28/10/2008

Relação entre obesidade e antidepressivos é controversa

Thiago Romero
Relação entre obesidade e antidepressivos é controversa
Estudo analisa relação entre medicamentos antidepressivos e ganhos e perdas de peso.
[Imagem: families.com]

Associação entre obesidade e antidepressivos

Apesar de diversos estudos, feitos em diferentes países, indicarem uma associação estreita entre os efeitos colaterais de antidepressivos e o estado nutricional dos pacientes, a mudança de peso atribuída ao tratamento com esses medicamentos ainda é bastante controverso.

É o que aponta uma análise feita pela pesquisadora da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília (UnB), Helicínia Espíndola Peixoto, que avaliou dados da literatura científica segundo os quais é de duas a cinco vezes maior a prevalência da obesidade em pacientes psiquiátricos tratados farmacologicamente, quando comparados à população em geral.

"As alterações no peso corporal em pessoas que tomam antidepressivos são multifatoriais e podem estar relacionadas, além dos diversos efeitos colaterais da droga, à melhora da doença ou à própria sintomatologia da depressão", disse Helicínia à Agência FAPESP.

Ganho e perda de peso

A também pesquisadora do Departamento de Nutrição do Hospital São Vicente de Paulo, vinculado à Secretaria Estadual de Saúde do Distrito Federal e especializado no atendimento de pacientes psiquiátricos, realizou um levantamento nas bases de dados Medline, Lilacs e Cochrane a fim de analisar artigos que descrevem a influência dos antidepressivos tanto no ganho como na perda de peso.

No levantamento, tiveram prioridade os textos relacionados às drogas mais utilizadas nos serviços de saúde no Brasil. Foram encontradas 697 citações de trabalhos, que avaliaram 22 drogas de classes heterogêneas de antidepressivos.

A maioria teve como objetivo avaliar a eficácia, a segurança ou a tolerabilidade de novas drogas. Entre os medicamentos estudados estavam antidepressivos tricíclicos, inibidores seletivos da recaptação da serotonina e antidepressivos de nova geração.

Tempo de uso e dosagem dos medicamentos

Segundo Helicínia, as alterações corporais também podem ser influenciadas por fatores como o tempo de uso e a dosagem dos medicamentos. "Além do tipo de antidepressivo que o paciente utiliza, essas alterações no peso dependem da individualidade bioquímica de cada pessoa, além de outros fatores característicos da própria doença que podem alterar o peso corporal", disse.

Os estudos analisados sobre a fluoxetina, por exemplo, droga antidepressiva freqüentemente utilizada no tratamento da obesidade, mostra que esse medicamento pode ter efeito na inibição do apetite.

"Ao mesmo tempo, em alguns pacientes depressivos, esse efeito pode ser transitório, levando a pequena perda de peso nas primeiras semanas de uso e a efeito contrário após o período, o que reforça os resultados ainda incertos sobre o uso desse tipo de droga para o tratamento da obesidade", destacou.

Efeitos colaterais

Além dos poucos dados conclusivos que relacionam de forma direta os efeitos dos antidepressivos no peso corporal, a pesquisadora ressalta que o eventual ganho de peso devido ao uso prolongado desses medicamentos, sugerido por alguns autores, pode levar o paciente a abandonar o tratamento, gerando efeitos colaterais importantes no tratamento da depressão. "Ao ganhar peso, o paciente pode ficar mais deprimido e parar de tomar remédio", disse.

Em contrapartida, no que diz respeito aos antidepressivos associados à diminuição do apetite, como a fluoxetina, Herlicínia sugere uma avaliação minuciosa do custo-benefício do seu uso como coadjuvante no tratamento da perda de peso.

"Em pacientes portadores de transtornos depressivos, a promoção de hábitos alimentares e o estilo de vida saudáveis continuam sendo os principais instrumentos para garantir o controle de peso e sua manutenção, além de ambos serem protagonistas na prevenção da obesidade", disse.

Depressão

A depressão está entre as dez doenças mais freqüentes no mundo, tendo prevalência, no Brasil, de aproximadamente 17% ao longo da vida de indivíduos adultos. "A obesidade é uma das doenças físicas mais comuns e crônicas na sociedade moderna e a depressão é a condição psicológica mais prevalente", aponta Herlicínia, que também é professora das Faculdades JK, em Brasília.

"Embora haja alta prevalência para essas duas condições, a exploração de qualquer associação entre elas tem sido limitada pelos pesquisadores. O transtorno depressivo, por si só, possui características que podem influenciar no peso, ao mesmo tempo que a obesidade também pode dificultar a adesão ao tratamento farmacológico", disse.

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