04/12/2017

Após acidente nuclear poucas pessoas deveriam ser obrigadas a deixar suas casas, defendem cientistas

Redação do Diário da Saúde
Após acidente nuclear poucas pessoas deveriam ser obrigadas a deixar suas casas, defendem cientistas
Vários países, incluindo Japão e Alemanha, estão tentando livrar-se de suas centrais nucleares para evitar novas tragédias.[Imagem: CC0 Public Domain/Pixabay]

Valor J

Pouquíssimas pessoas deveriam ser instruídas, ou obrigadas, a deixar suas casas após um grande acidente nuclear, como o que aconteceu em março de 2011, com o desastre nuclear da usina de Fukushima Daiichi, após o tsunami que atingiu o Japão.

Esta é a conclusão um tanto surpreendente de uma pesquisa liderada pelo Dr. Philip Thomas e que envolveu cientistas das universidades de Bristol, Londres, Manchester e Warwick, além da Open University, todas no Reino Unido.

A equipe usou um indicador conhecido como "Valor J" para comparar o custo da realocação das famílias como medida de segurança e o aumento da expectativa de vida que essa realocação proporciona para essas pessoas. O valor-J é um método recente que se propõe a avaliar quanto deve ser gasto para proteger a vida humana e o meio ambiente.

Os pesquisadores concluíram que é difícil justificar a realocação de qualquer pessoa de Fukushima Daiichi, onde, quatro anos e meio após o acidente, cerca de 85 mil das 111 mil pessoas que foram transferidas pelo governo japonês ainda não retornaram às suas casas.

Perda de tempo vida para a poluição

Como a demonstração dos resultados pode parecer uma fria matemática contra o tempo de vida das pessoas, é importante verificar o que já acontece nas cidades atuais, mesmo na ausência de algo considerado como um desastre ambiental.

Por exemplo, citam os pesquisadores, uma pessoa que vive em uma cidade como Londres perde quatro meses e meio de sua expectativa de vida devido à poluição do ar. O residente médio de uma cidade como Manchester, por sua vez, perde 3,3 anos em relação a regiões menos poluídas. Apenas para continuar no exemplo inglês, crianças nascidas em uma cidade industrial como Blackpool perdem 8,6 anos de vida em média em comparação com crianças nascidas em bairros saudáveis de Londres.

Perda de tempo de vida para a radiação

Após o pior acidente nuclear do mundo, em Chernobyl em 1986, no que era então parte da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), o método do valor-J recomendaria a relocalização das pessoas quando sua permanência resultasse em uma perda da expectativa de vida de nove meses ou mais devido à exposição à radiação remanescente.

Isso significa que 31 mil pessoas precisariam ser transferidas, com o número aumentando para 72.000 se toda a comunidade fosse evacuada quando 5% de seus residentes pudessem perder nove meses de vida ou mais.

Na verdade, 116 mil pessoas foram reassentadas nos meses após o acidente, com uma segunda realocação de 220.000 pessoas feita em 1990. No entanto, os pesquisadores calcularam que as 900 pessoas com o maior risco de radiação entre as 220.000 da segunda realocação perderiam apenas três meses de expectativa de vida se permanecessem em suas casas.

Com base no valor-J, apenas de 10 a 20 por cento das 336.000 pessoas que deixaram permanentemente suas casas depois do acidente do reator nuclear de Chernobyl precisariam efetivamente deixar suas casas com base no argumento da proteção contra a radiação remanescente.

"A realocação em massa é dispendiosa e traumática. Mas ela corre o risco de se tornar estabelecida como a principal escolha de política após um grande acidente nuclear. Não deveria ser. A remediação deve ser a palavra de ordem para o tomador de decisão, e não a realocação," defendeu o professor Philip Thomas.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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