08/12/2017

Foco no Aedes esquece determinantes sociais do zika

Com informações da Fiocruz
Foco no <i>Aedes</i> esquece determinantes sociais do zika
Nísia Trindade Lima e Gustavo Corrêa de Matta durante evento para discutir síndrome de zika.[Imagem: ABC/Divulgação]

Foco estreito

A epidemia do vírus zika no Brasil em 2016 teve determinantes sociais, como a desigualdade social e a ausência de saneamento básico, que correm o risco de ser invisibilizados caso o combate à doença foque-se exclusivamente no mosquito Aedes aegypti, afirmou a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima.

"A forma de enquadrarmos uma doença, tanto em termos conceituais, quanto de perspectiva de terapia, tem impactos relevantes no combate a essa mesma doença. Quando se associa o zika exclusivamente ao Aedes aegypti, nosso olhar é guiado para determinada direção, o que invisibiliza uma série de questões que pesquisas têm mostrado como relevantes", disse Nísia.

A pesquisadora ressaltou que a maioria das famílias afetadas pela epidemia de zika e suas consequências, das quais a microcefalia é apenas a mais conhecida, pertencem a classes sociais desfavorecidas, vivendo em situação de precariedade.

A presidente da Fundação exaltou a reação da comunidade científica ao desafio colocado pelo vírus zika, mas observou também haver um vácuo entre o "conhecimento científico e a resposta de políticas de saúde para a epidemia e suas consequências". Esta diferença, segundo ela, é recorrente no Brasil, onde "a resposta das políticas de saúde sempre esteve atrás do conhecimento científico".

Para ela, uma resposta à altura exigirá uma abordagem interdisciplinar, tanto do ponto de vista do desafio intelectual, quanto do desafio de saúde pública. Nesse sentido, o papel da Fiocruz, "por abrigar todas as áreas de saúde, da pesquisa biomédica à atenção da saúde, é imprescindível".

Movimentos sociais

Já o pesquisador da Ensp (Escola Nacional de Saúde Pública) Gustavo Corrêa de Matta afirmou que ignorar "condições de vida, como saneamento, acesso a água e condições ambientais não são fatores menores. Focar-se unicamente no mosquito reduz bastante o problema".

Ele também elogiou o papel de institutos de pesquisa que tiveram papel não só no aspecto científico, mas também de assistência. O pesquisador também disse que um aspecto louvável no combate ao zika foi a "organização e participação de movimentos sociais no auxílio às famílias afetadas, com muitas pessoas diretamente envolvidas assumindo papel ativo nas pesquisas".

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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