12/03/2009

Pesquisadores mostram benefícios e alertam para riscos dos raios X

Renata Moehlecke
Pesquisadores mostram benefícios e alertam para riscos dos raios X
Somente nos anos 90 foi publicada uma portaria que estabeleceu um marco regulatório para radiodiagnóstico no país.[Imagem: Hopsital São Sebastião de Viçosa/MG]

Benefícios e riscos dos raios X

A descoberta e imediata utilização dos raios X e de elementos radioativos, no final do século 19 e início do 20, proporcionaram benefícios às ciências e à medicina, mas também provocaram diversos danos a pesquisadores, médicos, pacientes e outros indivíduos expostos a eles.

A descrição da evolução histórica do controle desse risco à saúde da realização de radiodiagnósticos no Brasil é o que pesquisadores do Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia resolveram fazer em artigo publicado na última edição da revista História, Ciências, Saúde - Manguinhos.

Segundo os estudiosos, os riscos à saúde, ainda hoje, podem não estar relacionados apenas à dose recebida de radiação, mas também a erros de diagnóstico e a custos para o sistema de saúde.

Cuidados com os equipamentos

"Atualmente, no Brasil, a responsabilidade da regulação sanitária recai apenas sobre o Estado, por meio dos serviços de vigilância sanitária, ao passo que outros atores envolvidos, como fabricantes, associações de classe, conselhos profissionais e responsáveis por serviços de radiodiagnóstico, têm pouco ou nenhum comprometimento do ponto de vista da legislação sanitária", apontam os pesquisadores.

"E a existência de serviços com equipamentos fora de conformidade e erros de diagnóstico gerados por mau funcionamento produzem aumento considerável dos diagnósticos tardios, dos custos e das doses em pacientes e trabalhadores".

Os pesquisadores destacam que muitos foram os danos causados nos profissionais que utilizavam a tecnologia quando essa começou a ser usada. "Como todas as tecnologias, os raios X traziam consigo perigos intrínsecos e desconhecidos no momento de sua incorporação a práticas sociais", explicam os estudiosos.

História dos raios X

Os raios foram descobertos em 1895, pelo pesquisador Wilhelm Röntgen, e, em 1897, já havia diversos relatos sobre os efeitos danosos. Mas naquele período, apenas os danos imediatos eram observados, sendo necessários mais de 50 anos para que os efeitos tardios fossem detectados.

Cerca de 20 anos após a descoberta dos raios X, a Sociedade Röntgen publicou as primeiras recomendações de proteção para os trabalhadores. "Foi o início da constituição da radioproteção ou proteção radiológica, campo de estudos dos efeitos nocivos das radiações ionizantes", destacam os estudiosos. "Nos anos seguintes ao descobrimento das radiações ionizantes, foram muitos os avanços tecnológicos no processo de otimização do seu uso e produção, assim como nos estudos sobre seus efeitos no homem",

Regras para uso dos raios X no Brasil

No Brasil, as primeiras intervenções estatais no campo se voltaram para a regulamentação das exposições ocupacionais: em 1950 foi publicada uma lei que confere direitos e vantagens a servidores que operam com raios X e substâncias radioativas.

"Definiram-se também as primeiras normas sobre radioproteção, como, por exemplo, a necessidade de utilização de blindagens nos equipamentos, nas salas e no comando, a utilização de luvas de proteção para fluoroscopia e realização de exames periódicos dos profissionais expostos a radiação", afirmam os pesquisadores.

Acidente de Goiânia

Contudo, de acordo com os estudiosos, foram necessárias várias tragédias, como a que o ocorreu em Goiânia na década de 1980 (que consistiu no abandono e uso indevido de fonte radioativa de césio presente em um equipamento de radioterapia), para que fossem vistas as conseqüências de um sistema de controle de riscos à saúde ineficiente.

E somente na década de 90, um ano antes da criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 1999, a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária publicou uma portaria, que levava em consideração as principais recomendações das organizações internacionais e estabeleceu o marco regulatório para radiodiagnóstico no país.

Riscos no processo de radiodiagnóstico

No entanto, os pesquisadores propõem que algumas questões ainda devem ser consideradas e melhor trabalhadas. "A concepção ampliada de risco no processo de radiodiagnóstico, estabelecida internacionalmente na década de 80, ilumina o processo atual de regulação desses serviços", comentam os pesquisadores. "O entendimento de que não basta apenas o controle da dose de exposição, mas também de que erros de diagnóstico e custos são fundamentais no controle de riscos implica a necessidade de se rever o referido processo de regulação sanitária".

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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