23/06/2012

Para ser um vencedor, aprenda com os perdedores

Redação do Diário da Saúde

Questão de sorte

Devemos resistir à tentação de aprender e tentar imitar as pessoas mais bem-sucedidas.

Mais do que isso, um novo estudo dá fortes razões pelas quais os vencedores - os mais ricos - deveriam pagar mais impostos, além de explicar por que premiar os melhores desempenhos leva a crises e escândalos econômicos recorrentes.

Pessoas bem-sucedidas não gostam de ter o seu sucesso explicado pela sorte.

O público, também, parece pouco disposto a reconhecer o papel da sorte na determinação do sucesso dessas estrelas.

Como resultado, as histórias dos mais bem-sucedidos atraem muito mais a atenção da mídia.

Essas pessoas excepcionais são percebidas como sendo as mais habilidosas, e assim recebem as maiores recompensas e são imitadas.

Excepcionalidades

No entanto, a ideia de que as pessoas com desempenho excepcional sejam as mais qualificadas é falsa, de acordo com Chengwei Liu, professor da Universidade de Oxford.

Isto porque o desempenho excepcional só ocorre em circunstâncias excepcionais, que não se repetirão para o séquito de seguidores e imitadores.

Os mais bem-sucedidos são muitas vezes as pessoas mais sortudas, que se beneficiaram da dinâmica "ricos ficam cada vez mais ricos" para impulsionar sua fortuna inicial.

O exemplo de Bill Gates

Considere um sujeito que largou a faculdade e acabou sendo a pessoa mais rica do mundo.

Sim, Bill Gates. Ele pode ser muito talentoso, mas seu sucesso extremo talvez nos diga mais sobre como circunstâncias fora de seu controle criaram esse fenômeno de sucesso.

Dito de outra forma, o que é mais excepcional neste caso pode não ser o talento de Gates, mas as circunstâncias nas quais aconteceu de ele estar inserido.

Por exemplo, um curso permitiu que Gates ganhasse experiência em programação de computadores quando menos de 0,01% de sua geração tinha acesso a computadores.

E a conexão social de sua mãe com o presidente da IBM permitiu-lhe obter um contrato com a empresa então líder na área dos PCs, gerando um efeito de associação que foi crucial para o estabelecimento do seu império de software.

É claro, o talento de Gates e o seu esforço desempenharam papéis importantes no extremo sucesso da Microsoft. Mas talento e esforço não são suficientes para criar um "homem mais rico do mundo", assim como não o foram no caso de Bill Gates.

Talento e esforço são provavelmente menos importantes do que as circunstâncias, no sentido de que ele não teria sido tão bem-sucedido sem essas circunstâncias, contando apenas com seu talento e esforço.

O segundo melhor

Segundo o pesquisador, um aprendiz racional deve perceber que é mais útil tirar lições dos menos excepcionais, o segundo melhor, por exemplo, porque suas circunstâncias são provavelmente menos radicais.

Isso significa que seu desempenho é mais informativo e dá mais pistas sobre as habilidades necessárias para se chegar aonde ele chegou.

"Os seres humanos, no entanto, muitas vezes contam com a heurística de aprender com o mais bem-sucedido. Nossa pesquisa constatou que, apesar dos observadores receberam feedbacks claros e incentivos para serem precisos em seu julgamento dos líderes observados, 58% deles ainda assumiu que o mais bem-sucedido era o mais habilidoso, quando eles claramente não eram, confundindo sorte para a habilidade", diz Liu.

"Essa suposição vai provavelmente levar à decepção - mesmo se você imitar tudo o que Bill Gates fez, você não será capaz de replicar sua fortuna," acrescenta o pesquisador.

Impostos para os ricos e menos crises

"Isto também implica que recompensar os profissionais mais gabaritados pode ser prejudicial ou até mesmo perigoso, pois os imitadores não atingirão um desempenho excepcional sem sorte, a menos que assumam risco excessivo ou enganem os outros, o que pode explicar em parte as crises financeiras e os escândalos econômicos recorrentes."

Os poucos sortudos de muito sucesso devem entender e valorizar o papel que a sorte desempenhou em seu sucesso extremo, assumindo uma responsabilidade em relação àqueles que não terão tanta sorte, defende Liu.

Segundo ele, do ponto de vista social, o reconhecimento de que a sorte desempenha um papel crucial na geração das grandes fortunas pode justificar uma maior taxação de impostos para os mais ricos.

Livros de negócios

Esta pesquisa também tem implicações importantes para a aprendizagem e a definição de metas para indivíduos, organizações e para a própria sociedade.

A mídia e os livros de negócios populares muitas vezes aconselham a aprender com os mais bem-sucedidos com o objetivo de passar de "bom para notável".

Esta pesquisa sugere que seguir esses conselhos provavelmente vai levar a frustrações e desperdício de recursos, já que é necessário sorte, e não talento, para se tornar alguém excepcionalmente bem-sucedido.

Em vez disso, aprender com o segundo melhor e definir a meta de passar de "fraco para bom" pode ser mais construtivo, não só para alunos individualmente, mas também para as empresas e a sociedade coletivamente.

Por último, mas não menos importante, recompensar o segundo melhor quando fica claro que um desempenho extremo não pode ser alcançado sem sorte, pode ser uma solução para evitar crises e escândalos recorrentes, já que isso evitará que muitos assumam riscos excessivos, ou trapaceiem nos negócios.

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