09/03/2022

Especialistas alertam para supermedicalização da morte e pedem que sociedade repense o morrer

Redação do Diário da Saúde
Especialistas alertam para supermedicalização da morte e pedem que sociedade repense o morrer
Os avanços tecnológicos e médicos alimentaram a ideia de que a ciência poderia derrotar a morte, deixando a espiritualidade de lado. [Imagem: CC0 Public Domain/Pixabay]

Ciência não pode vencer a morte

Especialistas publicaram um manifesto pedindo uma reavaliação radical de como hospitais, médicos e a sociedade como um todo cuidam das pessoas que estão morrendo.

A atual ênfase excessiva em tratamentos agressivos para prolongar a vida, as vastas desigualdades no acesso a cuidados paliativos e os altos custos médicos no final da vida estão levando milhões de pessoas a sofrer desnecessariamente no final da vida, argumentam eles, defendendo o chamado "morrer bem", ou "boa morte".

A pandemia de covid-19 apenas exacerbou essa "morte excessivamente medicalizada", com pacientes morrendo em unidades de terapia intensiva muitas vezes sem qualquer possibilidade de comunicação com suas famílias.

Segundo o relatório, os avanços tecnológicos e médicos alimentaram a ideia de que a ciência poderia derrotar a morte, o que levou a uma dependência excessiva de intervenções médicas e alienando ainda mais as comunidades.

Com isso, a sociedade passou a ter como prioridade evitar a morte, como se isso fosse possível, em vez de se concentrar em reduzir o sofrimento desnecessário. O resultado é que muitas pessoas em todo o mundo "estão tendo uma morte ruim".

Reconhecimento do fim da vida

Por conta dessa situação, os pesquisadores da Comissão Lancet sobre o Valor da Morte propõem uma nova visão para a morte e o morrer, com maior envolvimento da comunidade ao lado dos serviços de saúde de e assistência social e com maior apoio ao luto.

Especialistas alertam para supermedicalização da morte e pedem que sociedade repense o morrer
Um luto forte demais pode afetar a saúde. Mas há diversas maneiras para lidar com o luto.
[Imagem: S. Hermann-F. Richter/Pixabay]

Reunindo especialistas em saúde e assistência social, ciências sociais, economia, filosofia, ciência política, teologia, trabalho comunitário, bem como pacientes e ativistas comunitários, a Comissão analisou como as sociedades em todo o mundo percebem a morte e o cuidado das pessoas que morrem, fornecendo recomendações aos formuladores de políticas, governos, sociedade civil e sistemas de saúde e assistência social.

A Comissão também pede melhorias na "alfabetização da morte" e aborda as desigualdades generalizadas que continuam ocorrendo não apenas ao longo da vida, mas também quando a morte se aproxima: Os sistemas de saúde e sociais em todo o mundo estão falhando em dar cuidados apropriados e compassivos às pessoas que estão morrendo e suas famílias.

A recomendação é que as atitudes públicas em relação à morte e ao morrer sejam reequilibradas, saindo de uma abordagem estreita e medicalizada em direção a um modelo comunitário compassivo, onde comunidades e famílias trabalhem com os serviços de saúde e assistência social para cuidar das pessoas que estão morrendo.

Recomendações para lidar com a morte, o morrer e o luto

A Comissão preconiza cinco princípios de uma nova visão para a morte e o morrer:

  1. Os determinantes sociais da morte, do morrer e do luto devem ser enfrentados, para permitir que as pessoas tenham uma vida mais saudável e morram de forma mais equitativa.
  2. Morrer deve ser entendido como um processo relacional e espiritual, em vez de simplesmente um evento fisiológico, o que significa que os relacionamentos baseados na conexão e na compaixão são priorizados e centralizados no cuidado e apoio das pessoas que estão morrendo ou enlutadas.
  3. As redes de atenção às pessoas que estão morrendo, cuidando e sofrendo, devem incluir famílias, membros da comunidade em geral, atuando juntamente com os profissionais.
  4. Conversas e histórias sobre a morte cotidiana, o morrer e o luto devem ser encorajados para facilitar conversas públicas, debates e ações mais amplas.
  5. A morte deve ser reconhecida como tendo valor. "Sem a morte, todo nascimento seria uma tragédia," concluiu o documento.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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