20/01/2010 Cinco emoções que você nunca soube que tinhaMoisés de Freitas
Um dos testes idealizados por Paul Ekman para reconhecimento das emoções. 1) Tristeza. 2) Nojo. 3) Alegria. 4) Raiva controlada. 5) Medo controlado. 6) Raiva controlada. 7) Medo ou surpresa. 8) Desdém ou orgulho. 9) Preocupação, apreensão ou leve medo.[Imagem: Paul Ekman]
Seis emoções básicas Alegria, tristeza, raiva, medo, surpresa e nojo. Você provavelmente não vai concordar, mas estas são, segundo os psicólogos, as seis emoções básicas do ser humano. São as chamadas Big Six, as Seis Grandes emoções, consideradas universais no sentido de que qualquer ser humano, ao senti-las, não conseguirá evitar mostrá-las no rosto e as mostrará sempre com as mesmas expressões faciais. E por que ficaram de fora todos aqueles sentimentos mais nobres, amizade, amor e compaixão, por exemplo, universalmente aceitos como representações da mais pura seiva do espírito humano? Animalidade científica Você pode diferenciar entre emoções e sentimentos, se quiser. Mas aqui a questão é metodológica. A ciência estuda o ser humano no seu aspecto biológico. A rigor, afirmam os cientistas mais puristas, só existe o biológico - a mente emana do cérebro, o espírito emana do corpo, enfim... o software emana do hardware. Ou seja, apesar de soar esdrúxula para 99% dos não-cientistas, a proposta mais científica atualmente aceita é a de que, quando se trata do ser humano, o superior deriva do inferior. Assim, num mundo totalmente biológico, as emoções que devem ser levadas a sério, segundo os cientistas, são aquelas que existem para cumprir um papel como auxiliares na sobrevivência. Logo, "emoções de verdade" devem motivar atividades que nos ajudem a ter algum tipo de sucesso em uma "luta pela vida", contra inimigos, contra animais ferozes, contra concorrentes na reprodução e contra as hostilidades da própria natureza - do tipo que se vê em documentários sobre o início da evolução humana, quando ainda estávamos mais próximos dos símios. Mas os tempos, como sempre, estão mudando, ou não seriam tempos. Até mesmo a ciência vem abrindo espaço, ainda pouco espaço, é verdade, para a "humanidade do homem", tirando-o daquele paraíso perdido selvagem, idealizado pelos cientistas para exorcizar desse animal tão diferente tudo aquilo que o faz ser diferente dos outros animais. E a ciência vai, aos poucos, aderindo ao fato por ela mesma desvendado de que, afinal de contas, evoluímos. Emoções do homem moderno Nossos ancestrais podem ter tido a necessidade diária do medo para fugir dos predadores, da raiva para vencer os inimigos e do nojo para evitar as doenças. Mas a vida em civilização trouxe elementos mais sutis à tona, fazendo surgir um monte de novos candidatos a emoções básicas em um mundo onde a vida vai muito além da sobrevivência. Avareza, vergonha, tédio, depressão, ciúme e amor, por exemplo, podem ser indicados como marcas registradas da idade moderna. E não apenas estas. Algumas emoções mais obscuras podem estar se tornando cada vez mais relevantes. Jessica Griggs, escrevendo para a revista britânica New Scientist, entrevistou especialistas e compilou uma lista. A seguir, estão suas cinco preferidas, aquelas que poderiam se juntar às outras para eventualmente formar as Big Eleven. Ou talvez fosse melhor chamá-las de B11, já nos preparando para os infindáveis acréscimos que, com maior ou menor emoção, cada um tentará fazer por si próprio. Jonathan Haidt mantém diversos sites sobre as emoções e os sentimentos, incluindo A Hipótese da Felicidade. [Imagem: Divulgação] Elevação Em meio à turbulência econômica do ano passado, o discurso de posse do Presidente Barack Obama foi forte e inspirador. Milhões de eleitores, absorvendo cada uma de suas palavras, tinham lágrimas nos olhos, uma sensação de formigamento na parte de trás do pescoço e uma sensação quente no peito como se ali estivesse uma abertura para permitir que o amor e a esperança jorrassem. Este sentimento é o que Jonathan Haidt, da Universidade da Virgínia, chama de elevação. O pesquisador acredita ter encontrado os traços da elevação na liberação de oxitocina (ou ocitocina), que gera sensações de acolhimento e calma. É esse hormônio que ativa o nervo vago e estimula os músculos da garganta e do pescoço - o que explicaria as sensações dos eleitores de Obama. A oxitocina já foi apontada em várias pesquisas como estando ligada a sentimentos nobres - veja, por exemplo, a reportagem Nascidos para o amor: teoria defende a sobrevivência do mais bondoso. É também a oxitocina que faz as mães liberarem o leite que amamenta seus filhos. Em seus experimentos, Haidt identificou a liberação de um maior volume de oxitocina em mães que, ao amamentar, assistiam programas de TV inspiradores, e menos naquelas que assistiam programas sem sentido emocional. Assim, a elevação tem tanto um componente fisiológico quanto um componente motivacional. No entanto, ao contrário dos Seis Grandes emoções, ela não tem uma expressão facial característica evidente, o que pode explicar por que ela saiu dos radares da pesquisa científica há muito tempo. "Se você observar o contexto, você pode ser capaz de detectar um ligeiro abrandamento das expressões," diz Haidt. "Às vezes, as sobrancelhas são levantadas como se a pessoa estivesse triste." A elevação também é relativamente rara. Geralmente as pessoas a experimentam menos de uma vez por semana, embora existam grandes diferenças individuais. Contudo, sempre que ela surge, está envolvida com coisas altamente significativas. "Se você pedir às pessoas que relembrem as melhores experiências de toda a sua vida, os momentos de elevação provavelmente estarão entre os cinco primeiros", diz Haidt. Mais do que isso, se pudermos domar a elevação e aproveitá-la para construir a confiança mútua, isto poderia ter relevância especial no mundo moderno para reforçar ou reparar relações interpessoais. Haidt vislumbra um tempo, por exemplo, quando os terapeutas conjugais poderão tentar induzir a elevação a fim de aumentar a eficácia das sessões de aconselhamento de casais. O psicólogo Paul Ekman é um dos pioneiros no estudo das emoções e de suas expressões faciais, tendo pesquisado as emoções entre várias culturas ao redor do mundo. [Imagem: Tenzin Choejor] Interesse Sua cabeça inclina-se levemente para um lado, sua fala se acelera e os músculos em sua testa e em torno dos seus olhos se contraem conforme você se vê absorvido em aprender uma música nova, entender a termodinâmica do Universo ou talvez simplesmente revisar sua coleção de selos. O interesse pode ser mais difícil de detectar do que o medo ou a alegria, mas ele de fato possui uma das marcas fundamentais de uma emoção básica - a sua própria expressão facial. Desde 1960, quando Paul Ekman fez os trabalhos pioneiros neste campo, os psicólogos têm procurado por expressões faciais universais para ajudar a medir e classificar as emoções. O interesse também parece ter um propósito. O psicólogo Paul Silvia, da Universidade de Carolina do Norte, acredita que ele motiva as pessoas a aprender - não por dinheiro, não para uma prova, mas para seu próprio bem, para aumentar os seus conhecimentos apenas porque eles desejam esse conhecimento. Isto poderia explicar porque o interesse encontrou seu próprio espaço no mundo moderno. Ele pode ser visto como um contrapeso para o medo e a ansiedade que envolvem os eventos com os quais não estamos familiarizados. Sem o interesse poderíamos nos afastar das coisas novas ou complicadas porque elas tendem a nos deixar nervosos. "Isso faz sentido se pensarmos em termos de história evolutiva, quando as situações desconhecidas podem muitas vezes serem perigosas," diz Paul. "Mas, no mundo moderno, isto seria desastroso porque não poderíamos prosperar intelectualmente". Outro argumento forte para elevar o status do interesse como emoção básica é que ele pode dar errado. Um critério que alguns psicólogos usam para definir uma emoção básica é que ela deve ter aberrações ou patologias associadas. O medo excessivo, por exemplo, gera o pânico ou a ansiedade crônica. Da mesma forma, interesse demais resulta em comportamentos compulsivos, repetitivos e extenuantes. Assim, como o interesse entra na liga das emoções? Como criaturas naturalmente curiosas, nós o experimentamos diariamente e dedicamos um bocado de tempo e inteligência com as coisas que nos interessam. Apenas isso já seria suficiente para torná-lo um "Big". Mas o poder real do interesse, de acordo com Paul, reside na sua capacidade de nos manter engajados em nossas vidas frenéticas, em vez de deixar-nos dominar pela sobrecarga de informações. Esta também é uma razão para tentar compreender o que estimula o interesse. "Temos de encontrar formas de ajudar as pessoas a aprenderem, para evitar que elas se tornem ansiosas e se deem bem frente a essa quantidade monstruosa de informação", diz ele. Sara Algoe, da Universidade da Carolina do Norte, descobriu que a gratidão faz os casais sentirem-se mais conectados. [Imagem: Divulgação] Gratidão A gratidão ainda tem um longo caminho a percorrer antes que possa satisfazer os critérios mais rigorosos para se enquadrar como uma emoção básica. Sua expressão facial ainda não foi identificada, embora se possa especular com, talvez, um sorriso e uma leve inclinação frontal da cabeça. No tocante a um propósito, contudo, a gratidão nos motiva a agir: ela nos faz querer reconhecer e retribuir uma gentileza ou um gesto de bondade. Assim, a gratidão pode simplesmente assegurar um mecanismo de compensação, mas novas pesquisas sugerem que pode haver mais do que isso. Sara Algoe, da Universidade da Carolina do Norte, descobriu que a gratidão faz os casais sentirem-se mais conectados. Ela argumenta que os gestos verdadeiramente significativos nos ajudam a encontrar as pessoas que realmente nos cativam. O sentimento de gratidão é um sinal de que devemos conhecer melhor essas pessoas já que provavelmente poderemos contar com elas no futuro. Assim, uma vez que você está em um relacionamento romântico, o sentimento de gratidão serve como um pequeno lembrete de quão importante e significativo é o seu parceiro. A longo prazo, diz Algoe, a gratidão está lá para ajudar a promover um ciclo positivo de dar e receber, criando uma espiral ascendente de satisfação no relacionamento. Se Algoe estiver correta, a gratidão tem grandes benefícios potenciais no mundo moderno. Relacionamentos de alta qualidade são bons para nossa saúde, conforme destaca sua colega Barbara Fredrickson. Ela vai mais longe em seu livro Positividade, sugerindo que o cultivo da gratidão poderia aumentar a harmonia social em grupos e comunidades, promover uma menor a rotatividade entre os trabalhadores, aumentar o voluntariado nas comunidades, eventualmente diminuir a criminalidade e induzir à produção de menos lixo e menos desperdício de recursos. Jessica Tracy, uma das poucas psicólogas no mundo que trabalham com o orgulho, faz a distinção entre o que ela chama de "orgulho arrogante" e "orgulho autêntico". [Imagem: Divulgação] Orgulho O vaidoso e arrogante sentimento de orgulho tem sido chamado de o mais mortífero dentre os sete pecados mortais. No entanto, o orgulho também pode ser nobre. Todos nós conhecemos a sensação de realização e autoestima que surge quando nos saímos bem em alguma coisa, seja conseguir uma promoção, construir algo, ganhar uma corrida ou descobrir uma solução em um jogo de palavras cruzadas. É por isso que Jessica Tracy, da Universidade da Columbia Britânica, no Canadá, uma das poucas psicólogas que trabalham com o orgulho, faz a distinção entre o que ela chama de "orgulho arrogante" e "orgulho autêntico". O orgulho pode se manifestar de duas maneiras diferentes, mas não podemos diferenciá-las a partir da expressão facial ou corporal. Os dois tipos fazem as pessoas inclinarem a cabeça para trás, estender os braços, afastando-os do corpo e tentar olhar tão amplamente quanto possível. Como Charles Darwin destacou em seu livro A Expressão das Emoções nos Homens e nos Animais, uma pessoa orgulhosa parece "inchada". Portanto, há uma característica visual do orgulhoso. Mas, ao contrário das emoções básicas, a face desempenha um papel pequeno, com um leve sorriso. O orgulho também difere das Seis Grandes por ser uma emoção "autoconsciente". Como a vergonha, a culpa e o embaraço, o orgulho exige um sentido de autonomia e a capacidade de se autoavaliar. "A fim de experimentar o orgulho," explica Tracy, "eu preciso pensar em quem eu sou, quem eu quero ser e como o evento que acabou de acontecer se reflete sobre mim e sobre minhas ambições." Então, qual é o objetivo do orgulho e por que temos dois orgulhos diferentes mas que têm a mesma aparência? Em geral, quando as pessoas veem uma expressão de orgulho elas a associam com um status elevado. Assim, o orgulho nos motiva a fazer bem as coisas para para ganharmos respeito. Há duas maneiras distintas ganhar prestígio e respeito, o que talvez explique as duas facetas do orgulho. O status pode assumir duas formas, explica o antropólogo Joe Henrich, também da Universidade da Columbia Britânica. A primeira é baseada na dominação e é comumente vista em primatas não-humanos, onde os indivíduos maiores e mais fortes são reverenciados porque poderiam ferir ou matar os outros. Os equivalentes humanos incluem o bullying e os chefes ditadores. O segundo tipo de status é o prestígio. Neste caso, o respeito e o poder são obtidos através do conhecimento ou da habilidade. "Isso se encaixa nos dois tipos de orgulho," diz Tracy. "Um está associado à agressividade e ao excesso de confiança, enquanto o outro motiva a realização, o trabalho duro e o comportamento altruísta." Confusão A confusão é difícil de descrever. É um sentimento que todos já experimentamos, seja em um teatro, numa galeria de arte ou vagando meio perdido em uma cidade desconhecida. Dacher Keltner, da Universidade da Califórnia, sugere que confusão é a "sensação de que o ambiente está dando informações insuficientes ou contraditórias". Mas seria a confusão realmente uma emoção? Para alguns psicólogos, a ideia é escandalosa. No entanto, Paul Silvia acha que a confusão deve ser entendida como uma emoção básica simplesmente porque ela é tão fácil de detectar. As sobrancelhas franzem, os olhos semicerram-se, os lábios se apertam - você reconhece a confusão quando a vê. De fato, um estudo descobriu que esta é a segunda expressão mais reconhecível no dia a dia, sendo superada apenas pela alegria. Mas para o que serve a confusão? É uma emoção baseada no conhecimento, na mesma "família" do interesse e da surpresa, diz Paul. Ele acredita que a confusão é a maneira do nosso cérebro nos dizer que a forma como estamos encarando as coisas não está funcionando, que o nosso modelo mental do mundo é falho ou inadequado. Algumas vezes isso nos fará bater em retirada, mas também pode nos motivar a mudar a nossa atenção ou mudar a nossa estratégia de aprendizagem, diz ele. Uma ideia relacionada é que uma expressão facial de confusão emite um alerta para que outras pessoas possam ajudar a pessoa confusa. Se for assim, a confusão serve para trazer novos conhecimentos e incentivar as relações sociais, tornando-a, talvez, a emoção perfeita para o século 21. Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br URL: A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos. |