29/11/2012

Pesquisa analisa universo de viciados em sexo e amor

Com informações do Jornal da Unicamp

Jogo do amor

Um médico foi procurado por uma paciente cuja compulsão era discar o número 145, um serviço de linhas cruzadas para bate-papo entre três ou mais participantes.

Ela acabava marcando encontros com vários deles e assim seu dinheiro se esvaía.

O médico pertence ao Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso (Amiti) uma equipe do Hospital das Clínicas de São Paulo que lida com paciente viciados em jogos de azar.

"Mas qual é o jogo? Sua história não bate com jogo patológico", indagou o médico. A resposta: "Como não? Eu jogo o jogo do amor".

Mulheres que Amam Demais

O diálogo ilustra o surgimento no Brasil da especialidade voltada à adicção (ou vício) em sexo e amor.

"O vício em sexo e amor é uma categoria relativamente nova, datada de meados da década de 1960, vindo a ser divulgada em diversas mídias e popularizada com mais intensidade nos últimos 20 ou 30 anos", explica a pesquisadora Carolina Branco de Castro Ferreira, que debruçou-se sobre o tema juntamente com a professora Adriana Grácia Piscitelli, da Unicamp.

"Fui até o Mada - Mulheres que Amam Demais Autônomas - e percebi que as mulheres não frequentavam apenas aquele grupo, mas muitos. Isso porque elas explicam a adicção sexual e amorosa a partir, também, de um endividamento pessoal por causa do uso de medicamentos, álcool ou drogas; havia uma narrativa que conectava vários vícios."

Vício em amor e em sexo

Mas, afinal, quem é o viciado em sexo e amor?

"Segundo eles próprios, é aquele que não fica sem se apaixonar, sem um relacionamento", diz a pesquisadora. "Existem vários jogos nisso. Quando surgiu a figura do adicto sexual, a sua cara era de homem. Dez anos depois o problema foi associado à mulher, que só aparece como viciada em sexo quando o amor entra em cena.

"No limite, é para não perder a parceria de determinados homens que a mulher, segundo discursos de especialistas, se submete a fazer sexo na hora que não quer ou com quem não quer. Produzindo a noção de dependência emocional, de amor. Vejo esta forte marca de gênero, tanto por parte de quem frequenta os grupos, como na visão médica."

Carolina cita o aparecimento de determinadas categorias médicas e psicológicas que "patologizam" a sexualidade, no intuito de regular alguns comportamentos e desejos.

"A adicção em sexo e amor está dentro do conceito de vício, de compulsão. Existe uma diferencial na produção e nas relações de saberes entre os grupos de autoajuda e o campo médico, principalmente diante de toda uma discussão sobre o uso de medicamentos.

"Embora o Amiti, no caso, priorize bastante os tratamentos terapêuticos em grupos, uma questão que merece atenção no que se refere à regulação da sexualidade é o uso de medicamentos e da relação pejorativa que pode se estabelecer entre identidades e práticas sexuais," completou.

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