23/09/2008

Cientistas ainda não sabem como o ômega 3 age no organismo

Paulo Roberto Andrade - Agência USP

Um mistério para a ciência

Ainda é um mistério para a ciência os mecanismos dos efeitos positivos do Ômega 3 no corpo humano. Na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP, uma equipe liderada pela professora Inar Alves de Castro quer descobrir como acontece a redução dos níveis de triglicerídeos no organismo e a dimunição do risco de doenças cardiovasculares.

Os estudos na FCF constataram que o Ômega 3 possui uma cadeia muito insaturada, com 5 ou 6 duplas ligações, ou seja, estão muito suscetíveis à oxidação. "Pelas pesquisas, supomos que um consumo maior de Ômega 3 tornaria a pessoa mais suscetível à oxidação, pois as membranas de suas células, incorporadas com ácidos graxos Ômega 3, estariam mais oxidáveis. Isso seria uma coisa ruim. Se minhas células são facilmente oxidáveis, eu sou facilmente oxidável", explica Inar.

Stress oxidativo

A equipe da professora iniciou as pesquisas com Ômega 3 em 1999. Desde então, os cientistas investigam se um maior consumo do ácido graxo causa maior stress oxidativo em humanos e em animais. Durante a pesquisa, cerca de 100 voluntários ingeriram na dieta alimentar uma dose de 1 grama (g) de Ômega 3. Então, os pesquisadores avaliaram os diferentes aspectos da suplementação alimentar. O resultado é que, nos estudos do FCF, o stress oxidativo não foi aumentado.

"Nosso grupo, assim como outros aqui no Brasil e no exterior, começou a observar que, na prática, a tendência é que isso [uma oxidação maior das células] não aconteça. E do ponto de vista químico isso é incoerente. Então, estamos investigando porque isso não está ocorrendo", diz a professora, "Queremos descobrir o que há dentro do nosso organismo que faz com que esses ácidos graxos não oxidem como eles deveriam oxidar caso fosse num sistema in vitro".

Existem várias possibilidades para esse comportamento diferenciado do Ômega 3. Por exemplo, pode ser que as células não estejam sendo oxidadas, mas toda a reserva de antioxidantes esteja sendo consumida. Ou, quando há uma presença maior de Ômega 3 no corpo, o organismo começa a produzir mais enzimas antioxidantes. "Sabe-se que alguma coisa acontece, não sabemos o quê exatamente", diz a cientista. "Ainda não se chegou num consenso, mas a tendência é que uma pessoa não oxide mais ao ingerir Ômega 3. E se isso realmente for comprovado, é um contra-senso".

Benefícios do ômega 3

O Ômega 3 é encontrado em gorduras de peixes de águas profundas e frias, como o salmão, a sardinha e o arenque. Cientistas americanos, em pesquisas realizadas na década de 1970, observaram seus benefícios em populações de esquimós, que consumiam peixes ricos em Ômega 3. Eles compararam uma população que vivia no pólo norte, consumindo tais peixes, com outra que migrou para áreas urbanas. Aqueles que migravam apresentavam uma incidência de doenças cardiovasculares muito maior do que aqueles que ficaram vivendo da pesca.

Os pesquisadores concluíram que havia uma forte relação entre o consumo de Ômega 3 e a redução de doenças cardiovasculares. Observaram que ele tinha relação na redução da síntese de compostos inflamatórios, que é a causa de várias patologias. Então, investigaram como ele atuava no organismo causando essa proteção.

Benefícios do ômega 3 em excesso

Apesar de os benefícios do Ômega 3 serem comprovados cientificamente, seu consumo numa dosagem muito além daquela encontrada nos peixes preocupa os pesquisadores, pois ainda não se sabe que efeitos essas altas doses podem ter no organismo a longo prazo. Atualmente ele é largamente comercializado nas farmácias na sua forma concentrada em cápsulas.

Segundo a professora, isso é uma prática no mínimo arriscada, pois a ciência ainda não pode assegurar se esse consumo exagerado é saudável para o organismo. "Em qualquer farmácia você encontrará montes de frascos, cápsulas, em dosagens muito altas. É preocupante para nós saber se isso, consumido de forma crônica e em alta dosagem, vai trazer problemas para a pessoa no futuro" alerta.

"O Ômega 3 também aumenta o colesterol nas suas duas frações: HDL e LDL. Ele reduz bastante os triglicerídeos. É uma coisa que as pessoas confundem bastante: muitas pessoas acham que ele reduz o colesterol. E não reduz! Ao contrário, até aumenta", enfatiza Inar.

Ômega 3 nos peixes

A professora esclarece que o Ômega 3 consumido como parte da gordura do peixe é seguro. Pois ninguém consumirá uma quantidade de peixe a ponto de chegar numa dosagem como as que são vendidas em forma de comprimido. A professora diz que, quando se fala em composto natural, muitas pessoas acham absolutamente seguro consumir. É seguro, desde que consumido em sua matriz original.

Quando a indústria concentra o produto num comprimido a função de risco muda completamente. "Nossa preocupação é essa: o Ômega 3 consumido dentro de uma cápsula deveria ser mais estudado, pois é algo do qual não se sabe os efeitos a longo prazo. Mas ele já esta sendo comercializado em altas dosagens" finaliza a pesquisadora.

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