07/01/2020

Proteger o ambiente você mesmo lhe fará mais feliz - mas não vai salvar o planeta

Redação do Diário da Saúde
Proteger o ambiente você mesmo lhe fará mais feliz - mas não vai salvar o planeta
Em busca de uma alternativa sustentável para a economia, já está claro que o desenvolvimento sustentável só é viável se centrado no fator humano.
[Imagem: Ken Robinson/Global Goals]

Políticas anticlima

O presidente do Brasil tem feito um estrago após o outro na política e na diplomacia ambientais, enquanto o presidente dos EUA, Donald Trump, está ocupado desmantelando as políticas climáticas na maior economia do mundo. Os europeus, por sua vez, embora reconheçam suas obrigações climáticas, ainda têm uma das maiores pegadas de carbono do planeta.

Então, o que um cidadão preocupado com o futuro do planeta deve fazer? As ações das pessoas individuais - fora das intervenções governamentais em larga escala - podem fazer alguma diferença?

Você pode se sentir impotente para minimizar a participação humana nas mudanças climáticas, mas os ativistas climáticos que se juntaram a movimentos populares conseguiram reduzir suas pegadas de carbono e ainda se tornaram mais felizes do que seus pares não-ativistas.

"Normalmente, à medida que as pessoas ficam mais ricas, elas tendem a melhorar seus padrões de vida materiais, consumindo mais e emitindo mais gases nocivos ao clima. Mas os membros das iniciativas climáticas mantêm seus gastos em nível baixo, mesmo que suas rendas aumentem. E consumir menos não parece prejudicar sua alegria," disse o professor Gibran Vita, da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia.

Vita e seus colegas constataram que os membros de iniciativas pró-clima ou pró-meio ambiente apresentam 11 a 13% mais chances de olhar positivamente para a própria vida quando comparados aos não membros, enquanto ainda reduziam suas emissões totais em 16%, com reduções significativamente maiores em algumas áreas específicas.

"Descobrimos que os membros de iniciativas [favoráveis ao meio ambiente] comem mais alimentos à base de plantas e usam mais roupas de segunda mão," disse Diana Ivanova, da Universidade de Leeds (Reino Unido). "Os membros foram capazes de reduzir suas pegadas de carbono em 43% para emissões relacionadas a alimentos e 86% para emissões relacionadas a roupas".

Infraestrutura insustentável

Mas nem tudo dá o resultado esperado.

Por exemplo, os pesquisadores descobriram que, mesmo que os membros das iniciativa favoráveis ao meio ambiente tendessem a andar mais de bicicleta e ligar menos o ar-condicionado e o aquecedor em comparação com os não-membros, suas pegadas de carbono para moradia e transporte foram muito semelhantes às pessoas que não estavam envolvidas em iniciativas.

Um fator importante para isso, disse Ivanova, é que as escolhas e emissões de transporte e habitação estão mais fortemente vinculadas à infraestrutura insustentável existente.

Em outras palavras, você pode querer viajar mais de transporte público, ou mesmo em barcos impulsionados por energia solar, como Greta Thunberg, mas se não houver um sistema de transporte público na sua região, você não vai conseguir.

E você pode usar menos energia para manter sua casa aquecida ou resfriada, mas se sua casa não estiver termicamente isolada da maneira adequada, você não irá economizar o quanto gostaria.

Não dá para salvar o planeta no varejo

Uma conclusão mais preocupante do estudo é que, embora os membros das iniciativas ambientais tenham conseguido reduzir suas pegadas de carbono, os resultados não bastariam para que a sociedade mantivesse o aquecimento global em uma média de 2° C.

E a diferença também não é pequena: A pegada média de carbono dos membros das iniciativas ambientais foi cinco vezes maior do que a quantidade per capita necessária para atingir as metas globais se toda a população fizesse o mesmo.

"Existem muitas maneiras de as pessoas e o planeta coexistirem harmoniosamente," disseram Vita e Ivanova. "As iniciativas de base são uma parte negligenciada, mas essencial da solução. Se atrapalharmos seu crescimento limitando seu acesso a recursos, ou se forem prejudicados pela burocracia, perderemos um importante mecanismo de mudança social - a experimentação. Mas todas as nossas esperanças na disposição das pessoas de mudar voluntariamente são irrealistas. Também precisamos de sociedades, cidades e comunidades que ofereçam opções de baixo carbono como opção padrão."

Checagem com artigo científico:

Artigo: Happier with less? Members of European environmental grassroots initiatives reconcile lower carbon footprints with higher life satisfaction and income increases
Autores: Gibran Vita, Diana Ivanova, Adina Dumitru, Ricardo Garcia-Mira, Giuseppe Carrus, Konstantin Stadler, Karen Krause, Richard Wood, Edgar G. Hertwich
Publicação: Energy Research & Social Science
Vol.: 60, February 2020, 101329
DOI: 10.1016/j.erss.2019.101329
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