30/10/2019

Autismo pode ser moldado por neurônios fora do cérebro

Redação do Diário da Saúde
Autismo pode ser moldado por neurônios fora do cérebro
A Dra Orefice espera que essas descobertas possam ajudar na formulação de novos fármacos que possam atuar sem adentrar ao cérebro, evitando os efeitos colaterais prejudiciais associados a alguns medicamentos.[Imagem: AAAS/Science]

Neurônios do toque

A equipe da Dra Lauren Orefice, da Universidade Harvard (EUA), descobriu que neurônios fora do cérebro - mais especificamente, neurônios que controlam a sensação do toque - podem alterar a função cerebral e moldar comportamentos associados ao transtorno do espectro autista.

Seu trabalho em camundongos demonstra que essas células, chamadas neurônios somatossensoriais periféricos, podem ser alvos terapêuticos eficazes para melhorar alguns sintomas relacionados ao autismo.

O transtorno do espectro autista envolve distúrbios altamente diversos, associados a uma ampla variedade de sintomas, incluindo dificuldade de interação e comunicação social, comportamentos e interesses repetitivos e reatividade anormal ao toque, luz e sons.

Orefice e seus colegas lidaram com um dos sintomas mais comuns - a super-reatividade ao toque - para investigar o autismo, levantando a hipótese de que o estudo de neurônios somatossensoriais periféricos, onde ocorre a sensação de toque, poderia revelar novos insights sobre os comportamentos associados à condição.

Autismo fora do cérebro

Os pesquisadores descobriram que a exclusão dos genes Mecp2, Gabrb3 ou Shank3 - que têm sido relacionados ao autismo - em neurônios residentes no cérebro não produziu nenhum sintoma associado ao transtorno. Por sua vez, as mesmas mutações genéticas em neurônios somatossensoriais periféricos que recebem sinais de toque da pele correlacionaram-se com um aumento da sensibilidade ao toque.

Este resultado contesta a visão amplamente difundida entre os cientistas de que os sintomas do autismo estão principalmente ligados a neurônios disfuncionais no cérebro.

Os modelos de camundongos também apresentaram prejuízos sociais e comportamentos semelhantes aos da ansiedade, levando os pesquisadores a investigar se a melhoria da função dos neurônios periféricos pode não apenas reduzir a sensibilidade ao toque, como também aliviar outros sintomas relacionados ao autismo.

Em seis modelos diferentes de cobaias, eles constataram que a inibição de algumas atividades sensoriais nos neurônios periféricos diminuiu a hipersensibilidade ao toque e levou a grandes melhorias no desenvolvimento cerebral, nos relacionamentos sociais e nos comportamentos semelhantes aos da ansiedade.

A Dra Orefice espera que essas descobertas possam ajudar na formulação de novos fármacos que possam atuar seletivamente nos neurônios somatossensoriais periféricos, sem adentrar ao cérebro, evitando os efeitos colaterais prejudiciais associados a alguns medicamentos que agem no cérebro.

Estes resultados deram à pesquisadora o prêmio Eppendorf and Science Award for Neurobiology, concedido anualmente pela conceituada revista Science.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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