04/05/2017

Terapia celular contra diabetes não funciona para todos os pacientes

Com informações da Agência Fapesp
Terapia celular contra diabetes não funciona para todos os pacientes
O efeito terapêutico foi menos duradouro em pacientes com maior quantidade de linfócitos capazes de agredir células do pâncreas antes do tratamento.
[Imagem: Wikimedia Commons]

Terapia celular contra diabetes

A terapia celular contra o diabetes pode não ser benéfica para todos os portadores da condição.

Na verdade, o sucesso da terapia depende da condição imunológica do paciente antes do transplante.

Foi o que demonstrou uma pesquisa realizada na Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto (SP).

A terapia celular é uma técnica considerada inovadora para tratar o diabetes tipo 1, baseada no transplante de células-tronco hematopoiéticas retiradas da medula óssea do próprio paciente.

"Como o diabetes tipo 1 é uma doença autoimune, a proposta do tratamento é 'desligar' temporariamente o sistema imunológico com o uso de medicamentos quimioterápicos e, em seguida, 'reiniciá-lo' por meio do transplante autólogo de células-tronco hematopoiéticas, capazes de se diferenciar em todas as células sanguíneas", explica a pesquisadora Maria Carolina Rodrigues, que realizou o estudo juntamente com sua colega Belinda Pinto Simões.

Contudo, enquanto alguns dos voluntários que participaram dos testes da terapia no Brasil permanecem há mais de uma década livres das injeções de insulina, outros voltaram a usar o medicamento poucos meses após receberem o tratamento experimental.

Autodefesa

Segundo as pesquisadoras, a duração do efeito terapêutico foi menor justamente nos pacientes cujos sistemas imunológicos atacavam de forma mais agressiva as células do pâncreas no período anterior ao transplante.

Na média, o efeito terapêutico durou 42 meses (3,5 anos), mas variou, de modo geral, entre seis meses e 12 anos (tempo máximo de seguimento até o momento). Três pacientes ainda continuam livres das injeções de insulina, sendo um deles há 10 anos, outro há 11 anos e um terceiro há 12.

Diversas variáveis foram consideradas, como a idade dos pacientes, o tempo de espera entre o diagnóstico e o transplante, a dose de insulina que tomavam antes do tratamento e, após o transplante, o processo de recuperação dos vários tipos de célula de defesa.

"Em nenhum desses fatores observamos diferença significativa entre os grupos. A única variação relevante foi o grau de inflamação do pâncreas antes do transplante", disse Maria Carolina.

Nova abordagem

No grupo de pacientes que respondeu bem, a terapia celular foi capaz de reequilibrar o sistema imunológico graças ao aumento na proporção de linfócitos T reguladores (T-reg), um tipo de glóbulo branco com papel imunossupressor e que, portanto, ajuda a combater a autoimunidade.

"Já nos pacientes que possuíam maior quantidade de linfócitos autorreativos antes do transplante, esse equilíbrio não ocorreu. Mesmo havendo um aumento na quantidade de T-reg com o tratamento, os linfócitos autorreativos continuaram a se sobressair. O que ainda não sabemos é se são células novas, que se diferenciaram a partir das células-tronco transplantadas, ou se são sobras de linfócitos autorreativos que não foram destruídos pela quimioterapia e voltaram a se multiplicar", disse Maria Carolina.

Dados da literatura científica indicam que a segunda hipótese é a mais provável e, por esse motivo, a equipe iniciou um segundo grupo de estudo no qual os pacientes estão sendo submetidos a uma quimioterapia mais agressiva. O objetivo é evitar que permaneça no organismo qualquer resquício dos linfócitos T autorreativos.

"Quatro pacientes já foram transplantados. Dois deles estão livres de insulina e dois ainda usam o fármaco, mas com dose reduzida. Ainda é cedo para avaliar se o novo protocolo é mais eficaz que o anterior," disse Maria Carolina. "Precisamos agora mostrar que o método é seguro para poder incluir pacientes mais jovens, que representam a grande maioria dos portadores de diabetes do tipo 1."

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