10/03/2009

Estresse fragiliza imunidade e ativa bactérias patogênicas

Agência Fapesp
Estresse Fragiliza imunidade e ativa bactérias patogênicas
Estudo descobre receptor na variante da E.coli que pode ajudar a explicar por que pessoas com estresse são mais suscetíveis a infecções[Imagem: Fapesp/Reprodução]

Estresse e infeccções

Um receptor que acaba de ser descoberto na Escherichia coli, uma das bactérias mais comuns e que há mais tempo se relaciona com o homem, pode ajudar a explicar por que as pessoas geralmente são mais suscetíveis a infecções quando estão estressadas.

O estudo foi feito por pesquisadores da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, e será publicado esta semana no site e em breve na edição on-line da revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

O grupo identificou pela primeira vez um receptor, chamado de QseE, que reside em uma variante da bactéria que causa diarréia no homem, a E.coli enterohemorrágica (EHEC). Receptor é uma molécula localizada na superfície de uma célula que se encaixa com outras moléculas, sinalizando uma função celular específica.

Sinais de estresse

Segundo uma das autoras do estudo, a professora de microbiologia Vanessa Sperandio, o QseE tem um papel importante no desenvolvimento da doença. Os sinais de estresse recebidos do hospedeiro - principalmente adrenalina e fosfato - são geralmente associados com a septicemia, a presença de microorganismos patogênicos e suas toxinas na corrente sanguínea.

"Pacientes com níveis elevados de fosfato no intestino têm probabilidade muito maior de desenvolver septicemia devido à infecção causada por bactéria. Se descobrirmos como as bactérias percebem essas pistas, poderemos tentar interferir nesse processo e prevenir a infecção", disse Vanessa.

Bactérias de plantão

No corpo humano há milhões de bactérias com potencial de provocar danos. Elas permanecem em compasso de espera, apenas aguardando um sinal de que o momento de liberar suas toxinas chegou. Sem esses sinais, que partem do próprio hospedeiro, a bactéria passa pelo trato digestivo sem promover infecção.

"Há muita sinalização química em ação entre o hospedeiro e a bactéria, mas pouco sabemos a respeito de quais receptores do microrganismo reconhecem o hospedeiro e vice-versa. Todo o conhecimento que acumulamos sobre isso serviu, até agora, apenas para arranhar o topo do iceberg", disse a cientista.

O laboratório coordenado por Vanessa foi o primeiro a identificar, em 2006, o receptor QseC, molécula encontrada na membrana da EHEC. Em seguida, a pesquisadora a sua equipe descobriram que quando uma pessoa ingere a EHEC - transmitida principalmente por meio de alimentos (como carne mal cozida) contaminados - a bactéria se desloca sem a menor dificuldade pelo trato digestivo até alcançar o intestino.

Sinal verde para a doença

No intestino, substâncias químicas produzidas pela flora microbiana e os hormônios adrenalina e noradrenalina sinalizam para a bactéria sua presente localização.

Ao reconhecer os hormônios do estresse, o QseC inicia uma série de ações genéticas por meio da qual a EHEC coloniza o intestino e passa a transferir toxinas para as células do hospedeiro, alterando a produção dessas células e roubando nutrientes do corpo. "A bactéria obtém o que quer e a pessoa acaba com diarréia", explicou Vanessa.

O novo estudo verificou que é o QseE, receptor encontrado na E.coli enterohemorrágica, que finaliza as ações iniciadas pelo QseC. O QseE também regula o tempo das ações e a regulação de genes que causa a diarréia no hospedeiro.

"A EHEC precisa desses dois receptores para ser completamente virulenta e expressar suas toxinas. Quando as pessoas estão estressadas, elas têm maior liberação de adrenalina e de noradrenalina. Esses dois hormônios ativam os receptores QseC e QseE que, por sua vez, disparam a virulência. Ou seja, o estado de estresse ativa a virulência bacteriana", explicou Vanessa.

Estresse ativa os microorganismos

Segundo os cientistas, o resultado do estudo indica que há mais consequências no nível genético de doenças induzidas pelo estresse do que se estimava.

"O problema não é apenas que os sinais do estresse estão enfraquecendo o sistema imunológico, mas que eles estão colocando os patógenos em ação. Trata-se de uma faca de dois gumes: temos um sistema imunológico enfraquecido e os patógenos que vão atacá-lo", disse.

Em estudo anterior, o grupo de Vanessa verificou que a fentolamina - um inibidor dos receptores adrenérgicos usado no tratamento da hipertensão - e uma nova droga conhecida como LED209 evitam que o QseC expresse seus genes virulentos. O próximo passo será verificar se a fentolamina tem o mesmo efeito no QseE.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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