28/08/2023 Como nossas características individuais influenciam nossa criatividadeRedação do Diário da Saúde
Representação abstrata da criatividade.[Imagem: Paris Brain Institute]
Por que ser criativo? O que nos leva a desenvolver novas ideias em vez de nos contentarmos com métodos e processos já conhecidos e padronizados? O que desencadeia o desejo de inovar, correndo o risco de sacrificar tempo, energia e reputação em um fracasso? A criatividade é baseada em mecanismos complexos que apenas começamos a compreender, e nos quais a motivação desempenha um papel central. Mas perseguir um objetivo não é razão suficiente para explicar por que favorecemos algumas ideias em detrimento de outras e se essa escolha beneficia o sucesso das nossas ações. "A criatividade pode ser definida como a capacidade de produzir ideias originais e relevantes num determinado contexto, para resolver um problema ou melhorar uma situação. É uma habilidade fundamental para se adaptar à mudança ou provocá-la," explica a professora Alizée Lopez-Persem, do Instituto do Cérebro de Paris (França). "Nossa equipe está interessada nos mecanismos cognitivos que permitem a produção de ideias criativas, na esperança de aprender como usá-los com sabedoria." Medição objetiva da criatividade Atualmente, os pesquisadores concordam que o processo criativo consiste em duas fases sucessivas: A geração de novas ideias e a avaliação do seu potencial. Mas a ciência ainda não sabe como é feita essa avaliação e o que nos leva a reter algumas ideias em vez de outras. "Precisamos pesar nossas ideias para selecionar as melhores," comenta Lopez-Persem. "No entanto, não há indicação de que esta operação corresponda a uma avaliação racional e objetiva, em que tentamos inibir nossos vieses cognitivos para fazer a melhor escolha possível. Quisemos, portanto, saber como é atribuído esse valor e se isso depende de características individuais." Modelar o processo criativo como uma sequência de operações envolvendo diferentes redes cerebrais não se parece em nada com a concepção popular de criatividade, que geralmente é representada como um impulso que nos apodera, nos transporta e nos ultrapassa. Pelo contrário, a equipe acredita que a criatividade tem três dimensões fundamentais que podem ser modeladas através de ferramentas matemáticas: Exploração, que se baseia no conhecimento pessoal e permite imaginar opções possíveis; Avaliação, que consiste em aferir as qualidades de uma ideia; e Seleção, que nos permite escolher o conceito que será verbalizado. Os pesquisadores então modelaram tudo isso no computador e compararam os resultados com o comportamento real de voluntários recrutados para o experimento. "Nossos resultados indicam que a avaliação subjetiva de ideias desempenha um papel importante na criatividade," detalha a pesquisadora Emmanuelle Volle, membro da equipe. "Observamos uma relação entre a velocidade de produção de novas ideias e o nível de avaliação dessas ideias pelos participantes. Em outras palavras, quanto mais você gosta da ideia que vai formular, mais rápido você a expressa. Imagine, por exemplo, um cozinheiro que pretende fazer um molho: Quanto mais a combinação de sabores o seduz em sua mente, mais rápido ele se jogará nos ingredientes! Nossa outra descoberta é que esta avaliação combina dois critérios subjetivos: Originalidade e relevância." A criatividade humana já tem um concorrente: A inteligência artificial. [Imagem: Alexandra_Koch/Pixabay] Preferências individuais que promovem a criatividade O estudo também mostrou que a importância desses dois critérios (originalidade e relevância) varia entre os indivíduos. "Tudo depende da experiência, da personalidade e provavelmente do ambiente," acrescenta Emmanuelle. "Alguns privilegiam a originalidade de uma ideia em detrimento da sua relevância; para outros é o contrário. No entanto, preferir ou a originalidade ou a relevância tem um papel no pensamento criativo: Demonstramos que indivíduos inclinados a ideias originais sugerem conceitos mais inventivos." Finalmente, o modelo de criatividade desenvolvido pela equipe previu a velocidade e a qualidade das propostas criativas dos participantes com base nas suas preferências medidas numa tarefa independente. Estes resultados destacam uma natureza "mecânica" para o impulso criativo; com isto, eles apontam para a possibilidade futura de descrever com precisão os mecanismos da criatividade no nível neurocomputacional, e correlacioná-los com o seu substrato neural. Isso contestaria a noção mais comum de que o pensamento criativo é um processo misterioso sobre o qual não temos controle. Mas serão necessárias muito mais pesquisas para chegarmos até lá. Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br URL: A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos. |