14/09/2009

Campinas lança publicações sobre acidentes de trânsito e violências

Denize Assis

Acidentes e violência

A Prefeitura de Campinas, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, lançou dois valiosos instrumentos para a compreensão da acidentalidade e da violência doméstica e sexual e para a implementação de políticas de atenção às vítimas e prevenção desses acidentes e violências.

São dois boletins impressos: Acidentes de Trânsito: Ocorrências e Mortalidade e Sistema de Notificação de Violências.

Importância do profissional de saúde

"Trata-se de documentos que promovem diagnósticos da situação dos acidentes e da violência sexual e doméstica no município de Campinas e servem como subsídio para a intervenção adequada no acolhimento das vítimas, assistência e seguimento na rede de cuidados", disse o secretário de Saúde, José Francisco Kerr Saraiva na abertura do evento.

José Francisco Saraiva ressaltou o papel determinante do profissional de saúde neste processo. Destacou a importância da intersetorialidade e a responsabilidade do Estado, da sociedade e de cada um no processo da cultura de paz.

Acidentes de Trânsito

O boletim Acidentes de Trânsito: Ocorrências e Mortalidade revela que os acidentes constituem-se em Campinas no principal motivo de morte no grupo das causas externas, do qual fazem parte também os homicídios. Foram 203 acidentes com vítimas fatais em 2008 de moradores de Campinas, ocorridos em rodovias e em vias públicas municipais. Os homens jovens constituem-se nas principais vítimas. O consumo de bebidas de álcool é o principal fator associado aos acidentes.

Segundo o estudo, houve expressivo aumento na frota de veículos entre 1995 e 2008 no município. Enquanto em 95 havia 39 veículos para cada 100 habitantes, em 2008 este índice passou para 61/100. Isto significa que havia 2,6 pessoas por veículo em 1995, enquanto em 2008 esse índice atingiu 1,6 pessoas por veículo.

Neste cenário, destaca-se o aumento no número de motos. Em 95 havia 34 pessoas por moto. Atualmente, essa relação é de 11 pessoas por moto. Outro dado interessante é que, em 1995, 8% da frota era constituída por motos. Hoje, a frota de motos corresponde a 14% do total de veículos.

O aumento no número de motos teve repercussão direta nos acidentes. Atualmente, o risco de ocorrência de acidente envolvendo este tipo de veículo é 3,6 vezes maior do que quando o transporte envolvido é um carro. Para os acidentes com motos, também é maior a chance de vítima fatal, de vítima pedestre e de óbitos em vítimas pedestres.

Cerca de 40% das mortes por acidentes de trânsito de homens jovens decorrem de acidentes com motos. Nas mulheres, na faixa de 15 a 24 anos, esse percentual já atinge 30%.

Também apareceu no estudo o dado envolvendo transporte coletivo. O risco de vítimas fatais é 4,2 vezes superior nos acidentes com ônibus em comparação aos que envolvem micro-ônibus, segundo o boletim.

Os acidentes fatais ocorrem em toda área urbana do município e em rodovias que cortam a cidade. No entanto, é possível identificar algumas regiões de densidade mais elevada, com quase 11 mortes por quilômetro quadrado.

No perímetro urbano, os maiores índices de acidentes são observados na região das proximidades das avenidas Amoreiras, Mirandópolis e Ana B. Bierrembach, na abrangência do CS Vila Rica, região sudoeste.

Em relação às rodovias, os maiores índices de acidentes fatais são verificados na confluência das rodovias Santos Dumond e Bandeirantes e ainda na rodovia Gal. Milton Tavares de Lima (Campinas-Paulínia) entre os quilômetros 116 e 117.

O boletim Acidentes de Trânsito: Ocorrências e Mortalidade foi elaborado pela Secretaria Municipal de Saúde em parceria com o Centro Colaborador em Análise de Situação de Saúde do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. A Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) e o Núcleo de Prevenção de Violências e Acidentes e Promoção à Saúde tiveram participação especial na elaboração do documento.

Violência doméstica e sexual

As violências doméstica e sexual são registradas em Campinas por meio do sistema de notificação eletrônico SISNOV. Este sistema revela que, no período de 1 de julho de 2005 a 31 de dezembro de 2008, foram registrados 2.676 casos de violações.

A mãe ocupa o primeiro lugar do ranking de denúncias entre os vários agentes violadores identificados, com 985 notificações. A explicação é que a mulher é das figuras mais permanentes no espaço doméstico, o que cria condições facilitadoras para violações.

Em segundo lugar aparece o pai, com 588. "Ou seja: as pessoas que deveriam assegurar o desenvolvimento e proteção das crianças são seus violadores", disse Maria de Lourdes Magalhães, coordenadora da linha de cuidados da Prevenção às Violências e Cultura da Paz do Ministério da Saúde.

Maria de Lourdes, que integrou a mesa de abertura do evento, disse que a experiência de Campinas, por meio do Iluminar - Cuidando das Vítimas de Violência Sexual e Doméstica, serve de laboratório para o Ministério da Saúde. "Avançamos bastante com a contribuição de Campinas. Quero parabenizar por este trabalho que dá visibilidade para subsidiar as principais políticas e atuar no que está acontecendo", afirmou.

De acordo com o SINOV nº 3, as violências mais frequentes são as de negligência e sexual. A faixa etária mais vulnerável é a de 0 a 11 anos, o que reforça que as crianças estão mais sujeitas a este fenômeno. Isto não diminui a importância das demais violências - psicológica e física - e da idade entre 12 e 18 anos.

Este boletim é o terceiro desde que Campinas iniciou o Sistema de Notificação de Violências, em junho de 2005. Elaborado pelo Comitê Intersetorial e Interinstitucional do SISNOV, aponta que a notificação de casos de violência doméstica contra crianças e adolescentes e de violência sexual cresceu ao longo dos anos.

Isto confirma o compromisso dos diversos profissionais e instituições de quebrar a barreira de silêncio que cerca as situações de violência. Mas notificar só não basta.

Segundo a médica ginecologista Verônica Gomes Alencar, responsável pela implantação do Iluminar e atualmente atuando na Coordenadoria da Mulher, este compromisso constituiu-se em um passo importante no processo de implementação das redes de assistência e proteção às vítimas de violência em Campinas e tem sido decisivo na construção e consolidação das políticas de enfrentamento à violência, promoção da saúde e cultura de paz no município de Campinas.

"Conseguimos zerar a gravidez decorrente de estupro, com a anticoncepção de emergência, e não tivemos nenhum caso de Doenças Sexualmente Transmissíveis, incluindo a Aids e a hepatite, nos pacientes que concluíram o tratamento - de seis meses -, seguindo norma técnica do Ministério da Saúde. Atualmente, atendemos 100% das vítimas e 90% delas chegam ao serviço de saúde em até 12 horas após ter sofrido a violência, o que mostra a eficiência da rede", disse Verônica.

A médica ressaltou a importância da rede de serviços envolvidos e a qualidade do trabalho da Guarda Municipal.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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