02/10/2007

Repelente natural é eficaz contra mosquito da dengue

Murilo Alves Pereira - Agência Fapesp

Fatal contra o Aedes aegypti

Um repelente produzido por pesquisadores da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) pode ser uma nova arma no combate à dengue. O produto, que concentra substâncias de três fontes distintas em uma cápsula biodegradável, mostrou-se fatal para as larvas do mosquito Aedes aegypti, vetor do vírus da doença.

A dengue é um dos principais problemas de saúde pública no mundo, infectando de 50 milhões a 100 milhões de pessoas anualmente, segundo dados da Organização Mundial de Saúde. No Brasil, de janeiro a julho de 2007 foram registrados cerca de 440 mil casos.

Substâncias extraídas de duas plantas

O novo larvicida é uma mistura de substâncias extraídas de duas plantas da família das meliáceas - a andiroba (Carapa guianensis) e o cinamomo (Melia azedarach) -, além de uma terceira substância produzida sinteticamente por pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco.

Segundo a bióloga Onilda Santos da Silva, coordenadora do Grupo de Pesquisa em Imunoparasitologia (Impar) da Unisul, a intenção do projeto é fazer um repelente mais barato, que dificulte a resistência da larva do inseto ao produto e que não acarrete danos ambientais.

Substituto para bactérias importadas

"Atualmente, o Bacilus thuringiensis é utilizado com freqüência para matar o mosquito da dengue. Mas as cápsulas com essa bactéria são importadas e muito caras", disse a pesquisadora à Agência FAPESP. Por se basear em substâncias naturais, o novo larvicida teria um custo mais baixo e seria mais viável para o uso da população.

Onilda cita outros produtos sintéticos, como o Temephós, utilizados no combate ao mosquito. Por terem pouca diversificação de substâncias, a droga facilita a criação de resistência pelo inseto. "Alguns desses produtos são muito tóxicos e podem prejudicar animais não-alvos e trazer malefícios à saúde humana", disse.

Larvicidas

Os projetos para produzir o larvicida, iniciados em 2006, foram recomendados pelo Ministério da Saúde e contam com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Santa Catarina (Fapesc). A previsão é que sejam concluídos em 2009.

As propriedades larvicidas são comuns nas plantas da família meliácea (Meliaceae). O cinamomo é utilizado em larga escala na agricultura em países asiáticos e a neem (Azadirachta indica) também é aplicada no controle de insetos. Quanto à andiroba, sua função larvicida foi descoberta pela própria Onilda em uma pesquisa na Amazônia com um grupo de cientistas estrangeiros.

Cinamomo e andiroba

"Agora, trabalhamos com a associação entre o cinamomo, a andiroba e mais uma substância sintética para produzir o novo repelente", explicou a pesquisadora. Segundo ela, o mosquito dificilmente criaria resistência a uma mistura com diferentes substâncias.

Para chegar à mistura ideal, foram testados vários extratos etanólicos, metanólicos e cetônicos. Os pesquisadores aplicaram cada substância nas larvas e selecionaram, para compor o polímero, as que apresentaram maior efeito em uma menor concentração. Entre elas, a azadiractina (do cinamomo) e a andirobina (da andiroba).

"As plantas têm vários limonóides, mas esses dois foram os mais eficientes", afirmou a bióloga. Limonóides são substâncias químicas que possuem, dentre outras propriedades, a função repelente e que são produzidas como autodefesa das plantas contra os insetos.

Cápsulas biodegradáveis

A intenção é englobar produtos de baixa concentração em cápsulas biodegradáveis, que resistam ao menos uma semana. Gradativamente, as cápsulas se decompõem e liberam o composto no meio ambiente. Onilda faz questão de frisar que as substâncias são inócuas. "Não há problemas, a andiroba é usada em produtos de beleza, e o cinamomo, há tempos, é aplicado na agricultura."

Mosquitos imunes à infecção

Outra pesquisa da equipe de Onilda procura descobrir se alguns espécimes do Aedes aegypti são resistentes à infecção pelo vírus da dengue, não transmitindo a doença. "Nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, apesar de, na maioria das cidades, existir o mosquito, não há casos autóctones da doença".

A pesquisa, ainda na fase inicial, usará a biologia molecular para fazer um estudo genético das populações de mosquito nos dois estados. É comum que ocorra diferenciação genética em insetos da mesma espécie e a previsão é que os mosquitos dos dois estados possuam características distintas dos outros.

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