17/12/2012

Ciência e Medicina pararam no tempo para 1 bilhões de pessoas

Redação do Diário da Saúde
Ciência e Medicina pararam no tempo para 1 bilhões de pessoas
"Nossos pacientes ainda estão à espera de avanços científicos reais."
[Imagem: DNDi]

Marginalizados da ciência

"A medicina não avançou nada, as pessoas continuam morrendo das mesmas doenças há séculos. Só quatro remédios novos foram descobertos em todo o mundo neste milênio."

Soa estranha a afirmação acima?

Pois ela é a total expressão da verdade para mais de um bilhão de pessoas que sofrem das chamadas "doenças esquecidas", ou doenças negligenciadas, que afetam a população mais pobre do mundo.

Elas, as pessoas e as doenças, parecem ter sido esquecidas ou negligenciadas pelos fabricantes de medicamentos, laboratórios de pesquisas, cientistas e autoridades de saúde.

O resultado é que milhões de pessoas morrem todos os anos com doenças como malária, tuberculose, leishmaniose, doença de Chagas, hanseníase e doença do sono, apenas para citar as mais conhecidas, que afetam 1 bilhão de pessoas em 149 países, segundo a OMS.

Remédios velhos

As organizações Médicos sem Fronteiras e Iniciativa Remédios para Doenças Negligenciadas apresentaram em Nova Iorque um novo levantamento sobre a saúde global na última década, que não deixa margem a dúvidas sobre o impacto das doenças negligenciadas, sobretudo as chamadas doenças tropicais.

Entre 2000 e 2011, apenas 3,8% das drogas aprovadas são destinadas às doenças tropicais.

Mas mesmo esse número esconde uma realidade ainda mais contundente: a maior parte desses medicamentos aprovados não são drogas recém-descobertas, mas reformulações de drogas já existentes e adaptações de remédios voltados para outras doenças, que passaram a ser indicados para as doenças negligenciadas.

"Nossos pacientes ainda estão à espera de avanços científicos reais," disse o Dr. Unni Karunakara, da organização Médicos sem Fronteiras.

No final, apenas quatro dos medicamentos realmente novos aprovados neste período são voltados para as doenças negligenciadas.

Estagnação científica

"Nós temos que perguntar a nós mesmos, quanto progresso nós realmente fizemos na última década," continuou o Dr. Karunakara.

"As pessoas continuam morrendo de doenças arcaicas. Médicos e enfermeiros estão algemados pelas deficiências dos remédios disponíveis, forçados a tratar seus pacientes com remédios frequentemente brutais, de décadas atrás.

"Enquanto estamos aqui falando, há pacientes resistentes aos medicamentos da tuberculose que enfrentam dois anos de tratamento absolutamente horrível, com náuseas e dor, depressão, isolamento social, perda de audição e até psicose, e este são apenas alguns poucos efeitos colaterais que eles podem ter enquanto tomam estes medicamentos," desabafou Karunakara.

Doenças e doentes esquecidos

Segundo o estudo, três dos quatro novos medicamentos aprovados para doenças negligenciadas na última década são para malária, e nenhum para tuberculose e nem para as 17 doenças tropicais negligenciadas definidas pela Organização Mundial da Saúde.

E a situação não deve melhorar a curto prazo.

Dentre os 150.000 testes clínicos registrados em Dezembro de 2011, atualmente em andamento, apenas 1,4% é voltado para essas doenças e seus doentes esquecidos.

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