26/09/2022

Não é só falar com as mãos - Você também pensa com as mãos

Redação do Diário da Saúde
Falar com as mãos? Você também pensa com elas
Quando perguntados sobre qual palavra representava o objeto maior, os participantes responderam mais rápido quando as mãos estavam livres (esquerda) do que quando as mãos estavam contidas (direita).[Imagem: Makioka/Osaka Metropolitan University]

Cognição incorporada

O fenômeno do falar com as mãos - não parar de gesticular enquanto se fala - é muito comum, e tem sido bem estudado.

Sae Onishi e colegas da Universidade Metropolitana de Osaka (Japão) queriam saber se gesticular também afeta o modo como pensamos.

E a resposta é sim.

Onishi explica que essa ideia de uma conexão entre gestos e fala ou gestos e pensamentos é conhecida como cognição incorporada, e tem a a ver com a forma como entendemos as palavras.

As palavras são expressas em relação a outras palavras; um "copo", por exemplo, pode ser um "recipiente, feito de vidro, usado para beber". No entanto, você só consegue usar adequadamente um copo se entender que, para beber de um copo com água, você o segura na mão e o leva à boca, ou que, se você deixar o copo cair, ele se espatifará no chão.

E isso tem um largo impacto em muitas pesquisas. Por exemplo, sem entender isso, é difícil criar um robô capaz de lidar com um copo real - na inteligência artificial, esses problemas são conhecidos como "problemas de aterramento de símbolos", que mapeiam símbolos no mundo real.

E como os humanos conseguem fazer o aterramento simbólico? É aqui que a psicologia cognitiva e a ciência cognitiva propõem o conceito de cognição incorporada, onde os objetos recebem significado por meio de interações com o corpo e com o ambiente.

Falar com as mãos? Você também pensa com elas
Outras pesquisas demonstraram que os gestos de quem fala moldam o que as pessoas ouvem ele falar.
[Imagem: Robin Higgins/Pixabay]

Pensar com as mãos presas

Para testar a cognição incorporada, os pesquisadores realizaram experimentos para ver como os cérebros dos participantes respondiam a palavras que descrevem objetos que podem ser manipulados com as mãos. Para isso, eles repetiram os experimentos com os voluntários tendo as mãos livres e quando suas mãos estavam presas.

Nos experimentos, duplas de palavras - como "copo" e "vassoura" - foram apresentadas em uma tela aos participantes, que deviam então comparar os tamanhos relativos dos objetos que essas palavras representavam e responder verbalmente qual objeto era maior - neste caso, "vassoura". Foram feitas comparações entre as palavras, descrevendo dois tipos de objetos, objetos manipuláveis à mão e objetos não manipuláveis - como "prédio" ou "poste" - para observar como cada tipo de cognição era processada.

A cognição é determinante neste caso porque, para responder qual palavra representava um objeto maior, os participantes precisavam pensar nos dois objetos e comparar seus tamanhos, o que os obrigava a processar o significado de cada palavra.

A atividade cerebral foi medida com espectroscopia funcional no infravermelho próximo (fNIRS), que tem a vantagem de fazer medições sem impor mais restrições físicas. A velocidade da resposta verbal foi medida para determinar a rapidez com que cada participante respondia após as palavras aparecerem na tela.

Pensar com as mãos

Os resultados mostraram que a atividade da metade esquerda do cérebro foi significativamente reduzida quando as mãos estavam presas e a questão envolvia objetos manipuláveis com as mãos. As respostas verbais também foram afetadas pelas restrições ao movimento das mãos.

Ou seja, assim como o falar com as mãos, o pensar com as mãos também é um fenômeno real.

Isso indica que restringir o movimento das mãos afeta o processamento do significado do objeto, o que dá suporte à ideia de cognição incorporada.

Os resultados sugerem ainda que a ideia de cognição incorporada pode ser eficaz para a inteligência artificial aprender o significado dos objetos.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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