15/02/2021

Gestos de quem fala moldam o que ouvimos ele falar

Redação do Diário da Saúde
Gestos de quem fala moldam o que ouvimos ele falar
Várias pesquisas sobre o "falar com as mãos" comprovam que os outros não apenas veem, eles ouvem seus gestos.[Imagem: Robin Higgins/Pixabay]

Falar com as mãos

Quando os políticos se dirigem a uma audiência, eles normalmente destacam palavras importantes com gestos, por exemplo, movendo as mãos para cima e para baixo.

Na verdade, parece que todos nós fazemos isso: Esses movimentos de mãos estão entre os gestos mais comuns nas conversas do dia a dia.

E as pessoas alinham esses gestos com muita precisão às palavras que acham mais importantes em sua fala.

Mas será que esses gestos ajudam os ouvintes a entender quem fala e realmente reforçam a mensagem?

"Na comunicação face a face, a linguagem envolve muito mais do que apenas a fala," explica o professor Hans Bosker, da Universidade Radboud (Países Baixos). "Os palestrantes fazem uso de diferentes canais (boca, mãos e rosto) para transmitir uma mensagem. Queremos entender como os ouvintes usam esses diferentes fluxos de informação quando estão ouvindo alguém."

Em uma ilusão bem conhecida dos especialistas, chamada "efeito McGurk", as pessoas ouvem um som (como o 'b' em 'ba') como um som diferente (por exemplo 'pa' ou 'fa'), dependendo dos movimentos labiais que veem.

O que a equipe do professor Bosker queria descobrir é se haveria também um efeito McGurk manual: O que ouvimos depende dos gestos que vemos?

Platão ou platô?

Para investigar essa questão, os pesquisadores escolheram um conjunto de palavras - na língua holandesa - que diferiam apenas no padrão de ênfase. Por exemplo, a palavra "PLAto" - com ênfase na primeira sílaba - refere-se ao filósofo Platão da Grécia antiga. No entanto, "plaTO", pronunciado com ênfase na segunda sílaba, refere-se a um platô, uma forma de relevo equivalente a um pequeno planalto.

Os voluntários assistiram a um vídeo em que o próprio professor Bosker dizia as palavras com ênfase ambígua, ao mesmo tempo em que fazia gestos de ênfase: "Agora eu digo a palavra ... plato"). Os participantes então tinham decidir se tinham ouvido PLAto ou plaTO?.

Os ouvintes mostraram-se mais propensos a ouvir a ênfase em uma sílaba se houvesse um gesto acompanhando a sílaba - mesmo que a mudança na tonicidade altere completamente o sentido da palavra.

Este agora confirmado "efeito McGurk manual" ocorreu tanto para palavras conhecidas como para termos sem sentido ("BAAGpif" versus "baagPIF"). Ainda mais surpreendente, os gestos influenciaram o que as pessoas ouviram ('a' longo ou curto em 'baagpif/bagpif'), já que o comprimento de uma vogal é tipicamente associado ao padrão tônico de uma palavra.

"Os ouvintes ouvem não apenas com os ouvidos, mas também com os olhos," resumiu Bosker. "Essas descobertas são as primeiras a mostrar que os gestos influenciam os sons da fala que você ouve."

Bosker e seu colega David Peeters acreditam que o efeito dos gestos pode ser ainda maior na vida real, quando a fala é menos clara do que no laboratório. Em condições de audição barulhentas, gestos podem ser ainda mais importantes para uma comunicação bem-sucedida.

"Portanto, lave as mãos e use-as," brincou Bosker.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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