09/03/2010

Para se lembrar dos bons tempos, ponha coisas no alto

Redação do Diário da Saúde
Para se lembrar dos bons tempos, ponha coisas no alto
Recuperar memórias emocionais boas ou ruins pode ser uma simples questão de como você mexe com algumas bolinhas de gude.[Imagem: Casasanto et al./Cognition]

Movimentando a memória

Recuperar memórias emocionais boas ou ruins pode ser uma simples questão de como você mexe com algumas bolinhas de gude.

Um estudo acaba de comprovar que ações motoras simples, aparentemente sem sentido, como fazer movimentos ascendentes ou descendentes para mover bolinhas de gude entre duas caixas, pode fazer a diferença entre lembrar de coisas boas ou lembrar de coisas ruins.

Lembranças positivas e negativas

Mover as bolinhas para uma caixa localizada acima induziu os participantes do experimento a lembrar de experiências de vida mais positivas. Movê-las para baixo, ao contrário, trouxe de volta lembranças de experiências mais negativas.

A série de experiências, conduzidas por Daniel Casasanto e Katinka Dijkstra, da Universidade Erasmo de Rotterdam, na Holanda, será publicado no exemplar de Abril da revista científica Cognition.

O espaço das emoções

Quando as pessoas falam sobre emoções positivas e negativas, elas frequentemente utilizam metáforas espaciais. Por exemplo, é universal afirmar que uma pessoa feliz está "para cima", ou no topo do mundo. Já de uma pessoa triste, diz-se que ela está "para baixo", ou down.

Alguns pesquisadores acreditam que essas metáforas são um indício da maneira como as pessoas compreendem as emoções: nós não apenas usamos termos espaciais para falar sobre os estados emocionais, nós também usamos conceitos espaciais para pensar sobre elas.

Movimento e emoção

Para testar esta ligação entre o espaço e as emoções, em um primeiro experimento os cientistas pediram aos estudantes que movessem as bolinhas de vidro para cima ou para baixo, colocando-as em uma de duas caixas de papelão disponíveis, com ambas as mãos simultaneamente.

O movimento era constante, ritmado com o auxílio de um metrônomo.

Enquanto isso, eles tinham que lembrar e relatar memórias autobiográficas com algum sentido emocional, fossem positivas ou negativas, atendendo a perguntas como "Conte-me sobre uma situação na qual você se sentiu orgulhoso de si mesmo", ou "um momento em que você sentiu vergonha de si mesmo".

Quando solicitados a relatar memórias positivas, os participantes começaram a contar as suas experiências rapidamente quando estavam fazendo os movimentos de subida.

Por outro lado, quando lhes foi solicitado contar as memórias negativas, eles responderam mais rapidamente quando estavam movendo as bolinhas para baixo.

A recuperação da memória foi mais eficiente quando os movimentos dos participantes correspondiam às direções espaciais indicadas pelas metáforas linguísticas usadas para descrever as emoções positivas ou negativas.

Movimentos modificam a memória

O segundo experimento testou se essas ações motoras aparentemente sem sentido poderiam influenciar o conteúdo das memórias das pessoas.

Os participantes receberam instruções neutras, como "Conte-me sobre algo que aconteceu durante o ensino médio", de forma que eles pudessem decidir entre contar algo alegre ou triste.

Suas escolhas foram determinadas, em parte, pela direção em que estavam movendo as bolinhas de gude. Colocar as bolinhas em uma caixa mais alta incentivou os alunos a relatarem experiências positivas da escola, como "ganhar um prêmio". Movê-las para baixo, ao contrário, induziu-os a se lembrar de experiências negativas, como "não passar em uma prova".

Terapia das bolinhas de gude

"Estes dados sugerem que as metáforas espaciais para a emoção não estão apenas na linguagem," diz Casasanto. "As metáforas linguísticas correspondem às metáforas mentais, e ativar a metáfora mental 'para cima significa bom' pode levar-nos a ter pensamentos mais felizes."

Já que ações motoras simples podem provocar lembranças felizes, que resultados ou utilizações práticas isso poderia ter? "Quem sabe", responde Casasanto, "seria ótimo se esta pesquisa básica pudesse ajudar as pessoas a pensar mais positivamente no mundo fora do laboratório - uma terapia das bolinhas de gude? Quem sabe."

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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