05/05/2012

Exames intermináveis não trazem saúde eterna

Redação do Diário da Saúde

Exames demais

Nada menos do que nove importantes associações de medicina especializada nos EUA endossaram uma lista de 45 exames e procedimentos que frequentemente não oferecem benefícios claros aos pacientes - mas podem causar malefícios a esses mesmos pacientes ou transformar pessoas saudáveis em pacientes.

Não é sempre que vemos médicos defenderem menos exames e procedimentos, afirma uma extensa reportagem sobre o assunto, publicada pelo jornal New York Times, com o título "Exames intermináveis não trazem saúde eterna".

Assinado por dois médicos - Lisa M. Schwartz e Steven Woloshin - o artigo documenta uma tendência crescente de manifestação de uma parte da classe médica contra o exagero das recomendações de exames e avaliações, com o argumento de que é melhor prevenir do que remediar.

Verdade sem fundamento

Muitos exames têm sido recomendados de forma exagerada, com exagero de seus benefícios e desconsideração total dos seus riscos.

Um exemplo típico, cita o artigo, são os exames de detecção de câncer.

Há décadas, é quase impossível assistir televisão, ler revistas ou usar o transporte público sem encontrar anúncios insistindo em mamografias regulares, colonoscopias ou exames de prevenção contra o câncer de próstata.

Essas mensagens têm um efeito profundo: hoje o público acredita piamente na noção de que as pessoas devem se submeter rotineiramente a exames mesmo sem ter qualquer sintoma de câncer.

O público acredita que o rastreamento para o câncer - apenas por precaução, sem qualquer sintoma - é sempre uma boa ideia, e que a descoberta precoce do câncer salva vidas na maior parte das vezes.

A lógica subjacente parece cristalina: quanto mais cedo os cânceres forem diagnosticados, mais vidas serão salvas, certo?

"Sem assim fosse, com exames suficientes nós poderíamos acabar com o câncer," afirmam os especialistas.

Sobrediagnósticos

Mas identificar o câncer no começo não é suficiente. Para reduzir as mortes por câncer, os tratamentos precisam funcionar - e eles nem sempre funcionam.

Segundo, o tratamento precisa funcionar melhor quando iniciado mais cedo. Mas, para alguns cânceres, o tratamento tardio funciona da mesma forma.

E alguns dos piores cânceres não são detectados em exames preventivos. Eles surgem repentinamente, entre os exames regulares, e são difíceis de tratar porque são agressivos demais.

E há o outro lado: os exames não são perfeitos, e costumam dar muitos falsos positivos.

Esses alarmes falsos são impactantes porque os exames posteriores necessários para descartar o câncer podem ser dolorosos, arriscados, assustadores e caros. Sem contar os danos psicológicos para o saudável paciente e sua família.

E não apenas isso: muitos cânceres diagnosticados nunca causariam nenhum problema à pessoa.

Alguns cânceres crescem tão lentamente que nunca chegarão a causar sintomas durante o tempo de vida de uma pessoa. Quando os exames encontram esse tipo de câncer, as pessoas são desnecessariamente transformadas em pacientes.

Como não existe uma maneira confiável de saber se um câncer detectado durante um exame preventivo representa um sobrediagnóstico, a maioria das pessoas vai em busca do tratamento.

E as pessoas que recebem um sobrediagnóstico podem ser prejudicadas - muitas vezes seriamente - por cirurgias desnecessárias, radiação e quimioterapia.

Embora seja difícil estimar precisamente o número de sobrediagnósticos que acontecem na prática, a maioria dos especialistas concorda que eles são uma consequência inevitável dos exames regulares.

Dilema

"A questão fundamental é que, embora os exames preventivos podem ajudar algumas pessoas a evitar a morte por câncer, eles vão prejudicar muitas outras. Nós convivemos com esse dilema como pessoas e como médicos. Todos nós queremos evitar morrer de câncer, mas ninguém quer se tornar um paciente com câncer desnecessariamente," afirmam os especialistas.

Eles citam o caso dos exames preventivos do câncer de próstata, afirmando, como várias entidades médicas do mundo todo já o fizeram, que "os danos causados pela prática superam os benefícios, que atualmente são incertos".

O mesmo ocorre com os exames preventivos do câncer de mama.

"O que há são sobrediagnósticos consideráveis - chegando a 10 diagnósticos desnecessários para cada morte evitada. Em vez de persuadir as mulheres a realizar exames regulares, deveríamos ajudá-las a se informar," afirmam.

"Essa é a nossa avaliação. Mas o mais importante é que você tenha sua própria opinião. Discuta com seu médico sobre seus riscos; pergunte sobre os benefícios potenciais e sobre os riscos dos exames regulares. Algumas vezes você dirá sim aos exames. Mas está cada vez mais claro que frequentemente não haverá problema em dizer não," concluem os especialistas.

Ponderações

Além dos dois médicos que assinam o artigo, e dos milhares de associados das nove associações de medicina especializada que assinam os documentos citados, vários outros médicos e cientistas têm alertado para a venda excessiva de exames e de uma segurança ilusória que eles proporcionariam.

Veja abaixo algumas reportagens recentes sobre o assunto, cobrindo os dois tipos de câncer citados nesta reportagem, de mama e de próstata.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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