11/01/2019

HTLV-1, o vírus pouco conhecido que afeta 800 mil brasileiros

Com informações da BBC
HTLV-1, o vírus pouco conhecido que afeta 800 mil brasileiros
Distribuição geográfica dos casos registrados de infecção por HTLV-1.[Imagem: A.Gessain/O. Cassar (2012)]

Paraparesia

A paraparesia espástica tropical é uma doença pouco conhecida que, ao longo do tempo, vai paralisando e incapacitando seus portadores.

Ela é causada por um vírus também pouco famoso, o vírus linfotrópico de células-T humanas (HTLV-1, da sigla em inglês para human T-cell lymphotropic vírus).

O Brasil é um dos campeões mundiais em número absoluto de portadores, com pelo menos 800 mil pessoas infectadas - número que pode chegar a 2,5 milhões, dependendo de quem faz a estimativa. No mundo, estima-se algo entre 10 e 15 milhões de portadores.

O HTLV-1 faz parte da família dos retrovírus humanos (Retroviridae), a mesma do seu primo mais popular, o HIV, causador da AIDS - o HTLV-1 foi o primeiro desse grupo a ser descoberto, em 1980.

"Ele se integra no nosso DNA e pode ser transmitido," explica Jorge Casseb, professor do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP).

Sintomas e consequências

Normalmente, o HTLV-1 fica em repouso, integrado ao DNA dos seus portadores.

Mas, em 5 a 10% das pessoas infectadas, ele pode causar duas doenças: a própria mielopatia associada ao HTLV-1 ou paraparesia espástica tropical (HAM/TSP, do nome em inglês HTLV-1-associated mielopathy/tropical spastic paraparesis), e a leucemia linfoma de células T adultas (ATLL - adult T-cell leukemia/lymphoma), um tipo de câncer do sangue bastante agressivo, que leva o paciente à morte em dois anos em média.

"Com o tempo, o paciente pode ficar incapacitado de andar," explica Adele Caterino de Araújo, do Instituto Adolfo Lutz. Ao longo do tempo, podem surgir sintomas como lombalgia (dor lombar), fadiga, disfunção urinária e sexual (disfunção erétil, perda da libido), cãibras, constipação intestinal, mialgia (dor muscular), além de uveítes (inflamação nos olhos), dermatites e de ordem emocional, como ansiedade e depressão."

Segundo Adele, o HTLV-1 age infectando preferencialmente os linfócitos T CD4+ (principais células do sistema imunológico) e nelas pode permanecer inserido em seu DNA na forma de provírus (estado latente em que se encontra o RNA do retrovírus após ter sido incorporado ao DNA da célula hospedeira).

"Ele necessita de contato célula a célula para a sua propagação, de tal modo que a transmissão por partículas livres no sangue é praticamente inexistente ou ineficiente," explica. "Como a carga proviral de HTLV-1 é baixa, a proliferação das células infectadas é que promove a disseminação do vírus no organismo."

Isso pode demorar a ocorrer: O tempo médio estimado entre a infecção por HTLV-1 e o desenvolvimento de uma doença é longo e geralmente ocorre por volta da quarta década de vida, podendo o indivíduo infectado permanecer apenas como portador assintomático.

Apesar desses números e dos problemas que causa às pessoas que desenvolvem doenças, o HTLV-1 recebe pouca atenção no Brasil e mesmo no mundo. Os médicos e pesquisadores que trabalham com ele reclamam da falta de estrutura e da ausência de ações específicas contra o vírus. Não existe um programa nacional para tentar controlá-lo ou erradicá-lo.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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