, Kazuki Tajima, Kosaku Shinoda, Rachana N. Pradhan, Yong Chen, Zachary Brown, Lindsay S. Roberts, Carl C. Ward, Hiroki Taoka, Yoko Yokoyama, Mitsuhiro Watanabe, Hiroshi Karasawa, Daniel K. Nomura, Shingo Kajimura
Publicação: EMBO
Vol.: 21:e49828
DOI: 10.15252/embr.201949828
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