09/01/2015

Ter câncer pode ser uma questão de azar?

Com informações da BBC e Science

Puro azar?

"A ocorrência da maior parte dos tipos de câncer pode ser atribuída mais à 'má sorte' do que a fatores de risco conhecidos, como o hábito de fumar."

Esta conclusão controversa é de Cristian Tomasetti e Bert Vogelstein, da Escola de Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins (EUA), e está em um estudo que acaba de ser publicado na revista Science.

A dupla chegou a essa conclusão para tentar explicar porque alguns tecidos do corpo são mais vulneráveis ao câncer do que outros.

Por exemplo, as toxinas do cigarro podem explicar por que o câncer de pulmão é mais comum. Mas, apesar do sistema digestivo estar mais exposto a toxinas do ambiente do que o cérebro, os tumores cerebrais são três vezes mais comuns que os de intestino.

Os dois pesquisadores concluíram que dois terços de todos os tipos de câncer analisados são originados de forma aleatória por mutações genéticas, independentemente do estilo de vida levado pelo paciente.

"Estes resultados sugerem que apenas um terço da variação no risco de câncer entre os tecidos é atribuível a fatores ambientais ou predisposições herdadas. A maioria é devido à 'má sorte', isto é, a mutações aleatórias que surgem durante a replicação do DNA em células-tronco normais, não cancerosas," escrevem os dois cientistas.

É importante salientar que a dupla não fez qualquer experimento, tendo se limitado a analisar estatisticamente resultados de outros estudos científicos já publicados, nos quais outros cientistas analisaram amostras de tecidos.

Divisão celular

Células velhas e desgastadas do corpo são constantemente substituídas por meio de células-tronco, que se dividem para formar novas células. Mas em cada divisão há o risco de que ocorra uma mutação perigosa, que aumenta a chance da célula-tronco se tornar cancerígena.

O ritmo dessa renovação celular varia de acordo com a região do corpo, sendo mais rápida no intestino e mais lenta no cérebro, por exemplo.

Os pesquisadores compararam o número de vezes que essas células se dividem em 31 tecidos do corpo durante a vida de um indivíduo com o índice de incidência de câncer nessas partes do corpo.

Eles concluíram que dois terços dos tipos de câncer eram "causados pelo azar" de células-tronco em processo de divisão sofrerem mutações imprevisíveis. Esses tipos de câncer incluem glioblastoma (câncer de cérebro), cânceres no intestino delgado e no pâncreas.

O outro lado

Por outro lado, uma pesquisa diferente conduzida pela organização não-governamental Cancer Research UK (Reino Unido) concluiu que mais de 40% de todos os casos de câncer são causados pelo estilo de vida levado pelo paciente.

E os dados mais recentes, citados pelos próprios pesquisadores, reconhecem que o percentual de cânceres herdados geneticamente é limitado a algo entre 5 e 10% dos casos.

"Estimamos que mais de quatro em cada dez casos poderiam ser prevenidos por mudanças no estilo de vida, como não fumar, manter um peso saudável, ter uma dieta saudável e reduzir o consumo de álcool", disse a médica Emma Smith, porta-voz da entidade britânica em entrevista à BBC. "Fazer essas mudanças não é uma garantia contra o câncer, mas aumenta as chances a seu favor."

Além disso, estudos já demonstraram que o estilo de vida altera o DNA e influencia o metabolismo.

"É vital que continuemos a fazer progressos em detectar o câncer mais cedo e melhorar os tratamentos, mas ajudar as pessoas a entender como elas podem reduzir o risco de desenvolver câncer continua sendo fundamental na luta contra a doença," concluiu Smith.

Afinal, se a luta contra o câncer é uma luta contra o azar, haveria muito poucas justificativas para os esforços feitos por pesquisadores e médicos de todo o mundo para tentar enfrentar a doença.

É importante lembrar que um único estudo científico não consegue estabelecer de forma definitiva o que ocorre em situações tão amplas e diversas quanto aquelas envolvidas na gênese do câncer. Agora outros pesquisadores deverão avaliar os resultados e os métodos utilizados pela equipe para tentar aferir em que proporção o "azar das mutações genéticas aleatórias" impacta o surgimento da doença.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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