29/09/2008

Medicamento testado no Brasil detém o diabetes tipo 1

Flávia Albuquerque

Medicamento para diabetes tipo 1

Um estudo inédito de pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto (FMRP-USP), mostrou que o uso do medicamento sitagliptina, pode deter o diabetes tipo 1 em humanos.

Esta é a primeira vez que a substância é testada em humanos e os resultados preliminares dos testes em dois pacientes mostraram que o medicamento permitiu a redução das aplicações diárias de insulina, necessárias para controlar os níveis de açúcar no sangue.

O estudo ainda está em andamento e os testes que comprovarão a eficácia do tratamento ainda devem se prolongar por tempo indeterminado.

Doença auto-imune

Segundo o endocrinologista Carlos Eduardo Couri, um dos pesquisadores do estudo, o diabetes tipo 1 é uma doença auto-imune, ou seja, o sistema imunológico destrói o próprio órgão do paciente, neste caso as células do pâncreas que produzem a insulina, hormônio que controla as taxas de açúcar no sangue (glicemia). "O paciente com esse tipo de diabetes precisa aplicar injeções de insulina várias vezes ao dia, caso contrário corre o risco de morrer".

De acordo com estimativas dos pesquisadores da FMRP-USP, nos anos 80, cerca de 10% dos brasileiros eram diabéticos. O diabetes tipo 1 representa 5% desse grupo e acomete, principalmente, crianças e jovens, trazendo riscos de complicações crônicos, como cegueira, amputação de membros, insuficiência renal, infarto, além de comprometer a qualidade de vida dessas pessoas.

Controle da diabetes com células-tronco

Segundo Couri, os testes com a sitagliptina estão sendo feitos com os dois pacientes desde fevereiro. Esses pacientes fazem parte de um grupo de 23 voluntários que participam de uma pesquisa inédita no mundo para controle da diabetes tipo 1 com células-tronco, iniciada em 2003. "Com as células-tronco nós conseguimos suspender o uso da insulina na grande maioria dos pacientes, com muito êxito". Dos 23 pacientes, 20 pararam de usar a insulina em algum momento. Desses, 14 estão continuamente sem usar a insulina, por em média dois anos.

Hormônio rival da insulina

Entretanto, os dois pacientes, um há quatro anos e outro há pouco mais de três anos sem tomar insulina, precisaram retornar seu uso. Foi nesse momento em que os pesquisadores resolveram experimentar nessas pessoas a sitagliptina, medicamento novo que vem sendo usado com sucesso em pacientes da diabetes tipo 2, típica em pessoas adultas que estão acima do peso, tem pressão alta e são sedentárias. "Esse remédio faz com que as células do pâncreas que produzem insulina se proliferem e impede a atuação do glucagon, que é o hormônio rival da insulina".

Suspensão da aplicação da insulina

Couri afirmou que depois de dois meses de utilização desse medicamento nesses pacientes, os pesquisadores conseguiram suspender novamente a aplicação da insulina, o que incentivou os médicos a testarem o remédio em outros pacientes do grupo. O paciente toma a insulina associada à sitagliptina por via oral uma vez ao dia, ao acordar. "Todos eles já estão com redução de dose da insulina aplicada durante o dia. Eles tomam os dois medicamentos e à medida que o tempo vai passando vamos percebendo que eles precisam cada vez menos de insulina".

Sitagliptina

A sitagliptina pode ser encontrada nas farmácias, com prescrição médica, com o nome comercial de Januvia, a um custo de R$ 80,00 por mês. Mesmo assim Curi reforçou que o estudo ainda não foi concluído e está apenas no início, portanto, o medicamento só deve ser utilizado pelos voluntários do estudo, que são acompanhados pela equipe médica responsável pela pesquisa. "Não sabemos o que isso vai trazer daqui a dez anos para os pacientes. Nada disso é garantido, por isso passa pelo Comitê de Ética e os pacientes assinam um termo. E nós evitamos falar em cura para não criar falsas expectativas".

Os voluntários são pessoas de todo o país, que periodicamente vão até Ribeirão Preto para que o acompanhamento seja feito pessoalmente. Além disso, mantém contato com a equipe de pesquisadores por e-mail e telefone relatando sua rotina e como estão reagindo ao medicamento. "Mas as visitas dos voluntários ao consultório são muito menos freqüentes do que as dos meus pacientes de consultório normal, que estão lá a no mínimo cada duas, quatro semanas. Os voluntários vão a cada três, seis meses".

Dieta alimentar adequada

Curi reforçou que mesmo com a utilização da insulina ou com o controle feito com os medicamentos, é importante que o diabético mantenha uma dieta alimentar adequada e faça exercícios regulares. O endocrinologista disse ainda que para que a sitagliptina seja indicada para os pacientes do diabetes tipo 1 é necessário que os testes sejam feitos em um grande número de voluntários. Podem participar pessoas com idade acima de 12 anos que tenham diabetes recém diagnosticado (há menos de seis semanas).

Para tirar dúvidas sobre a utilização da sitagliptina e se informar sobre como ser voluntário na pesquisa basta escrever para o e-mail do endocrinologista que é ce.couri@yahoo.com.br.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

URL:  http://www.diariodasaude.com.br/print.php?article=medicamento-testado-no-brasil-detem-o-diabetes-tipo-1

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