24/06/2008

Qual é o impacto do cigarro sobre a saúde geral da população?

Alex Sander Alcântara - Agência Fapesp

Perda de qualidade de vida

Uma pesquisa realizada na Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), avaliou em que medida o tabaco é causa importante de perda de qualidade de vida na população. O estudo constatou que 7% da carga de doença é atribuível ao hábito de fumar.

O estudo, publicado na revista Clinics, aplicou o Daly (Disability-Adjusted Life Years), um indicador que mede simultaneamente a mortalidade e a morbidade, avaliando os anos de vida perdidos por mortes prematuras com ajuste de incapacidade. Entre a população com mais de 30 anos, a proporção de Daly atribuível ao tabaco ultrapassa 13% em homens e 7% em mulheres.

Carga de doença atribuível ao tabagismo

De acordo com Andreia Ferreira Oliveira, uma das autoras do artigo, o trabalho teve o objetivo de estimar a carga de doença atribuível ao tabagismo no Rio de Janeiro, no ano 2000. A partir de estimativas de prevalências de fumantes e riscos relativos de morte, foi calculada a fração respondida pelo tabaco por causa, idade e sexo.

"O conhecimento da carga global de doença atribuível ao tabagismo é importante para que as iniciativas dirigidas ao controle do tabaco se multipliquem e se consolidem, de modo que venham a se transformar em políticas públicas articuladas e permanentes de promoção da saúde", disse à Agência FAPESP.

Mortalidade e morbidade

Segundo a pesquisadora, as informações sobre mortalidade são insuficientes para dar um panorama da qualidade de vida. Para superar essa limitação, o indicador Daly envolve também dados sobre a morbidade. Ele permite ainda avaliar a gravidade de doenças que são altamente incapacitantes, mas nem sempre letais.

"A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), a doença isquêmica do coração, a doença cerebrovascular e o câncer de traquéia, brônquios e pulmões foram responsáveis por, respectivamente, 32,2%, 15,7%, 13,2% e 11,1% do total estimado de Daly, totalizando 72,2% da carga de doença atribuível ao fumo", afirmou.

Cânceres e doenças respiratórias crônicas

Os resultados indicaram que as doenças relacionadas aos cânceres e às doenças respiratórias crônicas apresentam alta prevalência e riscos de morte. "Concluímos que é imprescindível que medidas de prevenção e controle do hábito tabágico sejam efetivamente implementadas", disse a pesquisadora, que trabalha na Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro.

Entre as principais patologias associadas à diminuição da qualidade de vida, as doenças cardiovasculares foram as mais significativas, com destaque para a doença isquêmica do coração (20,4%), na população acima de 30 anos. Mas, de acordo com o estudo, essa proporção não aumenta de acordo com a idade.

"Evidenciamos que a obstrução aérea crônica e as doenças isquêmica do coração e cerebrovasculares foram responsáveis por 61% do total de Daly na população de 30 anos e mais", afirmou Andreia.

Estratégias preventivas

O estudo constatou que os homens apresentam cargas atribuíveis maiores em relação às mulheres. O maior número se explica, segundo a pesquisadora da Fiocruz, não só pela prevalência maior do fumo, mas também "porque essas doenças acometem mais o homem".

A pesquisa estabelece também comparações entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. "Assim como no Brasil, o tabaco é causa importante de anos de vida perdidos prematuramente ou por incapacidades nos países desenvolvidos. Mas aqui a carga atribuível ao tabaco é maior se comparada aos países mais ricos", apontou.

"O hábito tabágico se inicia ainda na adolescência. Por conta disso, estratégias preventivas maciças devem ser veiculadas pela mídia, por exemplo, para evitar que milhões de jovens iniciem esse hábito ainda precocemente e, com isso, venham a se tornar dependentes dessa droga", disse Andreia.

Extrapolação dos resultados e limitações

Apesar de ter focado o Rio de Janeiro, o trabalho aponta que o padrão de morbidade observado no estado é semelhante ao da região Sudeste e que essa relação não se modificou entre 1998 e 2000.

O estudo apresenta algumas limitações, segundo a autora. "A mais importante se refere à utilização de prevalências de exposição atuais, não levando em consideração o período de latência entre a exposição ao tabaco e o aparecimento das doenças. Não foi uma decisão inédita, pois tem sido apontada, consistentemente, por outros autores", disse Andreia, que assina o artigo com Joaquim Gonçalves Valente e Iuri Costa Leite, também da ENSP.

De acordo com Andreia, o estudo pode prosseguir tentando estimar a prevalência do fumo no interior por meio de indicadores socioeconômicos. "Assim, teríamos uma estimativa mais próxima da realidade desses locais e com estratégias preventivas bem localizadas", destacou.

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