06/08/2021

É possível pensar sem ter um cérebro?

Redação do Diário da Saúde
É possível pensar sem ter um cérebro?
Bastou colocar um recipiente maior ao lado para que o fungo decidisse crescer em sua direção. [Imagem: Nirosha Murugan]

Inteligência sem cérebro

Se você não tivesse um cérebro, ainda poderia descobrir onde está e andar pelo ambiente?

Com base em novas pesquisas sobre fungos (protistas), a resposta pode ser "sim".

Cientistas das universidades de Harvard e Tufts (EUA) descobriram que um bolor limoso chamado Physarum polycephalum, que não tem cérebro, usa seu corpo para detectar sinais mecânicos em seu ambiente circundante.

Mais do que isso, o fungo realiza cálculos semelhantes ao que chamamos de "pensamento" para decidir em que direção crescer com base nas informações que coleta pelos sinais mecânicos, afirmam os cientistas.

Ao contrário de estudos anteriores com o Physarum, esses resultados foram obtidos sem dar ao organismo qualquer alimento ou sinais químicos para influenciar seu comportamento.

"Com a maioria dos animais, não podemos ver o que está mudando dentro do cérebro enquanto o animal toma decisões. O Physarum oferece uma oportunidade científica realmente empolgante porque podemos observar suas decisões sobre para onde se mover em tempo real, observando como seu comportamento e movimento mudam," disse a pesquisadora Nirosha Murugan.

Decidindo para onde crescer

Os pesquisadores colocaram espécimes de Physarum no centro de placas de Petri revestidas com um gel de ágar semiflexível e colocaram pequenos discos de vidro lado sobre o gel, em lados opostos de cada placa (um de um lado e três do outro). Eles então permitiram que os organismos crescessem livremente no escuro ao longo de 24 horas e rastrearam seus padrões de crescimento.

Durante as primeiras 12 a 14 horas, o Physarum cresceu uniformemente em todas as direções; depois disso, no entanto, os espécimes estendiam um longo ramo que crescia diretamente sobre a superfície do gel em direção à região dos três discos - e eles faziam isso 70% do tempo.

Curiosamente, o Physarum escolheu crescer em direção à massa maior sem ter antes explorado fisicamente a área para confirmar que realmente se tratava de um objeto maior.

Como ele realizou essa exploração dos seus arredores antes de ir fisicamente para lá?

É possível pensar sem ter um cérebro?
O fungo descobriu sozinho onde havia mais apoio, mesmo antes de qualquer um de seus tentáculos ter chegado lá.
[Imagem: Nirosha Murugan]

Forma, comportamento e inteligência

Os pesquisadores experimentaram várias variáveis para ver como elas afetariam as decisões de crescimento do Physarum e notaram algo incomum: Quando eles empilhavam os mesmos três discos, em vez de deixá-los lado a lado, o organismo parecia perder sua capacidade de distinguir entre os três discos e o disco único onde se encontrava. Ele cresceu em ambos os lados do prato em taxas aproximadamente iguais, apesar do fato de que os três discos empilhados ainda tinham uma massa maior.

Claramente, o fungo estava usando outro fator além da massa para decidir para onde crescer. A equipe demonstrou que essa criatura sem cérebro não estava simplesmente crescendo em direção à coisa mais pesada que podia sentir - ela estava tomando uma decisão calculada sobre onde crescer com base nos padrões relativos de tensionamento detectados em seu ambiente.

Mas como ele detectou esses padrões de deformação? Os cientistas suspeitam que isso tenha a ver com a capacidade do Physarum de se contrair ritmicamente, apoiando-se sobre seu substrato, porque a pulsação e a detecção das mudanças resultantes na deformação do substrato permitem que o organismo obtenha informações sobre seus arredores.

"Nossa descoberta do uso da biomecânica desse bolor limoso para sondar e reagir ao ambiente circundante ressalta o quão cedo essa capacidade evoluiu nos organismos vivos, e como a inteligência, o comportamento e a morfogênese estão intimamente relacionados. Neste organismo, que cresce para interagir com o mundo, sua mudança de formato é o seu comportamento.

"Outra pesquisa já havia mostrado que estratégias semelhantes são usadas por células em animais mais complexos, incluindo neurônios, células-tronco e células cancerosas. Este trabalho com o Physarum oferece um novo modelo para explorar os modos como a evolução usa a física para implementar a cognição primitiva que impulsiona a forma e a função," disse o professor Mike Levin.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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