14/01/2010

Ver sem olhar: cientistas descobrem como mudamos o foco de atenção

Redação do Diário da Saúde
Ver sem olhar: cientistas descobrem como mudamos o foco de atenção
O colículo superior contém um mapa topográfico do espaço visual em torno de nós, da mesma forma que os mapas convencionais contêm áreas geográficas.
[Imagem: Lee Lovejoy/Salk Institute for Biological Studies]

Holofote mental

Como um holofote que lança luzes sobre uma cena até então escura, nossa atenção traz à mente detalhes específicos do nosso meio ambiente, ao mesmo tempo que descarta aqueles que perderam o foco.

Um novo estudo realizado por cientistas do Instituto Salk para Estudos Biológicos, nos Estados Unidos, mostra que o colículo superior, uma estrutura do cérebro conhecida primariamente pelo seu papel no controle dos movimentos dos olhos e da cabeça, é crucial para mover esse foco de atenção da mente.

A descoberta, publicada na revista Nature Neuroscience, lança novas luzes em nossa compreensão de como a atenção é controlada pelo cérebro.

Síndrome da Negligência

Os resultados estão intimamente relacionados com uma desordem neurológica conhecida como síndrome de negligência, e também podem lançar luzes sobre as origens de outros distúrbios associados a problemas crônicos de atenção, como o autismo ou transtorno de déficit de atenção.

"Nossa capacidade de sobrevivência depende fundamentalmente da nossa capacidade de responder às informações relevantes e ignorar as outras", explica Lee Lovejoy, que conduziu o estudo juntamente com Richard Krauzlis. "Nosso trabalho mostra que o colículo superior está envolvido na seleção de coisas às quais responderemos, seja olhando para elas ou pensando sobre elas."

Ver sem olhar

À medida que nos concentramos em detalhes específicos ao nosso redor, costumamos mudar o nosso olhar, juntamente com a nossa atenção. "Nós frequentemente olhamos diretamente para os objetos e o colículo superior é um dos principais componentes dos circuitos motores que controlam como nós orientamos nossos olhos e nossa cabeça na direção de algo visto ou ouvido,", diz Krauzlis.

Mas os seres humanos e outros primatas são particularmente bons em olhar para uma coisa enquanto prestam atenção em outra. Como seres sociais, eles frequentemente têm de processar a informação visual sem olhar uns para os outros, o que poderia ser interpretado pelo outro como uma ameaça. Isto requer uma capacidade prestar atenção de forma sutil.

Mapa mental

O colículo superior contém um mapa topográfico do espaço visual em torno de nós, da mesma forma que os mapas convencionais contêm áreas geográficas.

Os cientistas exploraram essa propriedade para desativar temporariamente a parte do colículo superior correspondente à localização de um estímulo mostrado na tela do computador. Não estando mais conscientes da informação relevante diretamente à sua frente, os participantes passaram a basear suas decisões em estímulos irrelevantes encontrados em outros pontos da tela.

"O resultado é muito semelhante ao que ocorre em pacientes com síndrome de negligência," explica Lovejoy. "Cerca de metade dos pacientes com derrames cerebrais agudos no hemisfério direito do cérebro demonstram sinais de negligência espacial, incapazes de tomarem consciência de objetos ou pessoas à sua esquerda no espaço extra-pessoal."

Evolução cerebral

"Nossos resultados mostram que decidir entre o que prestamos atenção e o que ignoramos não é feito apenas com o neocórtex e com o tálamo, mas também depende de estruturas filogeneticamente mais velhas no tronco cerebral", diz Krauzlis. "Compreender como estas partes [evolucionariamente] mais novas e mais velhas do circuito interagem pode ser crucial para entendermos o que sai errado nos distúrbios de atenção".

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