Drogas na música rap
Um novo estudo descobriu que as referências ao uso das drogas ilegais na música rap aumentou seis vezes nas duas décadas seguintes a 1979, o ano em que a "Rapper's Delight", da Sugar Hill Gang atingiu as paradas e introduziu para uma ampla audiência o gênero musical nascido nos guetos das cidades norte-americanas.
Além disso, o uso das drogas ilegais se tornou cada vez mais ligado à saúde, ao glamour e à posição social, uma mudança significativa em relação aos anos anteriores, quando a música rap tendia mais a descrever os perigos e as conseqüências negativas do abuso das drogas. A conclusão é de um estudo feito pela pesquisadora Denise Herd, da Universidade da Califórnia.
Bandeiras vermelhas
"Esta trajetória na música rap levanta uma série de bandeiras vermelhas," diz Herd. "A música rap é especialmente atraente para as pessoas mais jovens, muitas das quais olham para os rappers como modelos de conduta. Como pesquisadora da saúde pública, e como mãe de uma criança de 7 anos de idade, eu estou preocupada com o impacto que a exposição a longo prazo a esta música terá sobre seus ouvintes."
O novo estudo, publicado no periódico científico Addiction Research & Theory (Teoria e Pesquisas sobre Vícios), é a primeira pesquisa científica a analisar o conteúdo da música rap ao longo de duas décadas.
Letras das músicas rap
Herd e sua equipe analisaram as letras de 341 das músicas rap mais populares - segundo os serviços Billboard e Gavin - de 1979 a 1997. Os pesquisadores codificaram as músicas segundo as menções às drogas, comportamentos e contextos relacionados às drogas, assim como as atitudes e conseqüências derivadas do uso das drogas ilegais.
Das 38 canções de rap mais populares entre 1979 e 1984, apenas quatro, ou 11 por cento, continham referências a drogas. No início dos anos 1990, a porcentagem de músicas rap com referências a drogas experimentou um salto repentino para 45 por cento, e aumentou continuamente, até atingir 69 por cento das 125 músicas rap mais populares entre 1994 e 1997.
Caráter destrutivo das drogas
O estudo descobriu que as referências às drogas nas primeiras músicas rap - "White Lines", de Grandmaster Flash, "Crack Monster", de Kool Moe Dee e "Night of the Living Baseheads", do Public Enemy - freqüentemente descreviam o caráter destrutivo da cocaína e, particularmente, do craque.
Esse tom de alerta sobre a cocaína desapareceu das letras rap no início dos anos 1990, que progressivamente passaram a apresentar o uso da maconha como uma atividade positiva. O estudo documenta um incremento de três vezes, entre 1979 e 1997, nas menções que as músicas rap fazem à maconha e a cigarros com maconha, os chamados blunts, e aponta uma associação feita nestas músicas da maconha com criatividade, riqueza e status.
Drogas como ingrediente do sucesso
A cientista acentua que o estudo dá números preocupantes para uma tendência que já foi notada incidentalmente há muito tempo entre os observadores da indústria musical. Ela cita um artigo de 1996 na Vibe, a revista que cobre a cultura hip hop, destacando o sucesso do álbum de estréia do Cypress Hill como um marco na popularização da droga feita pela música rap. O artigo da Vibe aponta que outros artistas rap, incluindo Dr. Dre e Snoop Dogg, logo seguiram o caminho, com suas próprias referências à maconha como uma droga interessante de se usar.
Herd afirma que, depois que os álbuns celebrando a maconha começaram a ganhar discos de platina no início dos anos 1990, as referências às drogas se tornaram mais comuns na música rap, como se elas fossem um ingrediente-chave para o sucesso.
Os caminhos da música rap
"Há uma impressão geral de que as drogas e a música rap estão inextrincavelmente ligadas, mas não foi sempre assim," diz Herd. "O fato de que a música rap nem sempre teve essas referências às drogas deve ser destacado, porque ele mostra que esta música não depende delas como uma forma de arte. A direção da música parece ter mudado com seu crescente sucesso comercial."
Herd salienta também que a imagem que os artistas rap traçam do uso de drogas na comunidade Afro-americana distorce a realidade. "Os jovens negros têm, na verdade, taxas similares ou menores de uso de drogas e álcool, em comparação com os jovens brancos, mas você não vai adivinhar isso baseando-se nas letras da música rap," diz ela.
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