Terceira dose com Pfizer ou AstraZeneca
A redução da imunidade contra o SARS-CoV-2 registrada 75 dias após a segunda dose das vacinas CoronaVac e AstraZeneca pode ser revertida significativamente com o reforço da Pfizer/Biontech, de acordo com estudo conduzido por médicos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
A pesquisa mostrou que a terceira dose da Pfizer aumenta em até 25 vezes o nível de anticorpos contra o SARS-CoV-2, medido depois das duas aplicações de CoronaVac, e em até 7 vezes o alcançado após a imunização completa com a AstraZeneca.
O estudo foi realizado em um pequeno grupo de 48 profissionais de saúde de hospitais e instituições regionais, com idade média de 30 anos para os vacinados com CoronaVac, e média de 40 anos para os que receberam a AstraZeneca.
"Temos visto que a adesão à dose de reforço da vacina contra a covid-19 não está tão alta quanto poderia ser. Nosso estudo, no entanto, mostra a importância de a população tomar a terceira dose porque há um aumento significativo da resposta imunológica e celular, indicando maiores níveis de proteção," disse o professor Alexandre Keiji Tashima.
Até o dia 1º de março, o Brasil contava com 30,6% da população imunizada com a dose de reforço contra a covid-19 (cerca de 65,073 milhões de pessoas). Com a vacinação completa (duas doses ou dose única) eram 73% dos brasileiros (155,071 milhões de pessoas), segundo dados da Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Os resultados obtidos no estudo brasileiro corroboram outros já publicados por equipes de Hong Kong e de universidades norte-americanas.
Além disso, outras pesquisas haviam mostrado a eficácia da dose de reforço. Uma delas, publicada no início de fevereiro na Nature Medicine, mostrou que a aplicação da terceira dose da vacina da Pfizer seis meses após a imunização com duas da CoronaVac confere uma eficácia de 92,7% contra a doença. Já contra casos graves do SARS-CoV-2, a proteção sobe para 97,3%. Foram analisados dados de cerca de 14 milhões de brasileiros.
Anticorpos após terceira dose
Os participantes da pesquisa do grupo da Unifesp tiveram amostras de sangue colhidas em cinco momentos: antes da vacinação; 28 dias após a primeira dose; 14 dias depois da segunda, 75 dias depois da segunda dose e 14 dias após o reforço da terceira. Foram realizados testes clínicos para IgG (que determina a presença e quantidade de anticorpos no organismo), com avaliação de anticorpos neutralizantes, capazes de impedir a infecção, e das respostas celulares.
No grupo imunizado com CoronaVac e reforço de Pfizer, os valores médios de IgG aumentaram de 19,8 BAU/ml (unidades de anticorpos ligantes por mililitro de sangue), após a primeira dose, para 429 BAU/ml com a segunda. Valores iguais ou acima de 35,2 BAU/ml são considerados positivos.
Essa proteção diminuiu significativamente nas dez semanas seguintes, caindo para 115,7 BAU/ml. Após o reforço, no entanto, a concentração de IgG voltou a subir, crescendo 25 vezes e atingindo 2.843 BAU/ml. Em relação aos níveis de anticorpos neutralizantes, houve aumento de 23,5%, no intervalo da segunda dose, para 99,3% depois do reforço.
Entre os imunizados com a vacina da AstraZeneca (ChAdOx1) e a terceira dose de Pfizer, as respostas medianas de IgG aumentaram de 86,8 BAU/ml para 648,9 BAU/ml durante as duas primeiras aplicações. Depois, caíram para 390,9 BAU/ml. Mas, com a dose de reforço, subiram sete vezes - para 2.799,2 BAU/ml. Já os níveis de anticorpos neutralizantes cresceram de 63,2% para 98,9%.
"É possível ver que, mesmo com a redução da imunidade no período pós segunda dose, ainda há uma resposta celular relevante contra os antígenos do coronavírus. No entanto, o interessante é que, após a terceira dose, os dois grupos tiveram aumento significativo tanto da resposta celular como da humoral [de anticorpos]. Isso foi algo que nos impressionou, indicando uma boa resposta nos dois grupos," disse Tashima.
Uma das limitações do estudo foi o fato de não ter sido possível comparar os resultados com dados da população em geral ou de grupos específicos, como idosos.
Alguns voluntários que participaram do estudo foram contaminados pela variante ômicron após o reforço da vacinação. Os pesquisadores estão agora em nova etapa de coleta de sangue dessas pessoas para analisar eventuais impactos da variante, que no início de janeiro respondeu por 97% dos casos de COVID-19 no Brasil.
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