13/08/2012
Brincadeiras na infância ajudam a modelar vida adulta
Thais Borges - UFBA
Funções das brincadeiras
Poderia a brincadeira de pega-pega ser o ingrediente necessário para a formação de futuros vencedores dos 100m rasos? Ou o conhecido "brincar de casinha" ser uma máquina de formação de futuras donas de casa e pais de família?
A resposta é que isso acontece naturalmente.
Como explica a pesquisadora Ilka Bichara, professora do Instituto de Psicologia da UFBA (Universidade Federal da Bahia), que estuda o tema desde 1990, brincadeiras na infância deixam uma herança para a vida adulta.
"Durante muito tempo se acreditou, na psicologia, que a principal função da brincadeira seria a de treino para as habilidades futuras", lembra.
Contudo, segundo Ilka, essa crença e as teorias que a fundamentavam foram revistas, e a pesquisadora ressalta que atualmente acredita-se que o indivíduo não tem fases indissociadas na vida - todas as vivências de uma pessoa seriam, portanto, partes de um processo de formação e desenvolvimento, funcionando assim como esse "treino".
"Nas brincadeiras, há negociação, exercício de habilidades sociais complexas, formação de valores e conceitos, como também há emoção", explica.
Para a professora, as brincadeiras são vividas, e essas vivências tornam-se parte do indivíduo.
Como resultado, em brincadeiras, a criança traria essas suas experiências para uma nova interação com outras crianças, da mesma maneira que um adulto o faz.
"A criança não é um ser passivo que vai apenas reproduzindo aquilo que vê, pelo contrário, ela é um ser ativo, que reinterpreta e recria a realidade em suas brincadeiras e, com isso, cria cultura", afirma Ilka.
Faz-de-conta
Não seria de surpreender se os adultos com maior criatividade fossem aqueles que mais brincaram de "faz-de-conta", na infância.
Essas brincadeiras, segundo a pesquisadora, funcionam de maneira diferente da ideia que a maioria das pessoas tem, de que seria uma fuga da realidade.
Ilka reforça que é através do faz-de-conta que a criança tenta compreender a realidade a sua volta, assim como forma suas impressões e valores.
Segundo Ilka, o faz-de-conta pressupõe criatividade e ao mesmo tempo a estimula.
"A criança está sempre criando e recriando coisas. Todas as crianças brincam de faz-de-conta, porém os enredos, papéis, objetos, cenários, e diálogos variam conforme o contexto tanto físico quanto cultural", analisa.
Novos universos de brincadeiras
A pesquisadora Ilka Bichara lembra ainda que as brincadeiras no ambiente virtual não atrapalham o desenvolvimento das atividades da criança.
"As brincadeiras mudam, passam a ter outros conteúdos, mas continuam. Nós é que temos dificuldade em vê-las, porque são diferentes das que brincávamos em nossa infância", pondera.
Para Ilka, o ambiente virtual é um novo palco de brincadeiras, inclusive as de faz-de-conta. "Pais e educadores precisam ficar mais atentos a essa nova realidade", aconselha.
Brinquedos da nova era tecnológica, segundo a pesquisadora, não implicam, necessariamente, na limitação da criatividade infantil, especialmente se puderem ter usos diferentes para os quais foram inicialmente projetados. "Na verdade, o que limita a criatividade das crianças não é o objeto, mas as restrições dos adultos."
Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br
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