11/07/2011

Empresas farmacêuticas pesquisam menos e descobrem menos medicamentos novos

Guilherme Gorgulho - Inova Unicamp

De olho no lucro

A indústria farmacêutica reduziu os investimentos globais em P&D (pesquisa e desenvolvimento) e alcançou em 2010 o menor nível de aprovação de novas drogas em uma década, informa um estudo do grupo de mídia Thomson Reuters.

No ano passado, os gastos com a descoberta e o desenvolvimento de novas drogas caíram 3% em relação a 2009, totalizando US$ 68 bilhões. Em 2008 e 2009, o dispêndio anual das empresas do setor foi de US$ 70 bilhões.

A principal razão apontada para o decréscimo é o retorno abaixo do esperado na produtividade das pesquisas.

O documento anual "2011 Pharmaceutical R&D Factbook", divulgado em 27 de junho, é baseado em levantamento feito com grandes empresas responsáveis por cerca de 80% dos dispêndios mundiais de P&D no setor.

O estudo revela que em 2010 a indústria obteve a aprovação de apenas 21 novas moléculas, contra 26 autorizadas no ano anterior.

As perspectivas para os próximos três anos para os lucros do setor são ruins, já que mais de 110 patentes de drogas devem expirar no mercado dos Estados Unidos no período, o que inclui 14 sucessos de vendas, os chamados blockbusters.

Fracassos em testes clínicos

Segundo a Thomson Reuters, há um crescente declínio na taxa de sucesso de drogas. Entre 2008 e 2010, 55 pesquisas de novos medicamentos foram encerradas na fase 3 dos testes clínicos, mais que o dobro da taxa de insucesso registrada entre 2005 e 2007, quando 26 testes com moléculas inovadoras foram abandonados por baixo nível de segurança ou pouca eficiência.

Além disso, o volume de drogas que entraram na fase 3 caiu 55% em 2010. Entre as drogas que avançaram em testes para as fases 1 e 2, houve uma queda de 47% e 53%, respectivamente, no mesmo período. Os resultados demonstram a dificuldade das farmacêuticas em desenvolver moléculas que tenham desempenho superior ao das drogas disponíveis no mercado atualmente.

Em entrevista ao jornal britânico The Telegraph, Hans Poulsen, consultor chefe de Ciências da Vida da Thomson Reuters, fez uma previsão sobre as consequências dessa tendência no setor farmacêutico. "A indústria continua lutando para ser capaz de avançar com novos medicamentos por meio do ciclo de desenvolvimento, então, há mais insucessos nas fases 2 e 3. Isso significa que deverá haver um atraso na substituição do lucro da indústria que está sendo perdido para os genéricos."

Mais êxito nos próprios laboratórios

Nos últimos anos tem sido cada vez mais comum a estratégia adotada por grandes empresas de procurar companhias de menor porte, principalmente de biotecnologia, para licenciar moléculas ou comprar direitos de novas drogas como forma de minimizar riscos de insucesso de pesquisas próprias.

No entanto, mostra o estudo, essa tática não vem se mostrando efetiva na prática, já que moléculas inovadoras originadas nos laboratórios das grandes farmacêuticas têm 20% mais de chance de chegar ao mercado, após superar a fase 3 e a aprovação dos órgãos de controle.

"Os altos índices de insucesso continuam a ser uma grande preocupação para a indústria e isso é agravado pela diminuição no número de novas moléculas. A estratégia das gigantes farmacêuticas de licenciar mais drogas de terceiros para desenvolvimento parece não estar tendo sucesso no momento. Um esforço antecipado para se livrar de fracos candidatos a drogas será útil para o desenvolvimento bem-sucedido do processo de colocação das drogas no mercado", afirmou o diretor de produtos da Thomson Reuters, Phil Miller, em comunicado à imprensa.

Avanço nas drogas contra câncer

Apesar do cenário negativo, a área terapêutica de oncologia foi uma das que mais cresceu no ano passado, respondendo por 26% do investimento total em P&D. O segundo setor que apresentou melhores resultados foi o de medicamentos para doenças do sistema nervoso, de acordo com o documento.

O levantamento mostrou também que, em 2010, as grandes farmacêuticas - definidas pelo estudo como aquelas que despendem ao menos US$ 2 bilhões por ano em P&D - registraram um recorde de vendas, alcançando a marca de US$ 856 bilhões. Desse resultado positivo, entretanto, apenas 5% são originários de vendas de produtos lançados nos últimos cinco anos.

O "Pharmaceutical R&D Factbook" mostra ainda que há um movimento de mudança geográfica dos estudos clínicos dos países da Europa Ocidental e da América do Norte para as economias emergentes - principalmente do sudeste da Ásia -, onde os custos são menores e há mais facilidade para recrutar voluntários.

Além disso, as agências reguladoras dos países mais desenvolvidos têm ampliado suas exigências para autorizar a realização dos testes clínicos, aponta o estudo.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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