01/09/2008

Resistência de bactéria a antibióticos pode ser medida com kit desenvolvido no Brasil

Agência USP

Resistência das bactérias aos antibióticos

Pesquisa desenvolvida na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da USP (FCFRP) deu origem a um kit que possibilita determinar com mais precisão a resistência das bactérias estafilococos aos antibióticos beta-lactâmicos, abrindo a possibilidade para que o tratamento de infecções causadas por essas bactérias, como de urina, por exemplo, seja mais eficaz. A patente para o kit foi liberada pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e o produto está à disposição das indústrias interessadas na produção.

O teste, chamado de disco-difusão quantitativo, foi capaz de detectar com eficiência a resistência à oxacilina (tipo de antibiótico) e ainda apresentou custo inferior ao dos demais testes disponíveis para determinação da concentração inibitória mínima. "Com o kit é possível um laboratório de rotina usar um método de laboratório de pesquisa por um preço três vezes menor", ressalta a biomédica Izabel Cristina Palazzo, autora do trabalho.

Antibiograma

A pesquisadora simplificou o antibiograma, teste bastante utilizado em pesquisa, para que ficasse mais acessível. "O procedimento é o mesmo", explica. "Depois que a bactéria é isolada, é feita a sua cultura em placa contendo meio adequado, à qual adicionamos discos que possuem várias concentrações do mesmo antibiótico".

Segundo Izabel, se a bactéria for resistente à oxacilina, o médico já saberá que não poderá utilizar antibiótico da classe, dos ?-lactâmicos. Também é comum que ela seja resistente a várias outras classes de antibióticos, o que a caracteriza como uma bactéria multirresistente. "No teste desenvolvido é possível determinar a concentração exata do antibiótico, necessária para inibir a sua proliferação", completa.

Bactérias à espreita

As bactérias do gênero Staphylococcus são muito comuns, e encontradas em várias regiões do corpo, como na pele, ou na boca, ou na parte anterior do nariz. Elas fazem parte da microbiota do organismo. "Em casos de rompimento de barreiras que protegem o organismo, como cortes na pele, introdução de dispositivos intravenosos ou utilização de sondas, colocação de próteses, essa bactéria pode invadir nosso organismo e provocar doença", diz Izabel. "São vários os tipos de infecções que ela provoca, tanto infecções de pele, de urina, até infecções mais sérias como pneumonia, meningite e osteomielite".

Resistência da bactéria aos antibióticos

Outro problema apontado pela pesquisadora é a resistência dessa bactéria a antibióticos, que somada a dificuldade de se detectar em laboratórios esses mecanismos de resistência, complicam ainda mais o processo de tratamento. A pesquisa que deu origem ao kit foi publicada no Journal of Microbiological e é parte da tese de doutorado Estudo fenotípico e molecular da resistência aos ?-lactâmicos e glicopeptídeos em linhagens de estafilococos, que será defendida em setembro na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), com orientação da professora Ana Lúcia da Costa Darini, da FCFRP.

Linhagens bacterianas

Na pesquisa, a biomédica estudou os mecanismos de controle de resistência à oxacilina em linhagens de estafilococos. Também foram estudadas linhagens de Staphylococus hominis, subespécie novobiosepticus, causadora de sepse, infecção generalizada, que provocou um surto num hospital da cidade de São Paulo. Estas linhagens foram multirresistentes, incluindo resistência à oxacilina, novobiocina e vancomicina, limitando as opções terapêuticas para o tratamento de infecções causadas por essas bactérias.

Segundo Izabel, o estudo identificou no Staphylococus hominis, subespécie novobiosepticus, uma característica que ainda não havia sido descrita na literatura científica, que ocorreu quando se testou a vancomicina. Além do espessamento da parede celular que é o mecanismo que a célula encontra para impedir a ação da droga, comum nas células resistentes, encontrou-se uma estrutura diferenciada, que pode estar relacionada com o aprisionamento da droga na superfície da célula.

"Este pode ser um mecanismo auxiliar na resistência à vancomicina", revela a biomédica. "Assim, a bactéria impede que a parede celular seja destruída e, consequentemente evita a morte da célula bacteriana".

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