06/11/2020

Detectores de mentiras só ajudam mentirosos a mentir melhor, dizem especialistas

Redação do Diário da Saúde
Detectores de mentiras usados pela polícia não têm base científica, dizem especialistas
Vários estudos têm mostrado que a Justiça usa testes psicológicos sem verificar sua validade científica.[Imagem: Alexas_Fotos/Pixabay]

Técnica para detectar mentiras

Uma técnica de entrevista policial amplamente adotada - pelo FBI, pela polícia britânica e por autoridades de inúmeros outros países - para detectar se um suspeito está mentindo, não é adequada para ser usada desta forma, alertam especialistas.

Na verdade, há evidências de que a técnica ajude os mentirosos a se tornarem mentirosos ainda melhores.

Pesquisadores da Itália e do Reino Unido fizeram uma análise crítica da técnica de detecção de mentiras conhecida como Modelo de Declaração, uma vez que vários especialistas já manifestaram preocupações sobre o uso da técnica e sua capacidade de fazer avaliações precisas.

Normalmente, as mentiras são difíceis de detectar porque existem apenas diferenças pequenas e não confiáveis entre declarações genuínas e declarações falsas ou imaginadas. Por isso, os cientistas começaram a desenvolver técnicas de entrevista para ampliar as pistas disponíveis para enganar e melhorar o desempenho da detecção de mentiras.

Mentira do detector

A técnica do Modelo de Declaração foi construída com base na percepção de que declarações mais longas e detalhadas geralmente contêm mais pistas para o engano do que declarações mais curtas. Embora existam muitas técnicas diferentes, este Modelo está se tornando cada vez mais popular entre as autoridades policiais.

No entanto, os pesquisadores descobriram que, embora a Declaração de Modelo seja uma ferramenta promissora para a detecção de mentiras, ela não está pronta para ser usada na prática.

"Embora a técnica da Declaração de Modelo apoie os contadores da verdade a dizerem mais, também apoia os mentirosos a fazerem o mesmo. O resultado é que se torna impossível dizer a diferença entre alguém dizendo a verdade e alguém que está mentindo," disse o professor Cody Porter, da Universidade de Portsmouth.

Esta é a primeira vez que se fez uma análise crítica dessa técnica, acrescentou Porter, destacando que, "Como disciplina, somos muito bons em pesquisa, mas às vezes precisamos dar um passo para trás e ver o que realmente seria útil na prática."

"Argumentamos que, com base nas evidências de estudos anteriores, a mistura de diferentes medidas dependentes, a diversidade das técnicas de Declaração de Modelo em circulação, a falta de sustentação teórica e os efeitos do retardo no desempenho de memória dos entrevistados, a Declaração de Modelo não deveria ser usada na prática por policiais ou quaisquer outros investigadores," concluiu Porter.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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